O Meio Ambiente na Civilização Islâmica

O Meio Ambiente na Civilização Islâmica

Dr. Ragueb El Serjani

Tradução: Sh. Ahmad Mazloum

 

          Allah criou o meio ambiente puro, saudável, beneficente, o submeteu para o ser humano e fez obrigatório a necessidade de preservá-lo, assim como o convidou a pensar sobre os sinais de Allah no Universo, que foi criado na melhor forma. Disse Allah, o Altíssimo: “Então, não observam eles o céu, acima deles, como o edificamos e o aformoseamos, e como não há fresta alguma nele? E a terra, estendemo-la e, nela, implantamos assentes montanhas e, nela, fazemos germinar toda espécie de esplêndidos casais de plantas” (Qaf: 6-7).

 

O homem e o meio ambiente

          A partir daqui nasceu uma relação de amor e carinho entre o indivíduo muçulmano e o meio ambiente que o rodeia, entre seres inanimados e seres vivos. Assim, este indivíduo percebeu que a preservação do meio ambiente é um benefício para ele em sua vida porque ele terá uma vida feliz; e em sua eternidade, onde terá a grande recompensa de Allah.

          A visão do profeta (a paz esteja com ele) sobre o meio ambiente confirma esta visão alcorânica que abrange o Universo e que se baseia no fato da existência de uma relação fundamental e um vínculo de benefício mútuo entre o homem e os elementos da natureza, cujo ponto de partida é a crença em que se o homem fizer mal uso de um elemento dos elementos da natureza ou exagerar em seu uso, o mundo inteiro será prejudicado diretamente.

Imagens da proteção do meio ambiente na lei islâmica

          Por isso, a lei islâmica estabeleceu uma diretriz geral para todos os humanos que vivem na face da Terra, que significa não criar qualquer dano a este Universo. Disse o profeta (a paz esteja com ele): “Não é permitido dano nem prejuízo...”[1].

          Em seguida, seguiram-se uma série de legislações islâmicas que proíbem a poluição do meio ambiente ou sua destruição. Disse o mensageiro (a paz esteja com ele): “Evitem as três maldições: fazer necessidades nos recursos, a beira da estrada e a sombra”[2].

          O mensageiro (a paz esteja com ele) fez do desviar a moléstia do caminho um dos “direitos do caminho”. Abu Said Al Khudri narra que o profeta (a paz esteja com ele) disse: “Cuidado com o sentar nos caminhos”. Disseram: “Nós precisamos, são tão somente as nossas reuniões, nas quais conversamos”. Então, o profeta (a paz esteja com ele) disse: “Se se recusardes e só aceitardes sentar-se, então dei ao caminho o seu direito”. Então, perguntaram: “E qual é o direito do caminho, ó mensageiro de Allah? Respondeu: “... e evitar a moléstia...”[3]. Este é um termo abrangente a tudo o que prejudica as pessoas que usam as ruas e os caminhos.

          Mais que isso, o mensageiro relacionou a recompensa e a preservação do meio ambiente. Ele disse: “Me foram apresentadas as ações da minha nação, as boas e a más, dentre as suas boas ações: a moléstia que é tirada do caminho, e entre a suas más ações: o excremento dentro da mesquita sem ser enterrado”[4].

          Em seguida, ordena claramente a limpeza das casas dizendo: “Allah é Puro e ama a pureza, Limpo e ama a limpeza... limpem vossos quintais, não se assemelhem aos judeus”[5].

          Quão maravilhosos são estes ensinamentos e regras que incentivam uma vida pura e livre de todo tipo de poluentes, preservando assim o conforto do ser humano psicológico e da saúde.

          Em outra imagem mais clara e expressiva sobre o incentivo da preservação do meio ambiente e de sua beleza, temos a resposta do mensageiro (a paz esteja com ele) a um de seus companheiros quando foi perguntado: “Faz parte da ostentação que a minha veste seja agradável e meu calçado seja agradável?”. Então, o mensageiro (a paz esteja com ele) disse: “Allah é belo e ama a beleza, a ostentação é negar a verdade e ludibriar as pessoas”[6]. E, sem dúvida, que faz parte da beleza a preservação das aparências do meio ambiente criada por Allah brilhante e alegre.

          Também vemos na recomendação do profeta (a paz esteja com ele) pelo amor dos bons odores, sua difusão e presentear as pessoas e o enfeite do meio ambiente com eles, combatendo assim a poluição: “Quem lhe for oferecido almíscar (perfume) não deve recusá-lo, porque é de peso leve e de agradável odor”[7].

          Faz parte da grandeza do Islam em suas leis quanto ao meio ambiente também: o incentivo à cultura e ao plantio. Disse o mensageiro (a paz esteja com ele): “Todo muçulmano que planta uma semente terá uma recompensa (sadaqah) para ele toda vez que alguém se alimentar dela, e toda vez que alguém roubar dela, e toda vez que algum animal comer dela, e toda vez que um pássaro comer dela, e toda vez que alguém a diminuir”[8]. Em outra narração: “até o dia da ressurreição”. 

          É parte da grandeza do Islam o fato de a recompensa de tal plantação – que beneficia o meio ambiente e quem nele vive - alcançar a pessoa enquanto haver benefício dela, mesmo que esta plantação seja transferida para a posse de outra pessoa, ou o plantador faleça!

          A lei islâmica também indicou os benefícios alcançados pela vivificação da terra árida, fazendo do plantio de uma árvore ou de uma semente ou do irrigar da terra sedenta uma ação virtuosa e benevolente. Disse o mensageiro (a paz esteja com ele): “Quem vivificar uma terra morta, terá a recompensa dela, e toda vez que os animais e pássaros se alimentarem dela isto lhes será uma recompensa”[9].

          No Islam, a economia da água e a preservação de sua limpeza são dois assuntos importantíssimos, porque a água é um dos mais importantes recursos naturais do meio ambiente. Eis que o mensageiro (a paz esteja com ele) aconselhou a economia no uso da água mesmo quando a água é abundante, Abdullah ibn Omar narra que o profeta (a paz esteja com ele) passou por Saad[10] quando ele se abluía e disse: “Que esbanjamento é este ó Saad?”. Ele disse: “Na ablução há esbanjamento?” O profeta (a paz esteja com ele) disse: “Sim, mesmo que esteja num rio corrente”[11]. O profeta (a paz esteja com ele) também proibiu a poluição das águas ao proibir a pessoa de urinar na água parada[12]

          Esta é a visão do Islam e da civilização islâmica sobre o meio ambiente. Tal visão de crença no meio ambiente que interage, integra-se e coopera – através de seus diversos aspectos – de acordo com as Leis de Allah no Universo que Ele criou na melhor forma. E é dever de todo muçulmano preservar esta beleza.

 


[1] Relatado por Ahmad da narração de Ibn Abbas (2719), Shu’aib Al-Arnauti disse: Bom. Al-Hakim (2345) e disse: correto em termos de transmissão de acordo com as condições de Muslim, porém, ele não o compilou.

[2] Veja: Al-Azim Abadi: Aoun Al-Ma'bud 31/01.

[3] Al-Bukhari de Abu Said Al-Khudri: Kitab Al-Mazalim (Livro de queixas) (2333), Muslim: Kitab Al-Libas wa Al-Zinah (Livro de vestes e ornamentos) (2121).

[4] Relatado por Muslim da narração de Abu Zhar: Livro sobre mesquitas e lugares de oração (553), Ahmad (21589), Ibn Majah (3683).

[5] Relatado por Al-Tirmizhi da narração de Saad Ibn Abi Waqqas (2799), Abu Ya’la (790), Al-Albani disse: Correto. Veja: Mishkat Al-Masabih (4455).

[6] Relatado por Muslim da narração de Abdullah Ibn Ma'sud: livro Al-Iman, capítulo ordenando não sentir orgulho (91), Ahmad (3789) e Ibn Hiban (5466).

[7] Relatado por Muslim da narração de Abu Hurairah (2253), Al-Tirmizhi (2791)

[8] Relatado por Muslim da narração de Jabir Ibn Abdullah: Musaqah livro, o capítulo sobre a virtude de plantio e cultivo (1552) e Ahmad (27401).

[9] Al-Nassaí, da narração de Jabir Ibn Abdullah (5756), Ibn Hiban (5205), Ahmad (14310), E Shu’aib Al-Arnaut disse: hadith Sahih (correto).

[10] Saad Ibn Abi Waqqas ibn Wuhaib Al-Zuhri: Um dos dez citados como moradores do Paraíso, e o último deles a morrer. Veja: Ibn Al-Athir: Usd al-Ghabah 2 / 433, Ibn Hajar al- Askalani: Al-Isabah 3 / 73 (3196).

[11] Ibn Majah (425), Ahmad (7065). Al-Albani disse: Bom. Ver: Al-Silsilah Al-Sahiha (3292).

[12] Relatado por Muslim da narração de Jabir Ibn Abdullah (281), Abu Daud (69), Al-Tirmizhi (68).