A União dos Povos Islâmicos... Uma das Bases da Civilização Islâmica

Origens

20/11/2020

A União dos Povos Islâmicos... Uma das Bases da Civilização Islâmica

Dr. Ragueb El Serjani

Tradução: Sh. Ahmad Mazloum

 

Introdução

O Islam publicou explicitamente e claramente a união entre os povos da terra, ao nível da verdade, do bem e da dignidade. Disse Allah, o Altíssimo: “Ó humanos, em verdade vos criamos de macho e fêmea e vos fizemos povos e tribos para conhecerdes uns aos outros. Em verdade, o mais digno perante Allah dentre vós é o mais temente” (Al Hujurat: 13). 

          Por isso, o Islam harmonizou-se entre diversos povos depois das conquistas islâmicas, que continham várias raças e diferentes nacionalidades, cada uma tinha a sua herança cultural e suas experiências culturais e científicas diversas. Esta foi uma razão para a formação de uma civilização única, onde existe variedade de talentos e energias humanas e naturais; esta é a civilização islâmica formada de vários povos.

          As variadas experiências técnicas, culturais e científicas contribuíram – contribuições entre as quais alguns povos do mundo islâmico, entre eles os persas, turcos e outros usufruíram – na formação desta nova civilização islâmica, e participou – sob do estandarte do Islam – na construção de uma civilização humana sublime. Com base nisso, a variedade dos povos islâmicos foi considerada um afluente importante entre os elementos que enriqueceram a civilização islâmica e um fator importante dos fatores de sua formação.

 

 

A Pérsia

          Se tomarmos a Pérsia como exemplo, quando Allah a conquistou para o Islam, os persas se misturaram com os muçulmanos e conheceram muito das benfeitorias da religião islâmica e sua tolerância, que é uma religião de irmandade e igualdade, simpatia e compaixão, amor e desambição, por isso, entraram na religião de Allah aos grupos, e procuraram aprender a língua árabe porque é a língua da religião que amaram e abraçaram, para que ela os ajude em seu entendimento e reflexão[1].

          O amor deles por esta religião e por sua língua foi um motivo para que eles zelassem por si mesmos. E assim, não passou muito tempo para que eles contribuíssem para o movimento científico e para a escrita, e se destacaram em ambos. E a civilização islâmica conquistou grandes benefícios com isso.

Existiam alguns termos que refletiam os aspectos da civilização, e não havia termo similar na língua árabe, então estes termos foram transferidos para a língua árabe e fizeram parte da sua construção. Dentre eles: “diuan”, “bimarsstan”;

O destaque de muitos dos persas nas ciências árabes e islâmicas, Al Hassan Al Bassri[2] se destacou na ciência do hadith, também Muhammad ibn Sirin[3], Abu Abdilléh Al Bukhari[4], entre outros. Eles tiveram grande virtude na transmissão do hadith. Na matéria do fiqh,  destacaram-se Abu Hanifah[5] e Allaith ibn Sa’d[6], tiveram grande destaque. Na escrita se destacou Abdul Hamid Al Katib[7], Ibn Al Muqafa’[8] e outros. Foram destaque na poesia Basshar ibn Burd[9], Abu Nuas[10] e outros similares a eles. Estes personagens introduziram muitos métodos, expressões e fantasias na literatura árabe e na poesia. Desta maneira, na era dos abássidas o movimento científico e a escrita se difundiram nas mais variadas ciências islâmicas, e também foram traduzidos vários livros para a língua árabe.

E igual às concessões dos povos da região da Pérsia, também foram transferidos para a civilização islâmica muitos conhecimentos dos indianos e de outros dos povos orientais civilizados através desta revolução científica[11].

 

Gênios muçulmanos

Deve-se lembrar também que o destaque dos filhos destes novos povos islâmicos não ocorreu somente na religião e na língua, mas também se destacaram e foram magistrais também nas ciências da vida, como por exemplo: a medicina, a astronomia, a álgebra, a engenharia e outras matérias. Isso enriqueceu a civilização islâmica de forma impressionante e influenciou diretamente na sua construção e formação, e não há prova maior que sábios como: Al Khawarizmi[12], Ibn Sina[13] e Al Biruni.

Azzuhri[14] citou que Hisham ibn Abdul Malik[15] lhe disse:

 

Quem se destaca em Makkah? Eu respondi: Átaá[16]. Disse: E no Iêmen? Eu disse: Tauss[17]. Disse: E na Síria? Eu respondi: Makhul[18]. Disse: E no Egito? Eu respondi: Iazid ibn Abi Habib[19]. E na Península? Eu respondi: Maimun ibn Mahran[20]. Disse: E Khurasan? Eu respondi: Al Dhahhak ibn Abi Muzahim[21]. E em Bassrah? Eu respondi: Al Hassan ibn Abi Al Hassan. E em Al Kufah? Eu respondi: Ibrahim Al Nakha’i[22]. Em cada um ele perguntava: é dos árabes ou dos estrangeiros? Respondia: dos estrangeiros. Ao terminar ele disse: ó Zuhri, os estrangeiros prevalecerão sobre os árabes até que se proferirá o sermão sobre os púlpitos e os árabes estarão debaixo deles. Eu disse: Ó emir dos crentes, é tão somente a ordem de Allah e Sua religião, assim, quem a preservar destacar-se-á, e quem o perder cairá[23].

A civilização islâmica foi, então, resultado de diversos povos do mundo islâmico, persas, romanos, gregos, indianos, turcos, andaluzes, tais povos que entraram sob a bandeira do Islam e formaram, por sua vez, uma fonte de força para este gigante corpo e aumentou a eficácia do patrimônio da nação, de sua civilização e história difundida em larga escala.

Por isso, toda civilização podia se orgulhar com os gênios de uma só raça e de uma só nação, exceto a civilização islâmica; esta se orgulha com os gênios que a construíram sendo de todas as nações e povos sobre os quais o estandarte do Islam se elevou, o árabe contribuiu ao lado do persa: temos Abu Hanifah, Malik[24], Al Shafi’í[25] e Ahmad[26] (os sábios que dão nome às quatro escolas de jurisprudência islâmica). Por outro lado encontramos Al Khalil[27] e Sibauaih[28] (senhores da língua árabe) e vários outros cujas origens e países se diversificaram e são gênios muçulmanos através dos quais a civilização islâmica apresentou os mais incríveis resultados do pensamento humano saudável[29]3.

Esta é a natureza da civilização islâmica, que fez dela um modelo único que iluminou o mundo com o conhecimento e a tolerância, e abrangeu todos os que vivem à sua sombra e criou, renovou, acrescentou e construiu.

 


[1] Abu Zaid Shalabi: A História da Civilização Islâmica e Pensamento Islâmico, p. 67.

[2] Al Hassan Al Bassri: Abu Said Al Hassan ibn Iassar Al Bassri (21 – 110 d.H. / 642 – 728 d.C.). Um dos grandes sábios dos tab’in (geração posterior à dos companheiros do Profeta), reuniu todas as virtudes, entre conhecimento, desapego, piedade e adoração. Nasceu em Madinah e morreu em Bassrah. Veja: Ibn Khallikan: Wafyiat al A’ian (Óbitos dos Notáveis) 2/69-72.

[3] Muhammad ibn Sirin: Abu Bakr Muhammad ibn Sirin Al Bassri (33-110 d.H. / 653 – 729 d.C.). Um dos juristas da cidade de Bassra, conhecido pela piedade em sua época, tinha problema de surdez, e ficou conhecido por interpretar sonhos. Nasceu e morreu em Bassra. Veja: Ibn Khallikan: Wafyiat al A’ian 4/181-182.

[4] Al Bukhari: Abu Abdullah Muhammad ibn Ismail Al Bukhari (194 – 256 d.H. / 810 – 870 d.C.). Sheikh do Islam, imam dos memorizadores, escritor de Al Jami’i Al Sahih e Al Tarikh. Nasceu em Bukhara, cresceu órfão e morreu em Khartank, uma das cidades de Samarqand. Veja: Wafyiat al A’ian 2/104-105.

[5] Abu Hanifah: Abu Hanifah Al Nu’man ibn Thabit Al Kufi (80 – 150 d.H. / 699 – 767 d.C.), imam da escola hanafi, reuniu jurisprudência, adoração, piedade e bondade. Sua origem é da Pérsia, nasceu e cresceu em Kufah e morreu em Bagdá. Veja: Ibn Khallikan: Wafyiat al A’ian 5/405-414.

[6] Allaith ibn Saad: Abu Al Harith Allaith ibn Saad (94 – 175 d.H. /713 – 791 d.C.), O Imam do povo do Egito em fiqh e hadith. Sua origem é de Asbahan, nasceu em Qalqashanda e faleceu no Cairo. Veja: Ibn Khallikan: Wafyiat al A’ian 4/127,129.

[7] Abdul Hamid Al Katib: Abdul Hamid ibn Iahya ibn Saad, famoso escritor eloqüente. Era o escriba de Marwan ibn Muhammad, o último califa da dinastia omíada. Foi morto junto com ele em Bussir, no Egito no ano de 132 d.H. / 750 d.C. Veja: Ibn Khallikan: Wafyiat al A’ian 3/228,229.

[8] Ibn Al Muqafa’: Abdullah ibn Al Muqafa’ (106 – 142 d.H. / 724 – 759 d.C.) literato famoso por sua eloqüência. Nasceu no Iraque e era zoroástra, e tornou-se muçulmano nas mãos de Issa ibn Ali (tio de Al Saffah). Foi morto por ordem de Al Manssur Al Ábbassi. Veja: Ibn Khallikan: Wafyiat al A’ian 2/ 151 - 154.

[9] Basshar ibn Burd:Abu Mu’azh Basshar ibn Burd Al Úqaili (95 – 167 d.H. / 714 – 783 d.C.), poeta famoso, viveu na época do califado omíada e abássida. Era cego e foi acusado de ateísmo e foi açoitado até morrer. Veja: Ibn Khallikan: Wafyiat al A’ian 1/271 – 273.

[10] Abu Nuas: Al Hassan ibn Hani ibn Abdul Awual (146 – 198 d.H. / 763 – 814 d.C.), poeta do Iraque em sua época, era descarado, a maioria de seus poemas eram sobre vinho e elogio explícito. Veja: Al Bagdadi: Khizanatul Adab 1/168.

[11] Abu Zaid Shalabi: A História da Civilização Islâmica e Pensamento Islâmico, p. 67-68.

[12] Al Khawarizmi: Abu Abdullah Muhammad ibn Mussa Al Khawarizmi (falecido depois de 232 d.H. / 848 d.C.), matemático, astrônomo e historiador do povo de Khawarizm. Al Ma’mun o encarregou de sua biblioteca e o encarregou de reunir os livros gregos e traduzi-los. Veja: Ibn Al Nadim: Al Fihrast, p. 383 e Al Zirkilli: Al A’lam 7/116.

[13] Ibn Sina (Avicenna): Abu Ali Al Hussein ibn Abdullah ibn Sina (370 -428 d.H. / 980 – 1037 d.C.) o mestre filósofo, autor de obras na ciência da medicina, lógica, ciências naturais e religiosas. Nasceu numa das aldeias de Bukhara e morreu em Hamadan. Veja: Ibn Khallikan: Wafyiat al A’ian 2/157-161

[14] Azzuhri: Abu Bakr Muhammad ibn Muslim ibn Abdullah ibn Shihab Azzuhri Al Qurashi (58 – 124 d.H. / 678 – 742 d.C.), um dos fuqahá (juristas) e muhaddithin (estudiosos do hadith). Grande sábio da geração dos tabi’in (posterior à geração dos discípulos do Profeta (a paz esteja com ele) em Madinah. Veja: Ibn Khallikan: Wafyiat al A’ian 4/ 177,178.

[15] Hisham ibn Abdul Malik: Hisham ibn Abdul Malik ibn Marwan (71 – 125 d.H. / 690 – 743 d.C.), um dos califas da dinastia omíada, foi empossado do califado após a morte de seu irmão Iazid em 105 d.H.. Era bom político, desperto em seus assuntos, agia pessoalmente. Veja: Al Zirkilli: Al A’lam 8/86.

[16] Átaá ibn Abi Rabah, nasceu no Iêmen e cresceu em Makkah. Jurista de confiança. Al Auza’i diz sobre ele: Jamais vi alguém mais piedoso a Allah do que Átaá. Morreu em Makkah no ano 115 d.H.. Veja: Ibn Sa’d: Al Tabaqat Al Kubra 5/467, Ibn Al Jauzi: Sifat Al Safuah 2/212 – 214.

[17] Tauss ibn Kaissan: Al Iamani Abu Abdurrahman Al Himiari, servo de Buhair ibn Raissan Al Himiari. De origem persa. Ibn Hibban declarou sobre ele: Era um dos adoradores do povo do Iêmen e um dos senhore da geração dos tabi’in. Morreu em 106 d.H. Veja: Al Mizzi: Tahzhib Al Kamal 13/358 e Ibn Hajar: Tahzhib Al Tahzhib 5/9.

[18] Makhul Al Shami: Abu Abdullah Al Dimishqui. Grande jurista, era do povo de Kabul. Morreu em 118 d.H., e foi dito que morreu em outra data. Veja: Ibn Saad: Al Tabaqat Al Kubra 7/453.

[19] Iazid ibn Abu Habib: Abu Rajá Al Massri, era o mufti do povo do Egito em sua época, era sábio e inteligente. Morreu em 128 d.H. Veja: Ibn Hajar: Tahzhib Al Tahzhib 11/278.

[20] Maimun ibn Mahran: Sua alcunha é Abu Ayub, faleceu em 116 d.H. Veja: Ibn Khayat: Al Tabaqat, p. 319, Ibn Hajar: Tahzhib Al Tahzhib 10/349.

[21] Al Dhahhak ibn Muzahim: Abu Al Qassim Al Dhahhak ibn Muzahim Al Balkhi Al Kharasani (falecido em 105 d.H. / 723 d.C.), sábio do tafssir (mufassir), do hadith (muhaddith) e lingüista. Educava crianças. Veja: Al Hamawi: Mu’jam Al Udabá 4/1452,1453, e Ibn Hajar: Tahzhib Al Tahzhib 4/ 397, 398.

[22] Ibrahim Al Nakha’i: Abu Ímran Ibrahim ibn Iazid ibn Qais Al Nakha’i Al Kufi (46 – 96 d.H. / 666 – 815 d.C.). Um dos grandes tabi’in em integridade e em memorização do hadith. Morreu escondido de Al Hajjaj. Veja: Ibn Sa’d: Al Tabaqat Al Kubra 6/ 270 – 284.

[23] Ibn Kathir: Al Ba’ith Al Hathith Sharh IkhtissarUlum Al Hadith, p. 42.

[24] Malik ibn Anas ibn Malik Al Asbahi Al Himiari (93 – 179 d.H.): O imam da terra da hijrah (imam de Madinah) e um dos quatro grandes imams a quem é atribuída a escola malikita. Nasceu e faleceu em Madinah. Era sólido em sua religião, distante dos emires e dos reis. Musnad Al Muattá é uma de suas mais famosas obras. Veja: Al Zhahabi: Siar A’alam Al Nubala 8/48, e Ibn Khallikan: Wafyiat al A’ian 4/135, e Al Zarkali: Al A’alam 5/257.

[25] Al Shafi’í: Abu Abdullah Muhammad ibn Idriss Al Qurashi (150 – 206 d.H.). Um dos quatro imams, o primeiro a compilar a ciência de ussul al fiqh (fundamentos da jurisprudência). Nasceu em Gaza e morreu no Egito. Veja: Al Zhahabi: Siar A’alam Al Nubala 10/5.

[26] Ahmad ibn Hanbal: Abu Abdullah Ahmad ibn Muhammad ibn Hanbal Al Shaibani (164 – 241 d.H.). O imam dos muhaddithin (estudiosos do hadith), escreveu Al Musnad e reuniu nesta obra o que não foi compilado por outros sábios. Foi relatado que ele memorizava um milhão de hadiths, era dos discípulos do imam Al Shafi’í e um de seus íntimos, o acompanhou até que Al Shafi’í mudou para o Egito. Nasceu e morreu em Bagdá. Veja: Ibn Khallikan: Wafyiat al A’ian 1/64.

[27] Al Khalil: Abu Abdurrahman Al Khalil ibn Ahmad ibn Ámr Al Farahidi (100 – 170 d.H. / 718 – 786 d.C.) imam da ciência da gramática (nahw), criou a ciência de al árudh e foi o mestre de Sibauaih. Nasceu e morreu em Basra. Veja: Ibn Khallikan: Wafyiat al A’ian 2/ 244 – 248.

[28] Sibauaih: Abu Bishr Ámr ibn Uthman ibn Qunbur (148 – 180 d.H. / 765 – 796 d.C.) o imam dos gramáticos e o primeiro a detalhar a ciência da gramática árabe (al nahw). Nasceu em uma das aldeias da cidade de Shiraz, se mudou para Basra e acompanhou Al Khalil ibn Ahmad e o superou. Veja: Ibn Khallikan: Wafyiat al A’ian 3/463 – 464.

[29] Veja: Mustafa Al Siba’í: Min Rauaí Hadharatina (Das maravilhas de nossa civilização), p. 36,37 (adaptado).