A Criação de Ciências Específicas sobre a Lei Islâmica

Assuntos Islâmicos

04/06/2020

A Criação de Ciências Específicas sobre a Lei Islâmica

Nenhuma nação deu tanta atenção à sua religião como o fez a nação muçulmana. Isso se revelou na inovação de ciências puramente islâmicas, semelhantes às quais jamais existiram em nenhuma nação. Dentre as mais importantes destas ciências:

1 – Ciência dos fundamentos do Hadith (Usul Al-Hadith):

A ciência dos fundamentos do Hadith é uma ciência relacionada com a Sunnah (tradição) do Profeta Muhammad, que é considerada a segunda fonte de legislação islâmica, sucedendo o Alcorão Sagrado. A importância da Sunnah decorre do fato de que ela explica e detalha o Alcorão. O profeta (a paz esteja com ele), através de suas palavras, atos e aprovações, interpretou e explicou o Alcorão e orientou os muçulmanos à maneira de aplicar o Islam e executar suas leis.

As partes da ciência dos fundamentos do Hadith

A ciência do Hadith é definida como “a ciência dos fundamentos pelos quais são conhecidas as condições do Sanad (a cadeia de narradores) do Hadith e o seu Matn (o texto do Madith). O objetivo desta ciência é conhecer o Hadith autêntico e discerni-lo dos outros. É dividido em duas disciplinas:

Ciência do Hadith “Riwaih” (Ciência do Hadith por narração): É a disciplina que abrange a transmissão pura e exata de tudo que foi atribuído ao Profeta (a paz esteja com ele) dentre dizer, prática, aprovação ou característica física ou moral.

Ciência do Hadith “Diraiah” (Ciência do Hadith por informação): É a disciplina que estuda os fundamentos e regras que levam a determinar o Hadith Sahih (correto e autêntico), Hassan (bom) e Da’eef (fraco) e as categorias de cada um deles e o que está relacionado a isso de conhecimento do significado da narrativa, as suas condições, as seções e as situações dos narradores e suas condições, Al-Jarh & Al-Ta’dil (Avaliação de Crítica e Confiabilidade), a história dos narradores, suas datas de nascimento e de morte, saber os textos que revogaram e os textos que foram revogados (Al-Nasikh wa Al-Mansukh), os termos divergentes e termos raros do Hadith (Mukhtalaf Al-hadith wa Gharibuh), entre outros estudos. Em suma, esta disciplina é o conhecimento das regras que revelam a situação do narrador e da narração, as condições do Sanad e Matn em termos de aceitação ou rejeição, o que é denominado Usul Al-Hadith (fundamentos do Hadith) ou Mustalah Al Hadith (terminologia do Hadith).

Esta ciência foi criada para proteger os Hadith do profeta (a paz esteja com ele) da mentira e da invenção e para saber o que é correto atribuir ao mensageiro (a paz esteja com ele) e o que não é correto.

Al-Ramahurmuzi[1] é considerado o primeiro autor de uma obra na qual expôs muitas das regras e termos dos Muhaddithin (estudiosos do Hadith). Ele denominou seu livro “Al-Muhaddith Al-Faasil bain Al-Rawi wa Al-Wa’i”. Foi seguido por Al-Hakim Al-Naisaburi[2], que escreveu seu livro “Ma`Rifat `Ulum Al-Hadith” (Conhecimento das Ciências do Hadith), em seguida, Abu Nu’aym Al-Asbahani[3], em seu livro “Al-Mustakhraj `ala Ma`Rifat Ulum Al-Hadith”. Em seguida, veio Al-Khatib Al-Baghdadi, que escreveu um livro intitulado “Al-Kifaayah fi Ilm Al-Riwayah”, e Al-Qadi ‘Eyaad compilou um livro nomeado “Al-Ilmaa ila Ma`Rifat Usul Al-Riwayah wa Taqeed Al-Asamaa”. Finalmente, Ibn Al-Salah escreveu seu famoso livro “Ulum Al-Hadith” (As Ciências do Hadith), que foi um livro abrangente e um resumo das obras anteriores, e foi bem recebido pelos estudiosos e se tornou uma referência para a maioria do que foi escrito depois dele. Alguns fizeram um resumo dele, enquanto outros fizeram uma explicação, enquanto outros se dedicaram em indicá-lo ou organizá-lo de formas diferentes. Um dos livros mais importantes que foram escritos de forma independente depois do livro de Ibn Al-Salah foi uma mensagem resumida escrita por Al-Hafidh Ibn Hajar Al-Asqalani[4], à qual ele denominou “Nukhbat Al-Fikr”, em seguida, ele mesmo fez uma explicação desse livro e a denominou “Nuzhat Al-Nadhar”. Há muitos outros livros escritos nas épocas seguintes, cuja enumeração é demorada[5].

E assim, os tipos de ciências do Hadith se diversificaram de acordo com a dimensão pela qual se observa o Hadith. Em termos de tema do Hadith, ele pode ser dividido em dois: Sanad (os narradores que transmitiram o seu texto), Matn (as palavras do Hadith que indicam os seus significados e nas quais o Sanad termina).

Em termos de atribuição a quem o disse, o Hadith é dividido em três categorias: Marfu’ (atribuído ao Profeta): Uma narração atribuída diretamente ao Profeta (a paz esteja com ele); Mauquf (uma transmissão restrita): A narração atribuída a um companheiro, o Sanad (corrente de transmissão) teve seu fim na atribuição ao companheiro do Profeta (a paz esteja com ele); Maqtu’ (uma transmissão interrompida): A narração de um sucessor dos companheiros (Tabi’i).

Em termos da maneira pela qual o Hadith nos chegou, o Hadith é dividido de acordo com o número de relatores em cada etapa do Isnad: 1) Mutawatir (transmissão difundida e indubitável): Um relatório Mutawatir é o que foi relatado por um grande número de pessoas em cada etapa do Isnad, de maneira que seja racionalmente e comumente impossível que tenham feito acordo numa mentira. O Hadith Mutawatir também se divide em Mutawatir em seu texto e em Mutawatir em seu significado. 2) Ahad (de transmissão única) ou Ikhbar Al Ahad: um Hadith no qual as condições do Hadith Mutawatir não estão disponíveis. É dividido em três categorias: Mash-Hur (bem conhecido), que é o Hadith relatado em cada estágio do Isnad por mais de dois transmissores; Áziz (raro), é um Hadith que tem no máximo dois transmissores em cada etapa de seu Isnad; Gharib (desconhecido), é o Hadith relatado por apenas um transmissor em todos ou em alguns estágios do Isnad. É também denominado “Al Fard”.

Em termos de aceitação e rejeição, o Hadith é dividido em três categorias: 1) o Hadith Sahih, que é dividido em duas seções: Sahih para si e para os outros; 1) o Hadith Hassan, que também se divide em: Hassan para si e para os outros; 3) o Da’eef (fraco), este tem muitas subseções, como por exemplo: Mu’allaq (em que um ou mais narradores consecutivos foram omitidos no início do seu Sanad), Mursal (apressado), Mudallas (ocultado), Mursal Khafi (relatório oculto), Munqati’ (relatório com cadeia de transmissão interrompida), Mu’dal (relatório problemático), Maudu’ (inventado/ forjado), Matruk (abandonado), Matruh, Shazh (irregular), Munkar (declinado), Mudtarib (instável), Maqlub (alterado / invertido), Mudraj (interpolado), Mazid (aumentado), Mussahhaf (relatório de cadeia distorcida) e Muharraf (relatório de texto distorcido).

A nação muçulmana tem todo o direito de ter orgulho desta ciência e suas regras, ciência que foi estabelecida para que esta nação nos transmita a palavra, ações e aprovações do profeta (a paz esteja com ele) de maneira clara e livre de qualquer suspeita e acusação.


2 – Al-Jarh & Al-Ta’dil (Avaliação de Crítica e Confiabilidade):

Os Hadiths e as notícias do Profeta (a paz esteja com ele) só podem ser conhecidos através dos narradores e transmissores, este é um fato conhecido claramente. Assim sendo, a observação das condições destes narradores, rastrear os seus caminhos, conhecer seus objetivos e tendências, conhecer seus cargos e níveis, distinguir entre quem é confiável e quem é fraco, este foi o mais importante meio para se conhecer e se distinguir as informações autênticas das falsas.

E este é o assunto da ciência de Al-Jarh wa Al-Ta’dil ou Al-Rijal (narradores de Hadith), uma ciência que não tem similar em nenhuma outra nação do mundo. Os princípios e regras desta ciência foram bem elaborados e estabelecidos para medir minuciosamente as condições dos narradores em termos de confiabilidade e falta de confiabilidade, em termos de aceitação e rejeição. Esta ciência foi considerada a metade das ciências do Hadith porque pesa os narradores do Hadith e julga-os e é o protetor da Sunnah de toda falsidade e intromissão.

Os estudiosos do Hadith se apressaram em defender o Hadith do profeta (a paz esteja com ele), por receio de haver falsificação, invenção e mentiras, por motivos como diferenças políticas, tendências partidárias, objetivos ideológicos, opiniões sectárias, elaboração de histórias que poderiam atrair os ouvintes, aproximação dos governantes ou conspiração contra o Islam. Esses estudiosos seguiram uma metodologia definida que ficou conhecida como a ciência de Al-Jarh wa Al-Ta’dil, que é baseada no estudo das correntes de transmissão do Hadith (Dirassat Assanid Al Hadith), ou seja, a cadeia de narradores que transmitiu esse Hadith, levando em consideração que esta cadeia é o caminho que leva ao Matn (texto) e ao seu nível. Nenhuma prova de confiabilidade do Hadith é maior que a confiabilidade e credibilidade do seu narrador. Se não fosse o Isnad (a corrente de transmissão), quem desejasse poderia ter dito o que desejasse. E se não fosse o estudo e o desenvolvimento desta ciência, o farol do Islam poderia ter se destruído e os descrentes e inovadores poderiam ter se alicerçado inventando dizeres e atribuindo-os ao profeta (a paz esteja com ele)[6].

A definição de Al-Jarh wa Al-Ta’dil

Al-Jarh em termos de definição é a descrição do narrador ou a sua lesão e crítica de maneira que se torna obrigatória a rejeição de sua narração. Al-Ta’dil é a descrição do narrador de maneira que seja aceita a sua narração. Assim, a ciência de Al-Jarh wa Al-Ta’dil é uma disciplina que verifica o narrador e dá a descrição dele, usando terminologias específicas e estuda os níveis destas terminologias. Esta ciência se destina a proteger a Shari’a, portanto é uma ciência que tem a sua legalidade na proteção da religião objetivando o bom conselho e descrevendo a situação de quem nós recebemos dele a ciência da religião. Portanto, não se destina a maledicência das pessoas, mas sim a proteger a religião[7].

Os estudiosos desta ciência não tem caprichos ou não são motivados por assuntos pessoais, por isso eles nunca lisonjearam ninguém, mesmo se for o familiar mais próximo. Existiu entre eles, quem criticou o seu próprio pai. Ali Ibn Al-Madini[8] foi questionado sobre a confiabilidade de seu pai e ele respondeu: “Perguntem a alguém além de mim”. Disseram-lhe: “Perguntamos a ti”. Ele parou por um tempo e depois levantou a cabeça e disse: “Esta é a religião. Meu pai é Da’eef (fraco, inconfiável na transmissão)”[9]. Houve quem sentenciou que seu filho ou irmão é Da’eef. Zaid Ibn Abi Anissah[10] disse: “Não tome (Hadith) do meu irmão Yahia[11].”

Condições de quem pode avaliar

Por isso, existem certas condições que devem ser aplicadas no crítico (Al-Jarih) e avaliador (Al-Mu’addil), entre elas:

– Ter conhecimento, temor e veracidade.
– Saber as razões de Al-Jarh wa Al-Ta’dil.
– Ter conhecimento da língua árabe, para não interpretar mal as palavras e não lesar e criticar com a sua transmissão um termo que não merece crítica[12].


Termos de Al-Jarh wa Al-Ta’dil

Os estudiosos do Hadith estabeleceram determinados termos para descrever narradores, para distinguir entre os níveis de suas narrações em termos de aceitação e rejeição. Esses termos são os seguintes:

Primeiro: Termos de Al-Tawthiq ou Al-Ta’dil (confiabilidade)

  • Termos utilizados para confiabilidade em demasia, utilizando o superlativo, tais como a mais confiável das pessoas, o mais exato das pessoas.
  • Termos nos quais a qualificação de Tawthiq é repetida, como “Thiqatun Thiqah” (muito confiável) ou “Thiqatun Hafidh” (confiável e memorizador).
  • Em que as palavras de Tawthiq são citadas uma vez, como “Thiqah” (confiável), Thabt (memorizador com exatidão), Imam, Hujjah (referência). Ou os termos se duplicaram, porém com significado único: justo e memorizador.
  • Termos nos quais é citado: “nenhum problema com ele”, tais como aqueles usados por Ibn Ma’in[13], ou Saduq (muito honesto).
  • Termos nos quais dizem: É fonte de confiança ou não é distante da verdade, Sheikh, veraz que tem erros, veraz Inshallah (com a permissão de Allah), espero que não tenha problema, não conheço problema com ele, homem de bom Hadith.

Para julgar estas categorias, se um narrador é descrito com uma das três primeiras categorias, suas narrações são “Sahih”, e uns são mais autênticos que os outros. Quanto aos narradores da quarta categoria, os seus Hadith são “Hassan”, enquanto os da quinta categoria, o seus Hadith não são considerados, mas são escritos para consideração. Se houver concordância com outros são aceitos, caso contrário, são rejeitados.

Segundo: Termos de Al-Jarh (crítica)

1- Descrição que prova demasia na crítica. O termo mais claro é o superlativo, por exemplo: “O maior de todos os mentirosos” (Akzhab Al-Nas). Outro exemplo: é um pilar da mentira.

2- Sobre quem foi dito: inventor, mentiroso, forja o Hadith, inventa o Hadith, ou “não é nada” na terminologia de Asshaf’i.

3- Quem foi descrito como: acusado de mentira, ou invenção, rouba o Hadith, seu Hadith é abandonado, não é de confiança, etc.

4- Quem foi descrito como: seu Hadith foi rejeitado, muito fraco, não permitido transmitir dele, Munkar Al Hadith (para Al Bukhari),etc.

5-Quem foi descrito como: Da’eef (fraco), o classificaram fraco, Munkar Al Hadith (além de Al-Bukhari) ou Mudtarib Al-Hadith (de Hadith instável) ou não recomendado como um narrador.

6-Quem foi descrito como: existe opinião (negativa) sobre ele, nele tem fraqueza, não é forte, não é referência, tem má memória, maleável, etc.

 

Nas quatro primeiras categorias, não é aceita a narração de nenhum de seus membros. Os muçulmanos não podem receber um Hadith a partir deles e não são considerados. Os Hadith dos narradores da primeira e segunda categorias são considerados Maudu’ (forjados), enquanto o Hadith dos narradores classificados na terceira categoria são considerados Matruk (abandonados), e o Hadith narrados pelos narradores classificados na quarta categoria são Dha’if jiddan (muito fracos). E o Hadith narrado pelas quinta e sexta categorias são escritos para consideração, e pode ser promovido a Hassan se os seus caminhos (de transmissão) se diversificarem (se for narrado por diferentes linhas (de transmissão))[14].

Assim, os estudiosos assimilaram bem os resultados de seus estudos de narradores em seus livros sobre a Al-Jarh wa Al-Ta’dil. Eles colocaram os narradores fracos (Da’if) em livros chamados “Al-Dua’afa”, “Al-Dua’afa Al-Kabir” e “Al-Dua’afa Al-Saghir” (de autoria de Al-Bukhari) e “Al-Dua’afa wa Al- Matrukin” (de Al-Nassai’i)[15]. Eles também colocaram os narradores confiáveis (Thiqat) em livros denominados “Al-Thiqat”, como “Al-Thiqat” compilado por Ibn Hiban. Há também livros que reúnem narradores fracos e confiáveis, tais como “Al-Tabaqat Al-Kubra” (Ibn Sa’d) e “Al-Takmil fi Marifat al-Thiqat”, “Al-Dua’afa wa Al-Majahil” (escrito por Al-Hafiz Ibn Kathir)[16].

Tudo isso revela os esforços empreendidos pelos estudiosos muçulmanos para documentar e autenticar a Sunnah e proteger os ditos do profeta (a paz esteja com ele). Eles não deixaram pedra sobre pedra, não deixaram nenhum caminho para definir a credibilidade da Sunnah sem trilhá-lo e criaram essa ciência, que é considerada exclusiva da nação muçulmana, não existindo ciência similar na história humana antiga nem moderna.

Assim, foram compilados os livros Al Sihah (de Hadith autênticos) – os seis livros famosos e outros -, em seu topo Sahih Al-Bukhari e Muslim, que são os livros mais autênticos conhecidos em toda a história.

3- A ciência dos fundamentos da jurisprudência (Usul Al-Fiqh):

Quando se refere aos grandes feitos da civilização islâmica é imprescindível mencionar a ciência dos fundamentos da jurisprudência, esta ciência que somente a nação muçulmana tem. Nenhuma nação anterior teve e nenhuma nação posterior terá uma disciplina independente, como a ciência dos princípios da jurisprudência islâmica, em sua integração e sua precisão, com as quais é capaz de definir suas regras e estatutos.

A definição da ciência dos fundamentos da jurisprudência

Esta ciência, como Ibn Khaldun mencionou, tem sua origem no Islam. É considerada uma das maiores e mais importantes ciências religiosas e uma das disciplinas mais úteis. Ela significa: A observação das provas da lei religiosa a partir das quais se assimilam as leis e as obrigações[17]. Em outras palavras: O conhecimento das bases e das provas com as quais chegamos às regras religiosas.

O objetivo da criação desta grande ciência é servir o Islam e servir as suas regras que organizam o comportamento opcional das pessoas. Esta ciência teve início quando surgiram discussões sobre a consideração de alguns jurisprudentes no estabelecimento de regras religiosas ou na sua assimilação conforme algumas metodologias e princípios que eram divergidos por outros. Então, era necessário estabelecer argumentos e provas religiosamente aceitos para autenticar o que é autêntico, e para escolher o que é mais provável quando há certa divergência na opinião. Então, surgiram os primeiros manuscritos em forma de mensagens, contendo regras fundamentais do que deve ser considerado uma diretriz básica, do que é permitido considerar e do que não é permitido considerar e se apoiar sobre ele como diretriz[18].

Al Shaf’i, o fundador desta ciência

Al Imam Abu Abdullah Muhammad ibn Idris Ash-Shafi’i é considerado o primeiro autor de um livro sobre Ussul Al-Fiqh (fundamentos da jurisprudência). Ele é o fundador desta disciplina e quem elaborou os seus princípios. Ele é autor de vários livros da disciplina, entre eles o seu famoso livro “Al-Risalah, “Juma Al Ilm”, “Ibtal Al-Istihsan”, “ikhtilaf Al-hadith”.

Ibn Khaldun disse: “O primeiro a escrever sobre o assunto foi Ash-Shafi’i. Ele ditou a sua famosa Risalah (mensagem), na qual ele discutiu as ordens e as proibições, os textos, as obrigações, a regra do motivo indicado no texto em relação à analogia. Mais tarde, os juristas Hanafis escreveram sobre o assunto e sobre a derivação das normas das questões da jurisprudência, na medida do possível. Um de seus principais estudiosos, Abu Zaid Al-Dabussi[19], escreveu mais extensamente sobre o raciocínio analógico do que qualquer outro estudioso. Ele completou os métodos de pesquisa e condições que regem esta disciplina. Assim, a técnica dos princípios da jurisprudência foi aperfeiçoada, as suas questões foram refinadas e as suas regras básicas foram estabelecidas. Os estudiosos também se ocuparam com os métodos dos teólogos especulativos (Al Mutakallimin). Dentre os melhores livros escritos por teólogos sobre o assunto: Kitab Al-Burhan, por Imam Al-Haramayn Al Juaini, Al Mustasfa, por Al-Ghazali (falecido em 505 dH). Ambos os autores foram Ash’ari. Havia mais dois livros, o Kitab Al-‘Ahd por Abdul Jabbar[20], e os comentários sobre ele, intitulado Al-Mu’tamad, por Abul-Hussain Al-Basri[21]. Ambos os autores foram Mu’tazilah. Estes quatro livros foram as obras de base e pilares desta disciplina. Eles foram posteriormente resumidos por dois excelentes teólogos mais recentes, o Imam Fakhr-Addin Ibn Al-Khatib (falecido em 606 dH), em seu livro Al-Mahsul, e Sayf-Addin Al-Amidi[22], em seu livro Al-Ihkam[23].

Os estudiosos muçulmanos de diferentes escolas de Fiqh deram o seu melhor para extrair e elaborar fundamentos principais que definem o método do jurista (Faqih) que se dirige para a extração de regras para o comportamento humano a partir das fontes da legislação islâmica, para que o trabalho dos estudiosos que extraem as regras não seja desordenado e não observe qualquer regra estudada. Devido a essa orientação, nasceu a ciência de Ussul Al-Fiqh, uma ciência extremamente profunda e racional e que é muito perspicaz na descrição das regras fundamentais e no esclarecimento do sistema que deve ser seguido por quem extrae as regras. Assim se originou esta ciência, enquanto nenhuma outra nação jamais teve ciência similar[24].

Aqueles que escrevem as leis com base em opiniões humanas e conforme os seus interesses pessoais e os seus caprichos elogiaram a glória da ciência de “Ussul Al Fiqh” entre os muçulmanos. Eles, aliás, se beneficiaram de alguns dos seus princípios em seus estudos sobre as pesquisas léxicas, a analogia, Al Massalih Al Mursalah (apreciação de interesse público) e também fizeram uso de algumas das cinco faculdades, cuja preservação é considerada dos objetivos da lei islâmica: a fé, a vida, a razão, a descendência e a riqueza. Qualquer coisa que preserva essas necessidades ou alguma delas é considerado um interesse/benefício (Maslahah) e tudo que falta com uma delas é considerado um prejuízo (Mafsadah), e há diferentes classes e níveis entre elas, algumas são consideradas da classe das necessidades primárias (Al Dharuriyat), que é a classe superior e tem vários níveis. Há também a classe das necessidades (Al Hajiyat), que é a classe mediana e tem níveis variados, e também a classe das superfluidades (Al Tahsiniyat), que é a classe mais baixa e tem também diversos níveis[25].

Assim, a ciência de Ussul Al-Fiqh é uma invenção islâmica e um grande fenômeno da civilização.


[1] Al-Ramahurmuzi: Abu Muhammad ibn Al-Hassan Abdel Rahman ibn Khallad (360 dH/970 dC), foi um grande erudito do hadith dos não árabes em sua época. Seu livro famoso é: “Al-Muhaddith Al-Faasil bain Al-rawi wa al-wa’i. Veja: Al-Safadi: Al-Wafi bel Wafiyat 12/42.

[2] Al-Hakim Al-Naisaburi: Abu Abdullah Muhammad ibn Abdullah ibn Hamdawuh (321-405 dH/933-1014 dC), um dos memorizador de hadith sênior. Ele nasceu e morreu em Naisabur. Veja: Ibn Khillikan: Wafiyat Al-A’ayan 4/280-282.

[3] Abu Al-Nu’aym Asbahani: Ahmad ibn Abdullah ibn Ahmad Al-Asbahani (336-430 dH/ 948-1038 dC), memorizador, historiador, um dos narradores confiáveis. Seu famoso livro é “Hiliat Al-Awliya wa Tabakat Al-Asfiya”. Veja: Shazarat Al-Dahab 2 / 245.

[4] Ibn Hajar Al-Asqalani: Abu Al-Fadl Ahmad ibn Ali ibn Muhammad Al-Kanani (773-852 dH / 1372-1449 dC), um dos líderes religiosos na história. Ele nasceu em Ashkelon, e morreu no Cairo. Seu famoso livro é “Fath Al-Bari”. Veja: Ibn Al-Imad: Shazarat Al-Dahab 7/270-273.

[5] Veja: Mahmud al-Tahan: Taissir Mustalah Al-Hadith, p 12-15.

[6] Veja: Muhammad Dhaifullah Al-Batayna: A Civilização Islâmica, p 322.

[7] Veja: Al-Sharif Hatim ibn Arif al-Aouni: Khulassat Al-Ta’sil li ‘Ilm Al-Jarh Al-Ta’dil, p 6.

[8] Ali ibn Al-Madini: Abu Al-Hassan Ali ibn Abdullah ibn Jaafar Al-Sa’di (161-234 dH / 777-849 dC), veja: Al-Asfahani: Shazarat Al-Dahab 2 / 81.

[9] Ibn Hiban : Majruhin-Al 15/02.

[10] Zaid ibn Abi Anissah: (124 AH), ele é Abu Zaid Usamah ibn Abi Anisa Al-Jazri Al-Rahawi, Hafiz imã, imãs de alto nível como ele citou como Imam Abi Hanifa e Imam Malik. Veja: Al -Zahabi: Siyar Al-Alam Al-Nubala 6 / 88.

[11] Al-Sakhawi: Fath Al-Mughith 3 / 355.

[12] Veja: Al-Sharif Hatim ibn Arif al-Aouni: Khulassat Al-Ta’sil li ‘Ilm Al-Jarh Al-Ta’dil, p 27, Abu Al-Hassanat Al-Luknawi Al-Hindi: Al Raf’ wa Al Takmil, p 67.

[13] Yahia ibn Ma’in: Abu Zakariyah Yahia ibn Ma’in ibn A’un ibn Ziad ibn Bastam ibn Abdul Rahman Al-Miri Al-Bughdadi (158-233 dH/755-848 dC), ele é um famoso Hafidh (memorizador) e imam. Veja: Ibn Khillikan: Wafiyat Al-A’ayan 6 / 139. Al-Zirikli: Al A’alam 8 / 172. Veja: Mahmud al-Tahan: Taissir Mustalah Al-Hadith, p 116-118.

[14] Veja: Mahmud Al-Tahan: Taissir Mustalah al-Hadith, p 116-118.

[15] Al Nassai’i: Abu Abdul Rahman Ahmad ibn Shuaib ibn Ali Al-Khurassani (215-303 dH/830-915 dC), um dos famosos imams da ciência do hadith e um escritor da Sunnah. Ele nasceu em Khurasan e morreu em Makkah. Veja: Al-Zahabi: Siyar A’lam Al Nubala 14/125.

[16] Veja: Muhammad Daifullah Al-Batayna: Civilização Islâmica, p 323, Mahmud al-Tahan: Taissir Mustalah Al-Hadith, p 115-116.

[17] Ibn Khaldun: al-Ibar wa Diwan A-Mubtada wa Al-Khabar 1 / 452.

[18] Abd Al-Rahman Hassan Habannakah: A Civilização Islâmica, p 518, 520.

[19] Al-Dabussi: Ele é Abu Zaid Abdullah ibn Umar ibn Issa (430 dH/1039 dC), ele é um dos jurisprudentes seniores da escola Hanafi e o primeiro autor de um livro sobre a disciplina de divergências. Ele nasceu em Dabbusiyah (entre Bukhara e Samarcanda), e morreu em Bukhara. Veja: Ibn Khillikan: Wafiyat Al-A´ian 3 / 48.

[20] Abdul Jabbar: É o juiz dos juízes Abu Al Hussain Abdul Jabbar ibn Ahmad Al Hamazani (415 dH/1025 dC). Ele era um jurisprudente sênior da escola Shafi’i. Era o sheikh dos mu’tazilah em sua época. Ele foi nomeado desembargador em Al-Ri, onde morreu. Ele tem muitos livros famosos como “Tanzih Al-Quran A’n Al-Mata’in”. Veja: Al-Zahabi: Siyar A’lam Al-Nubala 17/244, 245.

[21] Abul-Hussain Al-Basri: Ele é Muhammad ibn Ali Al-Tayib (436 dH/1044 dC), um dos líderes dos mu’tazilah. Ele nasceu e viveu em Basra e em Bagdá, onde morreu. Seu livro famoso é “Al-Mu’tamad fi ussul Al-Fiqh”. Veja: Ibn Khillikan: Wafiyat al A’ayan 4 / 271.

[22] Sayf-ad-Din al-Amidi: Ele é Abu Al-Hassan Ali ibn Muhammad ibn Salim Al-Taghlubi (551-631 dH/11560-1233 dC), ele era um professor de ciências da lógica, retórica e teologia . Ele nasceu em Diar Bakr e morreu em Damasco. Seu livro famoso é “Al- Ihkam fi ussul Al-Ahkam”. Veja: Al-Zahabi: Siyar A’lam Al-Nubala 22/364-36.

[23] Ibn Khaldun: al-Ibar wa Diwan Al-Mubtada wa Al-Khabar 1 / 455.

[24] Abd Al-Rahman Hassan Habannakah: A Civilização Islâmica, p 519.

[25] Idem: p 520.