Surata الأحزاب

PT: SŪRATU AL-’AHZĀB[1564] (A SURA DOS PARTIDOS) De Al Madīna - 73 versículos.


(1) Al Ahzab: plural de hizb, que significa uma coligação, cujos membros perseguem os mes mos objetivos. Assim se denomina a sura, pela menção dessa palavra nos versículos 20 e 22. Esse vocábulo passou a ter esta acepção entre os anos IV e V da Hégira (cerca de 626 da Era cristã), quando os Judeus, habitantes de Al Madinah, entreviram no Islão, a nova religião, iminente ameaça ao prestígio religioso e social, que gozavam nesta cidade, e consequente enfraquecimento de seu poder, junto da nova organização da sociedade árabe emergente, liderada pelo Profeta Muhammad. A questão tornou-se mais preocupante, quando o grande sábio judaico, Abdullah Ibn Salam, se converteu ao Islão, atraindo para si outros confrades. Foi, então, que os judeus de Al Madinah se decidiram pela aniquilação de Muhammad, cujo credo se propagava não só por esta cidade, mas por outras regiões, fora dela. Para tanto, passaram a reunir, em partidos, as tribos árabes da Península Arábica, o que não foi difícil, pela oposição que alimentavam contra o Profeta. Citem-se, entre elas, as tribos de Gatafan, Kinanah, Tihamah e Quraich. E rumaram, todas elas, a Al Madinah, e sitiaram-na, nos arredores, pois os fossos de defesa, abertos por ordem do Profeta, impediam- nas de avançarem dentro dela. Enquanto isso, os judeus da cidade rompiam o pacto de coexistência pacífica, que haviam firmado com o Profeta. Consequentemente, a situação dos moslimes periclitou, já que sediados pelo inimigo, dentro e fora da cidade. Entrementes, pouco antes de os partidos atacarem o Profeta, ocorreu forte vento, acompanhado de implacável onda de frio, que veio a tumultuar a organização dos partidos, arrancando-lhes as tendas armadas, exterminando-lhes as fogueiras, destroçando-Ihes os pertences.Inermes, debandaram, em direção a seus lugares de origem. Desta feita, malogrou a insídia dos judeus, que, sem a colaboração partidária dos árabes, não puderam combater o Profeta e seus prosélitos. Esta sura se inicia pela exortação do Profeta à não obediência aos incrédulos e aos hipócritas. Alude, a seguir, à questão da adoção de filhos e de como proceder, neste caso. Trata, ainda, do avanço dos Partidos até Al Madinah, do temor que a tempestade suscitou nos moslimes, da salvação dos crentes. Determina, ademais, as regras éticas, que devem seguir as mulheres; anula a proibição de o homem casar-se com a mulher de seu filho adotivo, o que não era permitido na sociedade árabe pré-islâmica; estabelece regras de acesso dos crentes á casa do Profeta, para as refeições; faz referência a Hora Final e as aflições experimentadas neste momento; aconselha os crentes a temerem a Deus e a serem verazes. Finalmente, a sura salienta a ignorância do ser humano, que, havendo aceitado os mandamentos divinos, não soube cumpri-los, com vigor.

1. يَا أَيُّهَا النَّبِيُّ اتَّقِ اللَّهَ وَلَا تُطِعِ الْكَافِرِينَ وَالْمُنَافِقِينَ إِنَّ اللَّهَ كَانَ عَلِيمًا حَكِيمًا


PT: 1. Ó Profeta! Teme a Allah e não obedeças aos renegadores da Fé e aos hipócritas. Por certo, Allah é Onisciente, Sábio.

2. وَاتَّبِعْ مَا يُوحَى إِلَيْكَ مِنْ رَبِّكَ إِنَّ اللَّهَ كَانَ بِمَا تَعْمَلُونَ خَبِيرًا


PT: 2. E segue o que te é revelado de teu Senhor. Por certo, Allah, do que fazeis é Conhecedor.

3. وَتَوَكَّلْ عَلَى اللَّهِ وَكَفَى بِاللَّهِ وَكِيلًا


PT: 3. E confia em Allah. E basta Allah por Patrono.

4. مَا جَعَلَ اللَّهُ لِرَجُلٍ مِنْ قَلْبَيْنِ فِي جَوْفِهِ وَمَا جَعَلَ أَزْوَاجَكُمُ اللَّائِي تُظَاهِرُونَ مِنْهُنَّ أُمَّهَاتِكُمْ وَمَا جَعَلَ أَدْعِيَاءَكُمْ أَبْنَاءَكُمْ ذَلِكُمْ قَوْلُكُمْ بِأَفْوَاهِكُمْ وَاللَّهُ يَقُولُ الْحَقَّ وَهُوَ يَهْدِي السَّبِيلَ


PT: 4. Allah não fez em homem algum dois corações[1565] em seu peito. E não fez de vossas mulheres, que repudiais[1566], considerando-as proibidas como vossas mães. E não fez de vossos filhos adotivos[1567] vossos filhos verdadeiros. Isto[1568] é o dito de vossas bocas. E Allah diz a verdade, e Ele guia ao caminho reto.


(1) Dois corações: duas atitudes contraditórias. Esta sura refuta a dúbia atitude dos hipócritas, que professam a crença e a descrença, concomitantemente. Em outras palavras, é inadmissível que coexistam, no coração, o certo e o errado. Assim, errado é divorciar-se de suas mulheres, com o pretexto de que são como suas mães; e errado é considerar o filho adotivo como filho legítimo, segundo o mesmo versículo. (2) Az-zihar, infinito de zahara, repudiar, de modo específico; derivado de zahr, costas: modalidade de repúdio conjugal, adotada pela comunidade árabe pré-islâmica, a qual consistia em o homem dizer à sua mulher que ela lhe era como as costas de sua própria mãe, o que valia dizer que ele e ela já não poderiam unir-se carnalmente. (3) Referência a Zaid Ibn Harithah, escravizado, ainda pequeno, por época do ataque de algumas tribos pré-islâmicas. Pertencia a Khadijah, primeira mulher do Profeta, a quem ela o doou. Com o advento do Islão e das leis de justiça social, que com ele chegaram, o pai de Zaid foi até o Profeta, para reivindicar-lhe o filho. O Profeta dirigiu-se, então, a Zaid e pediu- lhe que optasse por ele ou pelo pai legítimo. O rapaz decidiu-se por ficar com o Profeta, que, logo, o alforriou e o tomou, não mais por escravo, mas por filho adotivo. Desde então, ele passou a chamar-se Zaid Ibn Muhammad. Mas, o versículo veio para advertir Muhammad e os crentes de que o filho adotivo não é como o filho legítimo nem deve receber outro nome que o de sua família legítima. Segundo o Islão, a questão da adoção é antinatural, pois rompe o vínculo natural com a família de origem; obsta ao filho adotivo o acesso à herança, em a havendo, deixada pelos pais legítimos, e atenta contra a natureza, ameaçando a procriação, por induzir à adoção, e não à gestação natural. (4) Referência à questão dos filhos adotivos, já mencionada na nota anterior.

5. ادْعُوهُمْ لِآبَائِهِمْ هُوَ أَقْسَطُ عِنْدَ اللَّهِ فَإِنْ لَمْ تَعْلَمُوا آبَاءَهُمْ فَإِخْوَانُكُمْ فِي الدِّينِ وَمَوَالِيكُمْ وَلَيْسَ عَلَيْكُمْ جُنَاحٌ فِيمَا أَخْطَأْتُمْ بِهِ وَلَكِنْ مَا تَعَمَّدَتْ قُلُوبُكُمْ وَكَانَ اللَّهُ غَفُورًا رَحِيمًا


PT: 5. Chamai-os[1569] pelos nomes de seus pais: isso é mais eqüitativo, perante Allah. E, se não conheceis seus pais, eles serão vossos irmãos, na religião, e vossos aliados. E não há culpa, sobre vós, em errardes, nisso, mas no que vossos corações intentam. E Allah é Perdoador, Misericordiador.


(1) Ou seja, o filho deve receber o nome do pai legítimo, e não o do adotivo.

6. النَّبِيُّ أَوْلَى بِالْمُؤْمِنِينَ مِنْ أَنْفُسِهِمْ وَأَزْوَاجُهُ أُمَّهَاتُهُمْ وَأُولُو الْأَرْحَامِ بَعْضُهُمْ أَوْلَى بِبَعْضٍ فِي كِتَابِ اللَّهِ مِنَ الْمُؤْمِنِينَ وَالْمُهَاجِرِينَ إِلَّا أَنْ تَفْعَلُوا إِلَى أَوْلِيَائِكُمْ مَعْرُوفًا كَانَ ذَلِكَ فِي الْكِتَابِ مَسْطُورًا


PT: 6. O Profeta tem mais prevalência sobre os crentes que eles mesmos não têm entre si. E suas mulheres[1570] são suas mães. E os de laços consangüíneos têm, na sucessão, mais prevalência sobre os laços que unem os crentes de Al-Madinah e os emigrantes de Makkah[1571], segundo o Livro de Allah, a menos que queirais fazer um favor a vossos aliados.[1572] Isso está inscrito no Livro.


(1) Ou seja, as mulheres do Profeta. Entenda-se que é dever dos crentes respeitarem as mulheres do Profeta e as venerarem como se fossem suas próprias mães, ficando-Ihes, portanto, vedado casarem-se com elas. (2) Cf VIII 75 n3. (3) Alusão ao testamento, que se faz nesta circunstância, quando o herdeiro não é aparentado.

7. وَإِذْ أَخَذْنَا مِنَ النَّبِيِّينَ مِيثَاقَهُمْ وَمِنْكَ وَمِنْ نُوحٍ وَإِبْرَاهِيمَ وَمُوسَى وَعِيسَى ابْنِ مَرْيَمَ وَأَخَذْنَا مِنْهُمْ مِيثَاقًا غَلِيظًا


PT: 7. E quando firmamos a aliança com os profetas, e contigo e com Noé e com Abraão e com Moisés e com Jesus, filho de Maria. E firmamos sólida aliança com eles,

8. لِيَسْأَلَ الصَّادِقِينَ عَنْ صِدْقِهِمْ وَأَعَدَّ لِلْكَافِرِينَ عَذَابًا أَلِيمًا


PT: 8. Para que Ele interrogasse os verídicos acerca de sua verdade.[1573] E Ele preparou para os renegadores da Fé doloroso castigo.


(1) Sua verdade: a Mensagem, de cuja transmissão foram encarregados os profetas, e sua aceitação ou não, por seus povos.

9. يَا أَيُّهَا الَّذِينَ آمَنُوا اذْكُرُوا نِعْمَةَ اللَّهِ عَلَيْكُمْ إِذْ جَاءَتْكُمْ جُنُودٌ فَأَرْسَلْنَا عَلَيْهِمْ رِيحًا وَجُنُودًا لَمْ تَرَوْهَا وَكَانَ اللَّهُ بِمَا تَعْمَلُونَ بَصِيرًا


PT: 9. Ó vós que credes! Lembrai-vos da graça de Allah para convosco, quando um exército vos chegou, então, enviamos contra eles um vento e um exército de anjos, que não vistes. E Allah, do que fazeis, é Onividente.

10. إِذْ جَاءُوكُمْ مِنْ فَوْقِكُمْ وَمِنْ أَسْفَلَ مِنْكُمْ وَإِذْ زَاغَتِ الْأَبْصَارُ وَبَلَغَتِ الْقُلُوبُ الْحَنَاجِرَ وَتَظُنُّونَ بِاللَّهِ الظُّنُونَا


PT: 10. Quando eles vos chegaram, por cima de vós e por baixo de vós[1574], e quando as vistas se vos desviaram de terror, e os corações vos chegaram às gargantas, e pensastes, acerca de Allah, pensamentos vários,[1575]


(1) A tribo de Gatafan vinha de Najd, a nordeste da Península Arábica; por outro lado, a tribo de Quraich vinha do sudoeste da Península. (2) Entre os moslimes, havia os de fé ardorosa, os de fé débil e os de fé dúbia; portanto, nada mais lógico que, diante do ataque inimigo e da iminente morte, cada qual reagisse de maneira diferente: uns pensavam na vitória, outros, na derrota e, outros, ainda, na aniquilação total dos moslimes.

11. هُنَالِكَ ابْتُلِيَ الْمُؤْمِنُونَ وَزُلْزِلُوا زِلْزَالًا شَدِيدًا


PT: 11. Aí, então, os crentes foram postos à prova e estremecidos por veemente estremecimento.

12. وَإِذْ يَقُولُ الْمُنَافِقُونَ وَالَّذِينَ فِي قُلُوبِهِمْ مَرَضٌ مَا وَعَدَنَا اللَّهُ وَرَسُولُهُ إِلَّا غُرُورًا


PT: 12. E, quando os hipócritas e aqueles, em cujos corações há enfermidade, disseram: "Allah e seu Mensageiro não nos prometeram senão Falácias."

13. وَإِذْ قَالَتْ طَائِفَةٌ مِنْهُمْ يَا أَهْلَ يَثْرِبَ لَا مُقَامَ لَكُمْ فَارْجِعُوا وَيَسْتَأْذِنُ فَرِيقٌ مِنْهُمُ النَّبِيَّ يَقُولُونَ إِنَّ بُيُوتَنَا عَوْرَةٌ وَمَا هِيَ بِعَوْرَةٍ إِنْ يُرِيدُونَ إِلَّا فِرَارًا


PT: 13. E, quando uma hoste, dentre eles, disse: "Ó povo de Yathrib[1576]! Não há lugar para vossa permanência aqui; então, retornai." E um grupo deles pediu permissão ao Profeta, para retornar, dizendo:" Por certo, nossas casas estão indefesas", enquanto não estavam indefesas. Eles não desejavam senão uma fuga.


(1) Yathrib: o nome original da cidade de AI Madinah.

14. وَلَوْ دُخِلَتْ عَلَيْهِمْ مِنْ أَقْطَارِهَا ثُمَّ سُئِلُوا الْفِتْنَةَ لَآتَوْهَا وَمَا تَلَبَّثُوا بِهَا إِلَّا يَسِيرًا


PT: 14. E, se nela[1577] entrassem, por todas suas imediações, estando eles[1578] aí; em seguida, se lhes fosse pedida a sedição, havê-la-iam concedido, e nela não haveriam permanecido senão um pouco.[1579]


(1) Nela: a cidade de Yathrib. (2) Eles: os hipócritas. (3) Alusão ao retorno à idolatria e ao combate dos moslimes, sugerido pelos partidos adversários do Islão.

15. وَلَقَدْ كَانُوا عَاهَدُوا اللَّهَ مِنْ قَبْلُ لَا يُوَلُّونَ الْأَدْبَارَ وَكَانَ عَهْدُ اللَّهِ مَسْئُولًا


PT: 15. E, com efeito, pactuavam, antes, com Allah que não voltariam costas aos inimigos. E o pacto com Allah será questionado.

16. قُلْ لَنْ يَنْفَعَكُمُ الْفِرَارُ إِنْ فَرَرْتُمْ مِنَ الْمَوْتِ أَوِ الْقَتْلِ وَإِذًا لَا تُمَتَّعُونَ إِلَّا قَلِيلًا


PT: 16. Dize: "A fuga não vos beneficiaria, se fugísseis de morrer ou de ser mortos em combate; e, nesse caso, não vos fariam gozar senão um pouco."

17. قُلْ مَنْ ذَا الَّذِي يَعْصِمُكُمْ مِنَ اللَّهِ إِنْ أَرَادَ بِكُمْ سُوءًا أَوْ أَرَادَ بِكُمْ رَحْمَةً وَلَا يَجِدُونَ لَهُمْ مِنْ دُونِ اللَّهِ وَلِيًّا وَلَا نَصِيرًا


PT: 17. Dize: "Quem é que vos defende de Allah, se Ele vos deseja um mal, ou se Ele vos deseja misericórdia?" E eles não encontrarão, para si, além de Allah, nem protetor nem socorredor.

18. قَدْ يَعْلَمُ اللَّهُ الْمُعَوِّقِينَ مِنْكُمْ وَالْقَائِلِينَ لِإِخْوَانِهِمْ هَلُمَّ إِلَيْنَا وَلَا يَأْتُونَ الْبَأْسَ إِلَّا قَلِيلًا


PT: 18. Com efeito, Allah conhece os desalentadores, dentre vós, e os que dizem a seus irmãos: "Vinde a nós!" Enquanto eles não vão à guerra, senão poucos,

19. أَشِحَّةً عَلَيْكُمْ فَإِذَا جَاءَ الْخَوْفُ رَأَيْتَهُمْ يَنْظُرُونَ إِلَيْكَ تَدُورُ أَعْيُنُهُمْ كَالَّذِي يُغْشَى عَلَيْهِ مِنَ الْمَوْتِ فَإِذَا ذَهَبَ الْخَوْفُ سَلَقُوكُمْ بِأَلْسِنَةٍ حِدَادٍ أَشِحَّةً عَلَى الْخَيْرِ أُولَئِكَ لَمْ يُؤْمِنُوا فَأَحْبَطَ اللَّهُ أَعْمَالَهُمْ وَكَانَ ذَلِكَ عَلَى اللَّهِ يَسِيرًا


PT: 19. Sendo avarentos[1580], em relação a vós. E, quando o medo[1581] lhes chega, tu os vês olhar para ti: revolvem-se-lhes os olhos como os de quem é desfalecido pela morte. E, quando o medo se vai, eles vos injuriam com afiadas línguas, sendo avarentos, em relação ao bem[1582]. Esses não crêem: então, Allah anulará suas obras. E isso para Allah é fácil.


(1) Os hipócritas, além de não auxiliarem os crentes na escavação dos fossos de defesa, negavam- lhes, ainda, qualquer outro auxilio. (2) Com a aproximação dos inimigos, os hipócritas sentem medo de combatê-los. (3) Bem: os espólios ambicionados, cada vez mais, pelos hipócritas.

20. يَحْسَبُونَ الْأَحْزَابَ لَمْ يَذْهَبُوا وَإِنْ يَأْتِ الْأَحْزَابُ يَوَدُّوا لَوْ أَنَّهُمْ بَادُونَ فِي الْأَعْرَابِ يَسْأَلُونَ عَنْ أَنْبَائِكُمْ وَلَوْ كَانُوا فِيكُمْ مَا قَاتَلُوا إِلَّا قَلِيلًا


PT: 20. Supunham que os partidos não houvessem ido embora. E, se os partidos chegassem novamente, almejariam estar, no deserto, entre os beduínos, perguntando por vossos informes. E, se estivessem entre vós, não combateriam senão um pouco.