Surata الأنفال

PT: SŪRATU AL-ʼA NFĀL[647] (A SURA DOS ESPOLIOS DE GUERRA) De Al Madīna - 75 versículos.


(1) AI- Anfâl; plural de Nafal, que, etimologicamente, significa o que é a mais, o que excede. Posteriormente, passou a denominar os espólios de guerra, obtidos do inimigo pelos soldados vitoriosos, já que estes espólios são algo recebido além do alvo principal na luta pela causa de Deus, ou seja, a defesa da nação e a pregação do Islão. Esta sura, assim, se denomina, pela menção de palavra anfal no primeiro versículo. Nela, trata-se da estratégia militar e das legislações que devem ser aplicadas em tempo de guerra, além das orientações que os crentes devem seguir, de um lado, entre eles, e, de outro, entre os inimigos. Destarte, esta sura é iniciada pela solução do problema da partilha de espólios, surgido na batalha de Badr, a primeira entre os moslimes e os idólatras, e ocorrida no segundo ano da Hégira. Por duas vezes ao ano, havia de Makkah para a Síria, e desta para aquela, caravanas que empreendiam comércio nessas regiões. Uma delas, de retorno a Makkah, vinha chefiada por Abü Sufiãn, um dos líderes da tribo Quraich- inicialmente, tenaz adversária do Profeta - e trazia consigo perto de quarenta pessoas e grande carregamento de mercadorias. Ao sabê-lo, pelo anjo Gabriel, o Profeta inteirou os mais moslimes do fato, e estes, entusiasmados com a perspectiva não só da posse da caravana, mas de represália ao que os Quraich lhes fizeram, em Makkah, saíram a seu encontro. Nesse ínterim, Abü Sufiãn, a fim de pôr a salvo a caravana, alterou-lhe o rumo, tomando o caminho do litoral. Ao mesmo tempo, Abu Jahl, um dos líderes Quraich, em Makkah, ao cientifícar-se dos planos moslimes, reuniu numeroso exército para salvaguardá-la. Quando soube que ela se encontrava à salvo, pela tática de Abü Sufiãn, não retornou a Makkah, mas continuou adiante, com o fito de chegar, com seu exército, a Badr, poço de água perto de Al Madinah, e, assim, intimidar o Profeta e seus companheiros, ostentando-lhes superioridade e força. E, para comemorar o feito, pretendiam festejar com banquetes e vinho. Novamente informado do ocorrido, pelo anjo Gabriel, o Profeta, consultou seus companheiros sobre o ataque ao exército Quraich. Os companheiros, porém, em sua maioria, julgaram melhor não combater, alegando a desigualdade de forças entre as hostes, o que lhes poderia, fatalmente, acarretar a derrota. Finalmente, por inspiração divina, Muhammad convenceu-os da necessidade de irem a combate, onde, aliás, acabaram sendo vitoriosos.

21. وَلَا تَكُونُوا كَالَّذِينَ قَالُوا سَمِعْنَا وَهُمْ لَا يَسْمَعُونَ


PT: 21. E não sejais como os[663] que dizem: "Ouvimos", enquanto não ouvem.


(1) Os: os idólatras de Makkah.

22. إِنَّ شَرَّ الدَّوَابِّ عِنْدَ اللَّهِ الصُّمُّ الْبُكْمُ الَّذِينَ لَا يَعْقِلُونَ


PT: 22. Por certo, os piores seres animais, perante Allah, são os surdos, os mudos que não razoam.[664]


(1) Este versículo compara os idólatras que não atendem à pregação do Profeta, aos animais irracionais, que não ouvem e não raciocinam.

23. وَلَوْ عَلِمَ اللَّهُ فِيهِمْ خَيْرًا لَأَسْمَعَهُمْ وَلَوْ أَسْمَعَهُمْ لَتَوَلَّوْا وَهُمْ مُعْرِضُونَ


PT: 23. E, se Allah soubesse de algum bem neles, havê-los-ia feito ouvir. E, se Ele os houvesse feito ouvir, voltariam as costas, dando de ombros.

24. يَا أَيُّهَا الَّذِينَ آمَنُوا اسْتَجِيبُوا لِلَّهِ وَلِلرَّسُولِ إِذَا دَعَاكُمْ لِمَا يُحْيِيكُمْ وَاعْلَمُوا أَنَّ اللَّهَ يَحُولُ بَيْنَ الْمَرْءِ وَقَلْبِهِ وَأَنَّهُ إِلَيْهِ تُحْشَرُونَ


PT: 24. Ó vós que credes! Atendei a Allah e a Seu Mensageiro, quando este vos convocar ao[665] que vos dá a verdadeira vida. E sabei que Allah Se interpõe[666] entre a pessoa e seu coração e que a Ele sereis reunidos.


(1) Ao: ao Islão. (2) Deus conhece os pensamentos do homem e pode modificá-los, conforme Sua vontade.

25. وَاتَّقُوا فِتْنَةً لَا تُصِيبَنَّ الَّذِينَ ظَلَمُوا مِنْكُمْ خَاصَّةً وَاعْلَمُوا أَنَّ اللَّهَ شَدِيدُ الْعِقَابِ


PT: 25. E guardai-vos de uma calamidade, que não alcançará, unicamente, os injustos entre vós[667]. E sabei que Allah é Veemente na punição.


(1) Referência a que as desgraças, acarretadas pelas dissenções, nâo só atingem os iníquos, mas também os inocentes, com os que convivem, em comunidade.

26. وَاذْكُرُوا إِذْ أَنْتُمْ قَلِيلٌ مُسْتَضْعَفُونَ فِي الْأَرْضِ تَخَافُونَ أَنْ يَتَخَطَّفَكُمُ النَّاسُ فَآوَاكُمْ وَأَيَّدَكُمْ بِنَصْرِهِ وَرَزَقَكُمْ مِنَ الطَّيِّبَاتِ لَعَلَّكُمْ تَشْكُرُونَ


PT: 26. E lembrai-vos de quando éreis poucos, indefesos na terra[668] temendo que os adversários[669] vos arrebatassem. Então, Ele vos abrigou e vos amparou[670] com Seu socorro e vos deu sustento das cousas benignas, para serdes agradecidos.


(1) Na terra: em Makkah. (2) Ou seja, os inimigos; isto é, os opositores à nova religião. (3) Em AI Madinah.

27. يَا أَيُّهَا الَّذِينَ آمَنُوا لَا تَخُونُوا اللَّهَ وَالرَّسُولَ وَتَخُونُوا أَمَانَاتِكُمْ وَأَنْتُمْ تَعْلَمُونَ


PT: 27. Ó vós que credes! Não atraiçoeis a Allah e ao Mensageiro nem atraiçoeis os depósitos que vos são confiados, enquanto sabeis.

28. وَاعْلَمُوا أَنَّمَا أَمْوَالُكُمْ وَأَوْلَادُكُمْ فِتْنَةٌ وَأَنَّ اللَّهَ عِنْدَهُ أَجْرٌ عَظِيمٌ


PT: 28. E sabei que vossas riquezas e vossos filhos vos são provação e que, junto de Allah, há magnífico prêmio.[671]


(1) O excessivo amor aos filhos e aos bens materiais pode fazer esquecer ao homem os preceitos de Deus.

29. يَا أَيُّهَا الَّذِينَ آمَنُوا إِنْ تَتَّقُوا اللَّهَ يَجْعَلْ لَكُمْ فُرْقَانًا وَيُكَفِّرْ عَنْكُمْ سَيِّئَاتِكُمْ وَيَغْفِرْ لَكُمْ وَاللَّهُ ذُو الْفَضْلِ الْعَظِيمِ


PT: 29. Ó vós que credes! Se temeis a Allah, Ele vos fará critério[672] de distinguir o bem do mal e vos remitirá as más obras e vos perdoará. E Allah é Possuidor do magnífico favor.


(1) Furqãn: critério para distinguir o bem do mal. Cf. II 53 n5.

30. وَإِذْ يَمْكُرُ بِكَ الَّذِينَ كَفَرُوا لِيُثْبِتُوكَ أَوْ يَقْتُلُوكَ أَوْ يُخْرِجُوكَ وَيَمْكُرُونَ وَيَمْكُرُ اللَّهُ وَاللَّهُ خَيْرُ الْمَاكِرِينَ


PT: 30. E lembra-te, Muhammad, de quando os que renegam a Fé usaram de estratagemas[673] contra ti, para aprisionar-te ou matar-te ou fazer-te sair de Makkah. E usaram de estratagemas, e Allah usou de estratagemas. E Allah é O Melhor em estratagema.


(1) Trata-se da reunião dos Quraich em Dãr al-Nadwah, ou casa da deliberação, em Makkah, onde deliberaram sobre o melhor meio de se livrarem de Muhammad. Entre aprisioná-lo ou bani-lo, concluíram, ao fim desta reunião, pela morte do Profeta, o que seria realizado por um grupo de homens dos mais fortes, escolhidos entre as tribos. O Profeta, então, informado pelo anjo Gabriel, e por sugestão deste, preparou-se para emigrar de Makkah para Al Madinah, marcando, com isso, a Hégira ou o início da propagação do Islamismo. No momento em que viu sua casa sediada pelos assassinos, Muhammad, a fim de confundi-los, solicitou do primo Ali se deitasse no leito, em seu lugar, e, em seguida, saiu pelos fundos da casa, rumo a uma caverna existente na montanha Thawr, perto de Makkah. Quando, então, o grupo assassino acercou-se do leito do Profeta e não o encontrou, mas a seu primo Ali, debandou, malogrado e furioso, e iniciou acirrada perseguição ao Profeta.

31. وَإِذَا تُتْلَى عَلَيْهِمْ آيَاتُنَا قَالُوا قَدْ سَمِعْنَا لَوْ نَشَاءُ لَقُلْنَا مِثْلَ هَذَا إِنْ هَذَا إِلَّا أَسَاطِيرُ الْأَوَّلِينَ


PT: 31. E, quando se recitavam Nossos versículos, para eles diziam: "Com efeito, já os ouvimos. Se quiséssemos, haveríamos dito algo igual a isso; isso não são senão fábulas dos antepassados"[674]


(1) Alude-se, aqui, a um árabe pagão chamado Al-Nadr Ibn Al Hãrith, antagonista do Profeta que viajava pelas fronteiras da Península Arábica para fazer comércio e comprar livros da história dos antigos persas, cujas leituras, no retorno destas viagens, relatava aos correligionários, pretendendo, com isso, torná-las mais interessantes que o Alcorão.

32. وَإِذْ قَالُوا اللَّهُمَّ إِنْ كَانَ هَذَا هُوَ الْحَقَّ مِنْ عِنْدِكَ فَأَمْطِرْ عَلَيْنَا حِجَارَةً مِنَ السَّمَاءِ أَوِ ائْتِنَا بِعَذَابٍ أَلِيمٍ


PT: 32. E quando eles disseram: "Ó Allah! Se esta é a verdade de Tua parte, faze chover sobre nós pedras do céu, ou faze-nos vir doloroso castigo"

33. وَمَا كَانَ اللَّهُ لِيُعَذِّبَهُمْ وَأَنْتَ فِيهِمْ وَمَا كَانَ اللَّهُ مُعَذِّبَهُمْ وَهُمْ يَسْتَغْفِرُونَ


PT: 33. E não é admissível que Allah os castigasse, enquanto tu estavas entre eles. E não é admissível que Allah os castigasse, enquanto imploravam perdão.

34. وَمَا لَهُمْ أَلَّا يُعَذِّبَهُمُ اللَّهُ وَهُمْ يَصُدُّونَ عَنِ الْمَسْجِدِ الْحَرَامِ وَمَا كَانُوا أَوْلِيَاءَهُ إِنْ أَوْلِيَاؤُهُ إِلَّا الْمُتَّقُونَ وَلَكِنَّ أَكْثَرَهُمْ لَا يَعْلَمُونَ


PT: 34. E por que razão Allah não os castiga, enquanto afastam os crentes da Mesquita Sagrada e não são seus protetores? Seus protetores não são senão os piedosos. Mas a maioria deles não sabe.

35. وَمَا كَانَ صَلَاتُهُمْ عِنْدَ الْبَيْتِ إِلَّا مُكَاءً وَتَصْدِيَةً فَذُوقُوا الْعَذَابَ بِمَا كُنْتُمْ تَكْفُرُونَ


PT: 35. E suas orações, junto da Casa, não são senão assobios e palmas[675] . Então, experimentai o castigo, porque renegáveis a Fé.[676]


(1) Faz-se, aqui, referência aos peregrinos pagãos que, antes da época islâmica, tinham o hábito de rodear a Kaᶜbah, inteiramente desnudos, tanto os homens quanto mulheres, assobiando, por entre as mãos entrelaçadas, e batendo palmas. (2) Assim lhes falaram, quando foram derrotados pelos moslimes, na Batalha de Badr.

36. إِنَّ الَّذِينَ كَفَرُوا يُنْفِقُونَ أَمْوَالَهُمْ لِيَصُدُّوا عَنْ سَبِيلِ اللَّهِ فَسَيُنْفِقُونَهَا ثُمَّ تَكُونُ عَلَيْهِمْ حَسْرَةً ثُمَّ يُغْلَبُونَ وَالَّذِينَ كَفَرُوا إِلَى جَهَنَّمَ يُحْشَرُونَ


PT: 36. Por certo, os que renegam a Fé despendem suas riquezas para afastar os homens do caminho de Allah. Então, despendê-las-ão; em seguida, ser-lhes-á aflição; em seguida, serão vencidos. E os que renegam a Fé, na Geena, serão reunidos.

37. لِيَمِيزَ اللَّهُ الْخَبِيثَ مِنَ الطَّيِّبِ وَيَجْعَلَ الْخَبِيثَ بَعْضَهُ عَلَى بَعْضٍ فَيَرْكُمَهُ جَمِيعًا فَيَجْعَلَهُ فِي جَهَنَّمَ أُولَئِكَ هُمُ الْخَاسِرُونَ


PT: 37. Para que Allah distinga o maligno do benigno e faça estar o maligno, um sobre o outro, e os amontoe a todos e os faça estar na Geena. Esses são os perdedores.

38. قُلْ لِلَّذِينَ كَفَرُوا إِنْ يَنْتَهُوا يُغْفَرْ لَهُمْ مَا قَدْ سَلَفَ وَإِنْ يَعُودُوا فَقَدْ مَضَتْ سُنَّتُ الْأَوَّلِينَ


PT: 38. "Dize aos que renegam a Fé que se se abstêm da descrença, ser-lhes-á perdoado o que já se consumou. E, se reincidirem[677], com efeito, precederam os procedimentos de punir, dos antepassados."


(1) Ou seja, "se reinciderem, que se acautelem, pois, serão punidos como já foram os antepassados, que transgrediram os preceitos divino".

39. وَقَاتِلُوهُمْ حَتَّى لَا تَكُونَ فِتْنَةٌ وَيَكُونَ الدِّينُ كُلُّهُ لِلَّهِ فَإِنِ انْتَهَوْا فَإِنَّ اللَّهَ بِمَا يَعْمَلُونَ بَصِيرٌ


PT: 39. E combatei-os, até que não mais haja sedição pela idolatria e que a religião toda seja de Allah. Então, se se abstêem, nada de agressão, exceto contra os injustos.

40. وَإِنْ تَوَلَّوْا فَاعْلَمُوا أَنَّ اللَّهَ مَوْلَاكُمْ نِعْمَ الْمَوْلَى وَنِعْمَ النَّصِيرُ


PT: 40. E, se voltam as costas, sabei que Allah é vosso Protetor. Que Excelente Protetor e que Excelente Socorredor!