Dr. Ragueb El Serjan
Tradução: Sh. Ahmad Mazloum
Toda civilização tem seus traços e particularidades que a representa e que a torna exclusiva entre as outras. Se a civilização grega ficou marcada pela exaltação da mente, a civilização romana ficou marcada pela glorificação da força e extensão do poder, a civilização persa ficou marcada pelo interesse pelos prazeres da carne, a força militar e o domínio político, a civilização indiana ficou marcada pela consideração da força espiritual. Portanto, a civilização islâmica também tem os seus traços e características exclusivas com as quais tornou-se singular entre as civilizações anteriores e posteriores. A civilização islâmica se construiu sobre uma mensagem celestial que é a mensagem do Islam – com tudo o que ela se caracteriza de humanidade, universalidade e absoluta unicidade na crença. 
A civilização do Islam é marcada por seu amplo horizonte e por sua mensagem universal. Isso se esclareceu na publicação do Alcorão Sagrado sobre a unidade do tipo humano, mesmo com a diversificação de suas raças e nacionalidades, no dizer de Allah: “Ó humanos, em verdade vos criamos de macho e fêmea e vos fizemos povos e tribos para conhecerdes uns aos outros. Em verdade, o mais digno perante Allah dentre vós é o mais temente” (Al Hujurat 13). Assim, o Alcorão fez da civilização do Islam uma corrente na qual se associam todas as genialidades dos povos e nações sobre as quais a bandeira das conquistas islâmicas foi asteada[1].
A civilização do Islam é humanitária em sua tendência – como observaremos na última pesquisa deste capítulo -, universal em seu horizonte e expansão, não está vinculada a território geográfico, nem a raça humana, nem a alguma era da história, porém abrange todas as nações e povos, e seus efeitos se dirigem a todos os lugares e épocas. É uma civilização na qual todos os humanos usufruem de sua sombra, e todos aqueles a quem sua contribuição chegou aproveitam o seu calor, isto porque ela se construiu sobre o princípio de que o ser humano é a mais importante e mais honrada de todas as criaturas de Allah, e que tudo o que existe no Universo está submetido a ele. Todas as atividades humanas devem conduzir à sua felicidade e ao seu conforto, e que toda ação cuja intenção é a realização deste objetivo é, em primeiro lugar, uma ação humanitária.
A gradação da universalidade reforça e consolida os valores da verdade, do bem, da justiça e da igualdade entre todas as pessoas, sem considerar as suas cores ou raças, porque esta civilização não crê na teoria da superioridade racial e não promove a discriminação racial. Então, a mensagem dele (a paz esteja com ele) foi uma misericórdia para todos os humanos, pois Allah, o Altíssimo, dirigindo-se ao Seu mensageiro, disse: “E não te enviamos senão como misericórdia para os humanos” (Al Anbiá: 107). E em outro versículo: “E não te enviamos senão para todas as pessoas” (Sabá 28). Por isso, a mensagem da civilização islâmica é uma mensagem universal, participa na sua realização toda raça, cor e língua.
Os ditos do mensageiro (a paz esteja com ele) e suas atitudes foram condizentes com esta visão alcorânica. Jabir ibn Abdullah Al Anssari disse: “O mensageiro de Allah (a paz esteja com ele) disse: ‘Me foram concedidas cinco que jamais foram concedidas a nenhum profeta antes de mim: cada profeta era enviado para o seu povo em específico e fui enviado para todo o mundo...’”[2].
Sua biografia e suas ações foram uma prática do princípio da universalidade da mensagem, observemos a sua palavra dirigida ao seu povo: 
O líder não mente aos seus familiares. Juro por Allah! Se eu mentisse para todas as pessoas, não mentiria para vós! E se eu enganasse todas as pessoas, não enganaria a vós! Juro por Aquele que não há divindade além d´Ele que sou mensageiro de Allah para vós em específico e para as pessoas em geral...”[3].
Eis o mensageiro (a paz esteja com ele) publicando, desde o primeiro dia em que bradou a mensagem, a sua universalidade.
O mensageiro (a paz esteja com ele) também enviou seus embaixadores para César de Roma, para Chosroes da Pérsia, para Muqauquis (Ciros), o grande dos acópitas do Egito e para o rei da Etiópia... Esta é a sua carta enviada para Chosroes:
“Em nome de Allah, o Clemente, o Misericordioso. De Muhammad, o mensageiro de Allah, para Chosroes, o grande dos persas. A paz esteja com que seguir a orientação, crer em Allah e em Seu mensageiro e testemunhar que não há divindade além de Allah, o Único, sem parceiros, e que Muhammad é Seu servo e Seu mensageiro. Te convido com o anúncio de Allah, pois eu sou o mensageiro de Allah para todas as pessoas, para admoestar quem estiver vivo e para que a palavra se firme contra aqueles que são incrédulos. Torne-se muçulmano (submeta-se a Allah) e terá a paz, se recusar, carregará o erro dos zoroastrianos”[4].
Esta é a primeira particularidade da civilização islâmica, ela é singular nesta característica entre todas as civilizações, tornando-se verdadeiramente uma nobre civilização mundial.
[1] Mustafa Al Sibaí: Min Rauaí Hadharatina (Das maravilhas de nossa civilização), p. 36.
[2] Al Bukhari: Kitab Attaimmum (328) e Muslim: Kitab Al Massajid ua Mauadhi’ Al Salat (521).
[3] Ali ibn Burhan Al Din Al Halabi: Al Sirah Al Halabiah (A Biografia de Halab) 2/114, e Al Salihi: Subul Al Huda ual Rashad 2/322, e Ibn Al Athir: Al Kamil fi Al Tarikh 1/585.
[4] Al Tabari: Tarikh Al Umam ual Muluk (A História das Nações e dos Reis) 2/132, e Al Khatib Al Baghdadi: Tarikh Bagdad (A História de Bagdá) 1/132, e Al Muttaqui Al Hindi: Kanzul Úmmal (O Tesouro dos Trabalhadores) 11302.