A Liberdade de Pensamento na Civilização Islâmica

A Liberdade de Pensamento na Civilização Islâmica

A Liberdade de Pensamento na Civilização Islâmica

Dr. Ragueb El Serjani

Tradução: Sh. Ahmad Mazloum

 

          O Islam garantiu a liberdade de pensamento, o que ficou explicitamente claro quando o mesmo convocou para o uso da razão e do pensamento em todos os cantos do Universo, com seu céu e sua Terra, e incentivou isso com abundância. É parte dessa convocação o dizer de Allah, exaltado seja: “Dize: Apenas, exorto-vos a uma única questão: a vos manterdes, diante de Allah, de dois em dois ou de um em um, em seguida a refletirdes” (Sabá: 46). E disse também: “Acaso, não caminharam eles, na terra, e tiveram corações com que razoassem, ou ouvidos com que ouvissem? Pois, por certo, não são as vistas que se enceguecem, mas se enceguecem os corações que estão nos peitos” (Al hajj: 46).

 

O Islam incentiva o uso da razão e dos argumentos racionais 

          O Islam ainda atribuiu a falha àqueles que desempregam suas capacidades mentais e sentimentais no cumprimento de suas missões, e os condenou a um nível mais baixo que o nível dos animais irracionais. Disse Allah, o Altíssimo: “Eles têm mentes com as quais não pensam, e têm olhos com os quais não vêem, e têm ouvidos com os quais não ouvem. Estes são como os gados, porém são ainda piores. Estes são os desatentos” (Al A´raf: 179).

          E o Islam promoveu uma feroz campanha contra os que seguem as ilusões e as conjecturas. Disse Allah, o Altíssimo: “Não seguem senão as conjecturas. E, por certo, as conjecturas de nada valem diante da verdade” (Annajm 28). Também foi contra os que imitam os antepassados ou os líderes sem observar se estão em verdade (se têm razão) ou em falsidade; degradou-os dizendo: “E disseram: Senhor nosso! Obedecemos a nossos senhores e a nossos magnates, então, eles desviaram-nos do caminho” (Al Ahzab: 67).

          O Islam se baseia nas provas racionais para comprovar a crença islâmica, por isso, os sábios muçulmanos dizem que “a razão é a base da transmissão (da revelação)”. Portanto, a questão da existência de Allah se constitui com a comprovação do raciocínio, a questão da profecia de Muhammad (a paz esteja com ele) também se firmou através do raciocínio inicialmente, em seguida, os milagres comprovaram a autenticidade de sua profecia. Isto é o respeito do Islam pelo raciocínio e pensamento.

 

O valor do pensamento no Islam

          O pensamento no Islam é considerado uma obrigação religiosa, não é permitido ao muçulmano abandoná-lo em qualquer situação. O Islam abriu extremamente as portas para a utilização do pensamento nos assuntos religiosos para ser possível a busca de soluções legais para tudo o que se renova de questões na vida. Os sábios muçulmanos denominaram este assunto de al ijtihad (empenho e diligência particular para a solução das questões que não têm texto específico), com o significado de se apoiar no pensamento para a extração das leis religiosas[1]

          Al Ijtihad – que materializa a liberdade de pensamento no Islam - teve grandiosa influência no enriquecimento dos estudos da lei islâmica entre os muçulmanos e no encontro de soluções rápidas para as questões que não tinham similar na primeira época do Islam. A partir desse esforço, nasceram as famosas escolas de entendimento religioso islâmico (mazhahib al fiqh), e o mundo islâmico vive conforme os seus ensinamentos até os dias de hoje.

          Assim é o apoio do muçulmano sobre o seu raciocínio e pensamento - no que é duvidoso e confuso para ele dos assuntos de sua vida e sua religião, daquilo que não tem texto religioso específico – que é o primeiro pilar na posição racional firme do Islam. Esta posição é considerada a base sobre a qual os muçulmanos construíram sua civilização florescente durante a história do Islam[2].

 


[1] Veja: Mahmud Hamdi Zaqzuq: Realidades islâmicas na resposta às campanhas para lançar dúvidas (sobre o Islam), p 53.

[2] Mahmud Hamdi Zaqzuq: O ser humano é legatário de Deus – O pensamento é uma obrigação. Artigo publicado no jornal Al-Ahram, a edição 1 de Ramadan 1423, novembro de 2005.