A Civilização Indiana antes do Islam

A Civilização Indiana antes do Islam

 

        Dr. Ragheb El Serjani

Tradução: Sh. Ahmad Mazloum

 

Do progresso ao declínio

A civilização indiana se constituiu no terceiro milênio antes de Cristo e teve grande tradição na história da humanidade. Idealizaram -  conforme a maioria das opiniões – os nove números, tiveram virtude na trigonometria fazendo uso de meias cordas e fizeram as tabelas trigonométricas. Também foram conhecedores da medicina, matemática e astronomia[1]

No entanto, com toda prosperidade e glória alcançados pela civilização indiana, no século VI d.C. ela começou a dar passos em direção à ruína e decadência, especialmente nos assuntos religiosos, morais e sociais. Isto se deu por vários motivos e fatores.

          Abu Al Hassan Al Nadawi[2] – representante da assembleia dos sábios da Índia – retrata isso ao falar sobre a situação da civilização indiana no século VI: “Todos os que escreveram sobre a história da Índia estão em consenso no fato de que a sua mais abominável fase religiosa, moral e socialmente é a etapa que se inicia a partir do século VI cristão”. Após Al Nadawi retratar a corrupção de crença entre eles, disse: “Surgiu na Índia o sistema de classes em seu mais horrível conceito, não é conhecido na história de nenhuma nação um sistema de classes mais duro, mais racista, e mais humilhante contra a honra do ser humano que este sistema. Três séculos antes do nascimento de Jesus se desenvolveu na Índia a civilização Barha, quando foi estabelecido um novo decreto para a sociedade indiana. Nessa época, foi redigida uma lei civil e política que se tornou lei oficial e fonte religiosa na vida social e civil, conhecida hoje como “Manuchester”. Esta lei divide o povo em quatro castas:

  1. Brahmanes: são os sacerdotes e religiosos;
  2. Xátrias: são os guerreiros;
  3. Vaixás: são os comerciantes e os agricultores;
  4. Sudras: são os servos.

 

Esta lei concedeu à casta dos brahmanes exclusividades e direitos que os fizeram deuses. Nele consta que: “os brahmanes são os selecionados de Deus e são os reis das criaturas, tudo o que existe na Terra é posse deles, eles são as melhores criaturas e os senhores da Terra, podem pegar dos bens de seus servos sudras o que quiserem porque o servo nada possui, todos os seus bens são de seu senhor”.

Quanto aos sudras (os excomungados) eram considerados na sociedade indiana – como decretava esta lei civil e religiosa – mais baixos que os animais, mais humilhados que os cachorros. A pena para o assassinato de um cachorro, gato, sapo, lagartixa, corvo, coruja ou um homem desta casta excomungada é a mesma[3].

 

A mulher na sociedade indiana

Quanto à mulher na sociedade indiana[4], era considerada como serva, o homem chegava a perder sua mulher nos jogos, e havia casos em que a mulher tinha vários maridos. Se o marido de uma mulher morrer ela é considerada como uma mulher morta e enterrada, não casa e é alvo de humilhação e acusação. É transformada em serva na casa de seu marido morto e empregada dos cunhados, podendo até queimar a si mesma depois da morte de seu marido para escapar do castigo e infelicidade da vida![5].

Assim era a civilização indiana antes do Islam, repleta de evidente ignorância, baixa idolatria, injustiça social sem comparativo entre as nações e sem similar na história do mundo. Al-Biruni[6] citou algo deste assunto e fez fortes críticas a este sistema em seu livro sobre a Índia, denominado: Um estudo crítico sobre o que a Índia tem, aceito pela razão ou refutado por ela, quem quiser mais informações deve pesquisá-lo.

 

 


[1] Veja: Will  Durant: A História da Civilização 3/238.

9 Abu Al Hassan Annadawi: Abu Al Hassan Ali ibn Abdul Hayi ibn Fakhr Addin Al Hassani (1914-1999 dC), sábio, divulgador combatente e literário destacado. Nasceu e morreu na cidade de Takia na Índia. Dentre os seus principais livros: “O que o mundo perdeu com a decadência dos muçulmanos”.

[3] Veja: Will  Durant: A História da Civilização 3/164-168.

[4] Sobre a situação da mulher na sociedade indiana, veja: A História da Civilização 3/177-183.

[5] Veja: Abu Al Hassan Al Nadwi: O que o mundo perdeu com a decadência dos muçulmanos p. 68-76.

[6] Al-Biruni: Abu Al Rihan Muhammad ibn Ahmad Al-Biruni Al Khawarizmi (262 – 440 d.H. / 973 – 1047 d.C.), filósofo, matemático e historiador. Um dos notáveis cientistas de Khawarizm, famoso entre os reis de sua época. Veja: Al Suiuti: Bughiat Al Wua’t 1/ 50, 51, e Al Zirikli: Al A’alam 5/314.