As Bibliotecas na Civilização Islâmica

As Bibliotecas na Civilização Islâmica

As Bibliotecas na Civilização Islâmica

Dr. Ragueb El Serjani

Tradução: Sh Ahmad Mazloum

 

A história das bibliotecas no Islam é uma parte inseparável da história da civilização árabe islâmica e do pensamento islâmico. Essa civilização se elevou com a elevação do pensamento, o ajudou a progredir e amadureceu junto com ele. A história dos livros para os muçulmanos é básica e é muito importante para a investigação do desenvolvimento do conhecimento humano entre eles. Nenhuma nação superou os muçulmanos no amor aos livros e na atenção prestada às bibliotecas e ao conhecimento em geral. As bibliotecas são um dos meios de difusão do conhecimento mais importantes ao longo de todas as épocas, elas se difundiram amplamente na era islâmica tornando-se um dos frutos da eternizada civilização islâmica. As etapas pelas quais as bibliotecas passaram são as etapas da civilização islâmica de um modo geral[1]

Os tipos de bibliotecas

Vários tipos de bibliotecas foram conhecidos na civilização islâmica, um fenômeno que nunca havia sido observado em qualquer outra civilização. Essas bibliotecas prevaleceram em todas as regiões do território islâmico, principalmente nos palácios dos califas, escolas, al katatib[2] e mesquitas. Também havia bibliotecas nas capitais islâmicas e nos vilarejos remotos e áreas distantes, fato que reflete o forte amor das pessoas desta civilização pelo o conhecimento.

Os tipos de bibliotecas que foram conhecidos na civilização islâmica incluem:

1. As Bibliotecas Universitárias: entre as bibliotecas mais famosas da civilização islâmica, uma das mais importantes foi a biblioteca de Bagdá (Casa da Sabedoria), a qual citaremos no próximo objeto de pesquisa.

2. As Bibliotecas Particulares: este tipo foi amplamente difundido em todas as regiões do mundo muçulmano, como a biblioteca do califa Al-Mustansir[3]; a biblioteca de Al-Fath ibn Khaqan, "que costumava andar com um livro pendurado em sua manga e olhava nele"[4], a biblioteca do renomado Ibn Al-Amid, o primeiro-ministro na dinastia Buwayh. O famoso historiador Ibn Miskawayh afirmou que ele tinha sido bibliotecário de Ibn Al-Amid. Ele relata que um ladrão invadiu a casa de Ibn Al-Amid e roubou-o, e este último foi melancolicamente deprimido, pensando que sua biblioteca foi roubada com o restante dos objetos roubados. Ibn Miskawayh conta que esta biblioteca tinha muitos livros e tinha grande valor no coração de seu dono. Ele diz: Ibn Al-Amid gostava muito de seus livros, nada estava mais perto de seu coração do que eles. Os livros eram em grande número, incluindo todos os ramos do conhecimento e das artes, foram colocados em uma centena de estantes. Quando ele me viu, perguntou-me sobre os livros, eu disse que eles não foram tocados, então, ele ficou aliviado e disse:... "Eu testemunho que você é de boas maneiras. Quanto aos outros cofres, eles podem ser substituídos, mas este (os livros) não pode ser substituído”. Por fim, vi seu rosto alegre. Ele disse: "Leve-os amanhã cedo para tal lugar". E eu fiz, e todos os livros foram os únicos objetos de suas propriedades que se salvaram.[5] Houve também a biblioteca de Al-Qadi (juiz) Abu Al-Mutrif, que "reuniu livros que jamais alguém conseguiu reunir em sua época na Andaluzia"[6].

  1. As Bibliotecas Públicas: as bibliotecas públicas são as instituições culturais nas quais se preserva o património cultural e as experiências da humanidade, para ser acessível a pessoas de todas as classes, raças, idades, profissões e culturas. Dentre os exemplos deste tipo de bibliotecas: a Biblioteca de Córdoba, fundada pelo califa omíada Al-Hakam Al-Mustansir (350 d.H. / 961 d.C.), em Córdoba. Ele também nomeou profissionais bibliotecários, secretários e um grande número de encadernadores. A biblioteca foi o foco de atenção de cientistas e estudantes na Andaluzia, e inspirou os europeus que migraram para obter o conhecimento. Ela teve 44 índices, cada um dos quais era de 20 trabalhos, indicando apenas os nomes dos livros[7]. Houve também a biblioteca de Banu Ammar em Tripoli (na Grande Síria). Em busca de livros, agentes eram enviados de todo o mundo muçulmano para trazer as obras e adicioná-las à biblioteca, onde 85 escribas foram empregados para copiar os livros de dia e de noite.
  2. As Bibliotecas Escolares: a civilização islâmica prestou especial atenção à criação de escolas para a educação de todas as pessoas. As bibliotecas foram anexadas a essas escolas, uma coisa natural para completar este progresso e prosperidade. Em geral, no Islam, as escolas têm sido difundidas nas cidades do Iraque, Síria, Egito e outros países, com as bibliotecas anexadas à maioria delas. Nur Al-Din Mahmud construiu uma escola em Damasco e em anexo uma biblioteca, e assim fez Salah Al-Din (Saladino). Al-Qadi Al-Fadil, ministro de Saladino, fundou uma escola no Cairo e a denominou Al-Fadiliyyah, onde ele depositou cerca de 200 mil livros, que ele tinha pego das livrarias do Ubaidis. Yaqut Al-Hamwy declarou várias escolas com enormes bibliotecas abertas a todos na cidade de Marw[8].
  3. As Bibliotecas das Mesquitas: este tipo de bibliotecas é considerado o primeiro a surgir na história do Islam, porque as bibliotecas surgiram no Islam com a fundação das mesquitas, como a biblioteca da Mesquita de Al-Azhar e a biblioteca da Grande Mesquita de Kairouan[9].

As despesas das bibliotecas, em geral, eram financiadas pelos erários criados para a manutenção dessas bibliotecas. O Estado designava certas doações para gerar lucros em prol de tais bibliotecas e algumas pessoas ricas e filantropos também formavam estes erários para ajudar na manutenção das bibliotecas.[10]

 


[1] Veja: Said Ahmad Hassan: Anua´ Al maktabat fil ´alamain Al árabi wal islami (Os tipos de Bibliotecas no mundo árabe e muçulmano) p. 2.

[2] Al katatib: uma escola islâmica para o ensino fundamental de Alcorão e de língua árabe para as crianças.

[3] Ibn Kathir, Al Bidayah wa Al Nihayah (O Princípio e o Fim), 13/186.

[4] Al Zhahabi: Tarikh Al Islam (História do Islam), 18/375.

[5] Ibn Miskawayh: Tajarib Al Umam (As Experiências das Nações), 6 / 286.

[6] Al Zhahabi: Tarikh Al Islam (História do Islam), 28/61.

[7] Ibn Al Abar: Al Takmilah li Kitab Al Silah, 1 / 190.

[8] Ribhy Mustafa Alian: Al Maktabat fi Al Hadarah Al Arabiyyah Al Islamiya (As Bibliotecas na Civilização Árabe Islâmica), p. 134.

[9] Ver: Sa `id Ahmad Hassan: Anwa` Al Maktabat fi Al A`alamayn Al Araby wa Al Islamy (Os tipos de bibliotecas no mundo árabe e muçulmano), pp 18-78, (adaptado).

[10] Muhammad Hussein Mahasneh: Adwa ala '`Tarikh Al Ulum` `inda Al Muslimin (Luzes sobre a História das Ciências entre os muçulmanos), p. 161.