A Civilização Grega antes do Islam

A Civilização Grega antes do Islam

Dr. Ragueb El Serjani

Traducão: Sh. Ahmad Mazloum

 

Introdução

As civilizações que o mundo viu antes do surgimento do Islam foram diversas. Cada uma dessas civilizações contribuiu com uma parcela para o desenvolvimento da humanidade, porém todas elas se conduziram atrás dos desejos e prazeres, então se corromperam e foram injustas, assim sendo, mereceram a terrível decadência que ocorreu com elas, para sucedê-las uma civilização elevada, que herdou o que há de melhor nestas civilizações, fazendo surgir para nós uma civilização que tem gosto, cor e odor destacados, sob a sombra da qual todos viveram seguros e felizes. Esta é a civilização islâmica.

A civilização grega é considerada uma das mais destacadas das grandes civilizações antigas.   Os gregos inovaram no campo da filosofia, ciências, literatura e artes. Destacaram-se entre eles vários sábios e escritores que foram grandes nomes do pensamento mundial: Sócrates[1], Platão[2], Aristóteles[3], entre outros que carregaram a preocupação de apresentar algumas realidades e estabelecer algumas medidas dentro de suas sociedades, através de seus pensamentos filosóficos e suas pesquisas sobre as manifestações e seus resultados.

 

 

 

O declínio da civilização grega

Mesmo com todo desenvolvimento alcançado pela civilização grega no assunto da filosofia, pensamento e mesmo com a mentalidade genial à qual nenhuma outra civilização se equiparou antes dela, esta civilização começou a declinar gradativamente. As aparências deste declínio se esclarecem quando observamos algo do que os gênios gregos deixaram no auge de sua civilização.

 

A teoria de Platão

De acordo com Platão, em sua teoria sobre a cidade perfeita, o estado ideal deveria ser dividido em três classes sociais: a dos filósofos, a dos guerreiros, a dos produtores. À classe dos filósofos cabe dirigir a república. Eles contemplam o mundo das idéias, conhecem a realidade das coisas, a ordem ideal do mundo e, por conseguinte, a ordem da sociedade humana. À segunda classe – a dos guerreiros – Platão estabeleceu um rigoroso sistema que elimina totalmente a personalidade do indivíduo, os indivíduos do exército não têm direito a propriedade, nem a constituir família, não têm esposas nem filhos, e a mulher é um direito geral de todos os soldados e os filhos destas mulheres não conhecem seus pais e são considerados filhos do Estado. Quanto à terceira classe, a classe dos produtores, estes devem se esforçar para servir a classe dos governantes e a classe do exército, não têm nenhum direito. Os doentes não têm lugar na cidade de Platão, o Estado os expele para bem longe. Esta é a imagem da cidade perfeita de Platão[4].

 

A teoria de Aristóteles sobre a escravidão

E Aristóteles, o grande filósofo, pergunta se a natureza preparou pessoas escravas, então a escravidão se torna para essas pessoas uma atitude permitida e compatível, e ele responde positivamente, pois é imprescindível – de acordo com sua opinião – a existência de uma classe governante e outra governada. A classe superior deve governar a classe mais baixa,  e a natureza normalmente – segundo sua opinião – concede ao escravo um corpo forte enquanto introduz no corpo do livre um raciocínio melhor e um pensamento mais maduro; então o homem livre torna-se pronto a governar, baseando-se na regra de que o pensamento controla o corpo. Aristóteles é contra o princípio da igualdade nos direitos naturais, ele crê que a natureza distinguiu alguns com o raciocínio, deu a outros a capacidade do uso dos órgãos do corpo, assim, a natureza faz os corpos dos indivíduos livres diferentes dos corpos dos escravos, concede aos escravos a força necessária para a realização dos trabalhos pesados, enquanto os corpos dos livres foram criados sem aptidão para inclinar sua composição à realização estes trabalhos pesados, porque a natureza prepara os livres apenas para os trabalhos da vida civil[5].

 

A natureza do pensamento grego

A este ponto chegou o pensamento grego, o qual todos valorizam e o consideram uma das portas da sabedoria! Will Durant cita que os gregos não foram um bom exemplo na moralidade, e revela que isso se deve ao fato de a elevação de suas inteligências ter arrancado muitos deles de suas tradições morais, e ter feito deles indivíduos quase sem ética! Eles não davam preferência a ninguém em detrimento de si mesmos a não ser que fossem seus filhos, pouco sentiam peso na consciência, e nunca pensavam em gostar de seus vizinhos como gostam de si mesmos[6].

Acrescente a isso – no caminho da decadência gradativa da civilização grega – o mergulho deles sobre os desejos e concupiscências e a corrida deles atrás dos prazeres, o que apressou a destruição da civilização deles. As relações sexuais se libertaram dos limites, fato que esgotou a vida dos adultos; os filósofos também admitiram a matança de crianças, argumentando que ameniza a pressão dos habitantes sobre os recursos de subsistência, e isso ocasionou a desabitação das cidades e a seca da terra.

Podemos dizer que a libertação dos limites morais e a tendência egoísta individual apressaram a destruição dos gregos. Menandro retratou em suas peças teatrais a vida ateniense como uma vida que gira em torno dos baixos assuntos, da sedução e do adultério e, assim sendo, o declínio foi natural[7].

 


[1] Sócrates: (469 – 399 aC). Filósofo e mestre grego, nasceu e morreu em Atenas, é o primeiro sábio no campo da raciocínio, filosofia e lógica.

[2] Platão: Seu verdadeiro nome é Aristócles  (427 – 347 aC). Filósofo e mestre grego, é considerado um dos principais pensadores da cultura ocidental, a ponto de a filosofia ocidental ser considerada rodapé de Platão. Entre as suas principais obras: A República de Platão.

[3] Aristóteles: (384 – 322 a.C). Filósofo grego, conhecido como “grande mestre”. Foi um dos alunos de Platão e mestre de Alexandre, o grande. Escreveu em diversos assuntos, que incluem a lógica, física, poesia, biologia e formas de governo.

[4] Ahmad Shalabi: Enciclopédia da Civilização Islâmica 1/45.

[5] Ghanem Muhammad Saleh: O Pensamento Político Antigo e Médio, p 109,110.

[6] Will Durant: A História da Civilização, 7/93 em diante.

[7] Veja: Shauqui Abu Khalil: A Civilização Árabe Islâmica e um Resumo sobre as Civilizações Anteriores, p 86.