A Influência da Civilização Islâmica Sobre a Europa no Ramo Científico
Dr Ragheb Elsergany
Traducão: Sh Ahmad Mazloum
O impacto dos muçulmanos sobre o Ocidente no campo das ciências, incluindo a medicina, farmacologia, matemática, química, óptica, geografia, astronomia e outras matérias, foi uma das melhores manifestações da influência sobre a civilização européia. Muitos ocidentais imparciais admitiram que os muçulmanos continuaram a ser os professores da Europa nada menos que 600 anos.
A tradução de livros científicos islâmicos
Uma das manifestações deste impacto foi a tradução dos livros escritos por cientistas muçulmanos mais de uma vez e a sua adoção como fontes básicas e livros de referência principal por muitos séculos para o ensino nas universidades ocidentais. Por exemplo, quando a medicina atingiu seu auge entre os muçulmanos, a igreja européia proibia o tratamento porque a doença é “um castigo de Deus”! Eles conheceram sobre a medicina e o tratamento posteriormente, através da tradução dos livros escritos por Ibn Sina, Al-Razi e outros. Foram traduzidos, por exemplo, o livro Al-Qanun fi Al-Tibb (A lei da medicina), escrito por Ibn Sina, no século XII. O livro foi publicado várias vezes e foi a base dos estudos em universidades francesas e italianas![1]
O boletim da UNESCO de 1980 mencionou que o livro “Al-Qanun fi Al-Tibb”, de Ibn Sina, continuou sendo lecionado na Universidade de Bruxelas até 1909. O artigo cita um comentário do escritor Osler[2], no qual ele disse: “O livro de Al-Qanun continuou a ser uma referência única na medicina, por um período mais longo do que qualquer outro livro. Foi publicado 15 vezes nos últimos 30 anos do século XV. Osler acrescentou: “Ibn Sina propiciou aos cientistas ocidentais o início da revolução científica no campo da medicina, que na verdade começou no século XIII e atingiu o seu palco principal, no século XVII.[3]
Assim como Al-Qanun, o livro “Al-Hawi” e “Al-Mansuri”, escritos por Al-Razi, foram traduzidos no final do século XIII. Em reconhecimento às suas contribuições, a Universidade de Princeton (nos EUA) denominou a sua maior ala como o nome de Al-Razi. Além disso, o trabalho de investigação feito por Abu Al-Rayhan Al-Bayruni sobre o peso qualitativo teve um impacto importante sobre a civilização ocidental. E Al-Khazini foi uma chave científica para Torricelli nas pesquisas sobre o peso e a condensação do ar e a pressão que ela causa. Al-Khazini inventou um barômetro para pesar a matéria no ar e na água, que a Europa continuou a usar até a Idade Média. A Europa também usou a escala exata dos muçulmanos no campo de peso qualitativo, peso do ar, aparelhos de elevação e gravitação.
O livro de Al-Khazini intitulado “Mizan al-Hikmah” (Escala da Sabedoria) beneficiou os estudiosos ocidentais em grande medida, uma vez que foi traduzido do árabe para várias línguas diferentes. Também foram traduzidos os livros de Jabir ibn Hayyan, al-Hassan ibn al-Haytham e Al-Khawarizmi e continuaram a ser uma referência para a Europa durante séculos!
O famoso orientalista Sedillot diz: “Se olharmos para o que os latinos tinham copiado dos árabes no início, vamos descobrir que Gerbert, que mais tarde se tornou o Papa Silvestre II, nos trouxe as ciências matemáticas que ele estudou na Andaluzia entre (359 dH / 970 dC) e (369 dH / 980 dC). Além disso, o autor britânico O. Hallard percorreu a Andaluzia e o Egito entre (493 dH / 1100 dC) e (522 dH/1128 dC) e traduziu do árabe “Al-Arkan” de Euclides, que até então era desconhecido para o Ocidente. Platão de Tivoli traduziu do árabe “Al-Ukar”, escrito por Teodósio. Rudolf Brugie traduziu do árabe o livro de Ptolomeu “Geografia da Terra habitada”. Leonardo de Pisa escreveu em cerca de (596 dH/1200 dC), um tratado de Álgebra, que ele tinha adquirido de seus mestres árabes. Johannes Campanus foi o autor de uma ótima tradução do texto árabe do livro de Euclides e o explicou no século XIII. Além disso, o polonês Witelo traduziu o livro de Al-Hassan ibn Al Haitham “al-Basariyat” (A Óptica) nesse século. Gerard de Cremona propagou a verdadeira ciência astronômica naquele século, através de sua tradução do “Almagesto de Ptolomeu” e “Al-Sharh de Jabir” etc … E no ano (648 dH / 1250 dC), Afonso X de Castela ordenou a publicação do almanaque astronômico, que tomou o seu nome. Durante esta época, por um lado, Rogério I incentivou o estudo das ciências dos árabes na Sicília, em especial o livro de Al-Idrissi, por outro lado, o Imperador Frederico II, energicamente, incentivou o estudo das ciências árabes e seus modos. Os filhos de Ibn Rushd estavam sempre com este imperador na corte e ensinaram-no a história natural das plantas e dos animais[4].
É evidente da declaração de Sedillot que os muçulmanos não só transferiram suas ciências para os europeus, mas também fortemente ajudaram os europeus a conhecer a história dos seus antepassados gregos, que viveram completamente isolados deles. E assim, o impacto se manifestou em todos os tipos e áreas das ciências.
O impacto das indústrias islâmicas na Europa
No que se refere ao impacto dos engenhos islâmicos na Europa, que estavam relacionados com diversas ciências, havia a fabricação de papel, que se espalhou pelo mundo na época, graças aos muçulmanos. E se não fosse esta industrialização, as ciências não teriam se desenvolvido, o movimento de escrita não teria florescido, e a Europa não teria sido civilizada.
Os muçulmanos transportaram um número de prisioneiros chineses para Samarcanda em meados do século VIII gregoriano. Entre eles, estavam aqueles que eram hábeis na fabricação de papel. Em suas mãos, surgiu a indústria de papel e floresceu em Samarcanda. Em seguida, as melhorias foram sendo introduzidas nela, de maneira que o linho e o algodão se tornaram a matéria-prima desta indústria. Surgiu, então, o papel macio, que é o melhor tipo de papel. Como o papel de papiro era caro, houve uma alta demanda para o novo papel, de modo que o califa abássida Al-Mansur, que era conhecido por sua economia, ordenou os departamentos de seu Estado a não usarem o papel de papiro e utilizar apenas o papel comum por causa de seu preço mais baixo.[5]
As fábricas de papel se instalaram em Bagdá na era de Al-Rashid, depois em Damasco e Trípoli, e depois na Palestina e Egito. E a sua fabricação se transferiu para o Marrocos e de lá para a Sicília e para a Andaluzia, até que o Ocidente conheceu esta indústria, que foi de fato um dos pilares da cultura e da vida espiritual. Com isso, os muçulmanos marcaram o início de uma nova era em que a ciência não é mais monopólio de um determinado grupo de pessoas. Mais ainda, a ciência se tornou – como disse Sigrid Hunke – disponível para todos e um convite para todas as mentes para trabalhar e pensar.[6]
Turistas, visitantes, peregrinos, comerciantes e estudantes vinham de seus países na Europa para Barcelona e Valência, onde era produzido o papel macio, para retornar – como foi mencionado por Al-Idrissi – levando quantidades deste papel, do qual não existia, em absoluto, similar no mundo.[7]
Sigrid Hunke diz: A construção de usinas (fábricas de papel) é uma especialização árabe realizada pelos próprios árabes, que concederam para a Europa todos os tipos de moinhos aquáticos e pneumáticos.[8]
Além da indústria do papel, houve também a agulha magnética (bússola), que para alguns europeus, foi inventado pelo italiano Flavio Gioia. A este respeito, Sigrid responde dizendo que: “este italiano conheceu este aparelho através dos árabes (muçulmanos)”.[9]
“Os pesquisadores têm discordado quanto ao fato de os árabes terem sido os primeiros a usar a bússola ou a copiaram da China … Sedillot nega que os chineses usaram a bússola, embora até 1850 dC, eles ainda tinham a crença de que o pólo sul da Terra era um furioso incêndio. Ele enfatiza que os árabes (muçulmanos) foram os primeiros a utilizá-la, e foi apoiado por Sarton, que tinha a mesma opinião. Todos enfatizam que os árabes a usaram e que a Europa aprendeu sobre a bússola através dos árabes.”[10] E não há dúvida alguma sobre o impacto da bússola sobre a vida dos europeus em geral.
[1] Gustav Lobon: A Civilização Árabe, p 490.
[2] Sir William Osler, um médico canadense, considerado um dos maiores símbolos da medicina nos tempos modernos. Ele foi descrito como o pai da medicina moderna. Ele especializou-se na ciência da doença e foi um professor especialista em doenças, intelectual e historiador.
[3] boletim UNESCO, edição de outubro de 1980.
[4] Citando Mustafa Al-Siba’i: Min Rawa’i Hadaratina (Das maravilhas de nossa civilização) p 42.
[5] Sigrid Hunke: Shams Al-Arab, p 46 e Hany Al-Mubarak e Shawqi Abu Khalil: Daur Al-Hadhara Al-Arabyah Al-Islamyah Fi Al-Nahdah Al-Urubbiyah (O papel da civilização árabe islâmica no renascimento europeu), P 57.
[6] Idem p 46.
[7] Idem p 44.
[8] Idem p 45.
[9] Idem p 47.
[10] Anwar al-Rifa’i: Al-Insan Al-Arabi wal Hadarah (O homem árabe e a civilização), p 487.