Figurinhas do instagram sobre Ramadã geram polêmica
Jessica Bachega
Desde o dia 13 de abril, os muçulmanos residentes em Cuiabá vivem o Ramadã, período sagrado em que se abstêm de coisas mundanas para seguir apenas ensinamentos divinos. O jejum segue até 12 de maio, como “treinamento para seguir os passos de Deus”, como explicou sheikh da mesquita da capital, Abdusalam Almansori.
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Reprodução/Instagram
Neste período, algumas redes sociais também se utilizam dos símbolos islâmicos. Contudo, a maior parte do conteúdo publicado com a figura do Ramadã não tem relação com a tradição muçulmana, o que é reprovado por algumas pessoas e gerou polêmica. A repercussão em torno do tema e a exposição na internet acabaram por ter um saldo positivo no que diz respeito à quebra de tabus contra o islamismo.
"Em geral, não sabemos o objetivo dessas figurinhas, mas pode ser para obter maior aprovação entre os muçulmanos. Muitos muçulmanos usam o aplicativo ao redor do mundo. Isso tem vantagens e desvantagens. Assim como a internet pode ser usada para o bem ou para o mal. É mais uma oportunidade de os muçulmanos reagirem, interagirem com os tempos abençoados como o Ramadã e outros tempos", avaliou o sheikh.
Segundo o líder da mesquita em Cuiabá, é preciso ter cuidado com tudo o que se posta e isso vale também para assuntos relacionados a religião. Pontua que apesar de poder ser um algo bom, não há controle sobre as publicações feitas e relacionadas com as animações da plataforma, o que considera algo negativo.
"Pode mostrar costumes e símbolos do Ramadã que muitos desconhecem. Por meio dessas figurinhas, elas podem conhecer mais o islã, conhecem os costumes dos muçulmanos, sabem que agora eles estão jejuando. Pra quem busca algo sobre o Ramadã é mais fácil de encontrar", pontuou.
O jornalista e seguidor do islamismo, Ahmad Jarrah, explica que um dos pilares da religião é o conhecimento. E é importante distinguir as publicações maldosas daquelas feitas por desconhecimento. No segundo caso, o islã não recrimina, pelo contrário, ele orienta a busca pelo conhecimento.
O comunicador, que é mestre em cultura contemporânea, relata que houve memes e publicações que atacaram a religião e ofenderam seus membros. “Mas o islã nos fala para nunca responder a agressão com agressão, principalmente no Ramadã, que não só jejum de comida e bebida, mas de palavrões, de raiva, de ira e todas as coisas ruins”, explicou.
João Vieira
Após polêmica das figurinhas, houve explicações por pessoas entendidas da área, e até da própria plataforma, contudo tal esclarecimento poderia ter sido mais massificado, na avaliação de Jarrah.
“Talvez o Instagram pudesse ter orientado melhor o que são as figurinhas. Imagina, a pessoa não conhece, está numa região em que somos uma minoria, é óbvio que iriam usar ainda mais vendo que dá engajamento. Pessoas querem popularidade na rede. Foi bom porque essas pessoas que usaram por desconhecimento, acabaram tendo conhecimento e fez com que o islã fosse desmistificado aqui”, ponderou o jornalista.
O Ramadã e o caminho ao paraíso O religioso Abdusalam Almansori esclarece que o Ramadã é tempo de estudo e educação moral, espiritual e da alma. Um mês de adorações, caridade, jejum e atividades realizadas na mesquita. Um treinamento em que é feito só o bem e deixar o mal de lado.
Na fase, os seguidores do islamismo não comem nem bebem do nascer ao pôr do sol e se abstém de qualquer vontade do mundo. É um período de empatia e caridade.
“O Ramadã é uma etapa de treinamento para o muçulmano seguir os mandamentos de Deus e evitar os proibidos. Nos ensina a compaixão, o amor ao próximo, a sentir o que as pessoas que estão como fome sentem. Porque não comemos e não bebemos”, relata.
Ramadã também é paciência, perseverança e persistência, segundo o sheikh. O líder pontua que é uma relação muito íntima com Deus, que os observa a todo momento e sabe o que se passa na cabeça e no coração do fiel. “Ninguém sabe se o muçulmano está jejuando ou não, mas Deus sabe. É um período de muitos ensinamentos”, exemplifica.
Questionado se a prática do Ramadã, como abstinência de água, é mais difícil em Cuiabá por ser um local quente, o líder religioso pontua que isso o fator climático é indiferente. A dificuldade depende de cada pessoa, pois o jejum é difícil, abrir mão das coisas terrenas para seguir somente ao que Deus prega, é difícil.
João Vieira
“A obediência a Deus significa desobedecer os desejos próprios. Nós, muçulmanos, acreditamos no princípio da recompensa e punição. A obediência Deus e as boas ações nos conduzem ao paraíso. Ao contrário, as más ações nos conduzem à morte. Nesse sentido, rezar todo os dias, fazer jejum, seguir os mandamentos de Deus não é fácil. Mas o valor dessa obediência é o paraíso. Você quer entrar no paraíso sem fazer nada, sem sacrificar?, explicou.
Como a prática é ensinada aos muçulmanos desde crianças, a penitência se torna menos incomoda com o passar do tempo, segundo o sheikh.
Abdusalam afirma que não há dados estatísticos que contabilizem quantos muçulmanos residem em Cuiabá, mas estima que pelo menos 200 famílias estejam na cidade. Avalia que ainda há preconceito, principalmente contra as mulheres, mas isso é um sinal de ignorância. “Por que eles não sabem o que a religião islâmica, não sabem que é uma religião de paz”, explica.
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