Al Ijazah ... A Certificação, Primazia Islâmica e Imitação Ocidental
Dr. Ragueb El Serjani
Tradução: Sh. Ahmad Mazloum
A definição da certificação
A certificação é definida como a permissão de ensinar ou dar fatwa (sentença religiosa)[1]. E entre os estudiosos do hadith e outros estudiosos: é a permissão para transmitir um relato, um hadith ou um livro[2].
Os estudiosos muçulmanos desenvolveram um conjunto de critérios através dos quais quem procura o conhecimento passa num sistema de ensino se elevando até chegar ao posto de ensinar ou dar fatwa. Portanto a certificação foi o principal critério pelo qual um professor pode reconhecer que seu aluno era capaz de ensinar em um círculo ou uma seção independente das várias disciplinas do conhecimento.
O método de certificação
O método de certificação é representado na permissão de transmissão dos conhecimentos para os outros. O sheikh dá todos ou alguns de seus livros a um de seus discípulos ou a um sábio, confirmando-lhes que as escreveu com sua própria mão, e os informa o nome do sheikh através do qual ele registrou e recebeu esse conhecimento. Em seguida, o sheikh lhes permite dar aulas desses livros aos outros[3].
A certificação foi conhecida na civilização islâmica muito cedo e tinha como intuito inicialmente evitar confusão entre os ditos proféticos. Assim, os estudiosos do hadith desenvolveram o método de certificação ou permissão, como uma espécie de confiança mútua entre professores e alunos.
Na verdade, a certificação tem sido uma importante adição islâmica para o curso da civilização humana durante milhares de anos. É como o certificado autenticado que é obtido pelos alunos de hoje.
Por isso, todas as eras islâmicas, sem exceção, tiveram o sistema de certificação como pré-requisito importante para a nomeação de um estudioso em um posto sensível no Governo.
Ahmad ibn Hanbal certificou seu filho, Abdullah, para transmitir o hadith. O filho relatou cerca de trinta mil hadiths de Al-Musnad (livro de hadith) e cem mil hadiths em Tafsir (exegese do Alcorão)[4]. E o imam Muhammad ibn Shihab Al-Zuhri permitiu o imam Ibn Juraij[5] para transmitir hadith[6].
As mulheres na civilização islâmica tiveram o direito de aprender e ensinar. Elas eram iguais aos homens. Uma mulher não tinha permissão para ensinar a menos que ela tivesse sido certificada pelos sábios. E chama a atenção o fato de a mãe de leite do Imam Al-Zhahabi[7] e sua tia, Situl Al-Ahl bint Othman, obterem os certificados de Ibn Abu Al-Yusr, Jamal Al-Din ibn Malik, Zuhair ibn Omar Al-Zar’i, e outros estudiosos. Elas também ouviram aulas de Omar ibn Al-Qawwas e outros. E Al-Zhahabi narrou dos textos dela.[8]
Al Ijazah em todas as ciências
A certificação não se limita à ciência da religião, mas também inclui todas as ciências da vida. A certificação foi conhecida no ensino das ciências da medicina. O chefe dos médicos no século IV da hijrah, Sinan ibn Thabit[9], certificava quem fosse submetido a um teste de especialização para quem quisesse praticar qualquer ramo da medicina[10]. O fundador da escola Al-Dakhwariyyah em Damasco[11] Muhadhab Al Din Al-Dakhwar certificou o grande médico Ala Al-Din Ibn Al-Nafis, que depois de obter esse certificado pode trabalhar no maior hospital da época, Hospital Al-Nury, em Damasco. Al-Razy afirmou em seu livro Al-Hawi: "...O candidato à certificação médica é testado em anatomia primeiro. Se o candidato falhar, então você não precisa testá-lo com os pacientes".[12]
A certificação concedida pelos grandes sábios foi considerada motivo de orgulho para o aluno a ser lembrado por toda sua vida. Al-Qalqashandy colocou o texto do certificado que obteve do grande sábio de sua época, Siraj Al-Din ibn Al-Mulaqqin, na matéria de jurisprudência shafi`i em sua enciclopédia Subh Al-A’sha, ilustrando o seu amor e orgulho por esta certificação. Ela diz:
Nosso abençoado sheikh, mestre e erudito, o único do seu tempo em conhecimento e virtude, líder de juristas e dos piedosos, Siraj Al-Din Abu Hafs Omar orou a Deus e permitiu que ... Al-Qalqashandy ensine a escola de jurisprudência do Imam, o Mujtahid absoluto Abu Abdullah Muhammad ibn Idris Al-Muttaliby Al-Shafi`i (que Allah tenha misericórdia dele e faça do Paraíso sua morada) e leia o que quiser dentre os livros escritos sobre essa ciência e ensiná-los quando e onde desejar. Ele também é permitido dar fatwa (parecer religioso) oral e escrito de acordo com sua abençoada escola (mazhab) indicada acima, pois ele é qualificado e elegível para tal em virtude de sua confiabilidade e conhecimento profundo da religião ...".[13]
Assim, percebemos que al ijazah (sistema de certificação) foi uma primazia exclusiva islâmica no curso da humanidade, era conhecido nas dinastias islâmicas mais de dez séculos antes de ter sido adotada pelas maiores faculdades e universidades europeias. Isto demonstra a grandeza da civilização islâmica neste assunto, pois ela acrescentou um novo sistema de organização que tem sido adotado por todas as nações até os dias de hoje.
[1] Hashiyat Ibn `Abidin, 14/01.
[2] Ministério de Awqat egípcio: Enciclopédia Muçulmana, p 43.
[3] Karam Helmy Farhat: Patrimônio Científico da Civilização Islâmica na Síria e no Iraque durante o século IV Hijri, p 69.
[4] Ibn Kathir, Al Bidayah wa Al Nihayah (O Princípio e o Fim), 11/109.
[5] Ibn Juraij, Abdul Malik ibn Abdul Aziz ibn Juraij Al Rumy (70-150 d.H.), era um escravo liberto dos Omíadas. Um grande sábio, foi o primeiro a fazer as escrever sobre as temáticas do hadith. Veja: Al Safadi: Al Wafy bil Wafiyat (The Perfect em biografias), 19/119, 120 e veja também: Al Zirikli: Al Alam, 4 / 160.
[6] Al Zhahabi: Siyar `Alam Al Nubala, 6 / 332.
[7] Al Zhahabi, Abu Abdullah Shams Al Din Muhammad ibn Ahmad ibn `Uthman ibn Qaimaz (673-748 d.H./1274-1348 d.C.), um memorizador, erudito e historiador turcomenistão de origem. Ele nasceu e morreu em Damasco. Ele foi autor de cerca de uma centena de livros. Veja: Al Zirikli: Al Alam , 5 / 326
[8] Al Zhahabi: Siyar `Alam Al Nubala, 1-17.
[9] Sinan ibn Thabit, Abu Sa `id Sinan ibn Thabit ibn Qurrah Al Harrany (falecido em 331 d.H./943 d.C.), foi um médico e estudioso. Ele desfrutou de um status elevado na época do califa abássida Al Muqtadir, que o nomeou chefe dos médicos. Ele morreu em Bagdá. Veja: Al Safadi: Al Wafy bil Wafiyat, 5 / 152.
[10] Ibn Abu Usaibi `ah: Tabaqat Al Attiba, 2 / 204.
[11] Al Zhahabi: Tarikh Al Islam, 51/312.
[12] Al Razy: Al Hawy fi Al Tibb, 7 / 426.
[13] Al Qalqashandy: Subh Al Ash`a, 14/366, 367.