A Arte da Decoração

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01/06/2020

A Arte da Decoração

O artista muçulmano se dirigiu para novos mundos, distantes do desenho de pessoas e da reprodução da natureza, onde ele mostrou a sua excepcional genialidade e criatividade, usou sua imaginação, seu sentido delicado e gosto autêntico. E o mundo da decoração e ornamentação é um desses mundos.

Se a indústria da estética é a função da arte islâmica, a ornamentação é um dos importantes meios que produzem esta beleza, pois é um ato puro que só objetiva produzir beleza, e aqui a forma da arte se combina com o seu conteúdo para se tornar uma unidade coesa para produzir beleza externa e internamente, o que dificilmente podemos encontrar em qualquer outra arte[1].

As características da ornamentação islâmica

A ornamentação islâmica tinha características distintas, que muito contribuíram para destacar a imagem civilizada do renascimento islâmico. Ela cresceu e prosperou extraordinariamente na concepção, produção, temas e métodos. Os artistas muçulmanos usaram magníficas linhas decorativas na aparência e na formação e fizeram das formas decorativas modelos com os quais suas imaginações partiram para o infinito, a repetição, a renovação, a alteração e o entrelaçamento. Eles inventaram os quadrados em forma de estrela, as formas de decoração vegetal (Ataurique, do árabe: Al Tauriq) e as formas de decoração árabe que os europeus denominaram como “Arabesque”. Diversos países ainda têm mostrado interesse neste padrão de ornamentação árabe, desde que surgiu inicialmente na ornamentação Fatímida (Al Fatimiyah) e na Mesquita Al-Azhar, no meio do século quatro depois da Hijrah (século 10 dC). Os artistas muçulmanos da ornamentação arquitetônica também foram hábeis na escultura plana e escultura em madeira, pedra ou mármore, e foram hábeis no uso de cores e produção requintada de inscrições[2].

E os elementos florais e elementos geométricos são pilares fundamentais desta arte, que às vezes são combinados ou separados. Assim, existem dois tipos de decoração: decoração vegetal e decoração geométrica[3].

A ornamentação vegetal:

A ornamentação vegetal (Ataurique) consiste em projetos compostos de várias folhas e flores. Foram produzidos em diversos padrões, produzidos separadamente, em conjunto, de forma convergente e divergente. Em muitos casos, uma unidade decorativa é composta por um grupo de elementos florais em sobreposição, entrelaçamento, simétrica e regularmente repetitivo.

Usando sua imaginação, o artista muçulmano conseguiu manter sua arte distante da imitação da natureza e, por isso, seus desenhos florais foram peças geométricas onde o elemento animado foi eliminado e o princípio da abstração prevaleceu. Tais projetos foram usados na decoração de paredes e abóbodas, várias antiguidades (bronzeados, vítreos e cerâmicos) e na ornamentação e encadernação de livros.

A ornamentação geométrica:

É outro tipo de ornamentação islâmica. Os muçulmanos se destacaram no uso de linhas geométricas e na fórmula de formas artísticas requintadas, incluindo polígonos, peças como estrelas e círculos sobrepostos. Elas foram usadas para adornar edifícios e antiguidades em madeira e bronze, na produção de portas e ornamento de tetos, o que demonstra um conhecimento avançado de geometria prática.

Os muçulmanos produziram várias formas geométricas a partir do círculo, incluindo hexágonos, octógonos, decágonos e, em seguida, triângulos, quadrados e pentágonos. Através do entrelaçamento de tais formas, preenchendo algumas áreas e deixando outras vazias, podemos obter uma quantidade infinita de tais decorações maravilhosas, que fazem fixar o olhar para levá-lo pouco a pouco a partir da parte para o todo e de um conjunto parcial para um conjunto maior.

O interesse e preocupação do artista muçulmano era encontrar uma formação inovadora, que nasce do entrelaçamento dos ângulos ou do emparelhamento das formas geométricas para dar mais beleza sóbria. Tais formas geométricas incluem círculos adjacentes e juntos, e linhas curvadas e entrelaçadas.

E dentre os principais desenhos geométricos nas artes islâmicas: As placas em forma de estrela, este tipo de desenhos decorativos foi utilizado na ornamentação de antiguidades em madeira e metal, páginas douradas de cópias do Alcorão e livros, e na ornamentação de tetos.

O crítico francês H. Faucillon precisa e profundamente, disse: “Eu não consigo encontrar nada que possa extrair vida de seu traje externo e nos levar ao seu conteúdo interno, como fazem as formações geométricas da decoração islâmica. Essas formas não são mais do que o fruto do pensamento com base em cálculos precisos, que possivelmente se transforma em algum tipo de diagramas de idéias filosóficas e significados espirituais. Contudo, não devemos deixar de perceber que por meio deste quadro abstrato nasce uma vida corrente entre as linhas, que compõem formações que aumentam e se multiplicam, separadamente uma vez, e em conjunto por diversas vezes, como se houvesse um espírito desnorteado que une tais formações e separa entre elas e, em seguida, as reúne novamente. Deste modo, cada formação pode ser diversamente interpretada, dependendo do que se analisa e se contempla. Mas, todas elas, ao mesmo tempo, ocultam e revelam o segredo de seu conteúdo de potenciais e energias sem limitações.”[4]

E dentre os principais processos artísticos de decoração islâmica: incrustação (mosaico), sobreposição, articulação, encravamento, decoração, revestimento e enrolamento. E as principais substâncias utilizadas são: mármore, gesso, madeira, metais, telhas, mosaico e cerâmica.

Sobre a arte decorativa e sua finalidade e características, Roger Garaudy[5] disse: “A arte decorativa árabe almeja ser uma expressão típica de um conceito de decoração que combina, ao mesmo tempo, abstração e conceito. O sentido da natureza musical e o sentido da geometria mental sempre compõem os elementos desta arte.”[6]


[1] Saleh Ahmad al-Shami: al-Fan al-Islami Iltizam wa Ibdaa (A Arte Islâmica, Compromisso e Criatividade), p 169.

[2] Ahmad Fuad Basha: Torath al-al-Elmi al-Islami (A Ciência do Património Islâmico), p 44.

[3] Idem, páginas 170-173.

[4] Tharwat Okasha: al-Qiam al-Jamaliya Fi al-Emara al-Islamia (Os valores estéticos da arquitetura islâmica), p 39.

[5] Roger Garaudy: (1331 dH … / 1913 dC …), filósofo contemporâneo francês especializado em pesquisa da civilização, história, literatura e ciências humanas. É um estudioso altamente qualificado que adotou diversas orientações e depois se converteu ao Islam, e colidiu com a política sionista através de seus vários escritos.

[6] Roger Garaudy: O Diálogo das Civilizações, p 174.