As escolas e o Seu Papel na Civilização Islâmica
Tradução: Sh. Ahmad Mazloum
A civilização islâmica passou a conhecer as escolas desde o século islâmico quinto (depois da hijrah). A razão para isso foi o alto número de sessões de aprendizagem que lotavam as mesquitas. A mesquita de Al-Azhar foi a primeira mesquita a ser transformada em uma escola em 378 d.H. E assim, as escolas encheram as cidades do mundo islâmico desde o seu oriente ao seu ocidente, sendo constituídas com as numerosas doações concedidas pelos ricos, entre eles líderes, estudiosos, comerciantes, reis e príncipes.
Na verdade, as escolas na civilização islâmica são tão antigas quanto a civilização em si. Ibn Kathir mencionou nos eventos que ocorreram em 383 dH que o ministro Abu Nasr Sabur ibn Ardashir[1] "tinha comprado uma casa em Al-Karkh (no Iraque). Renovou a casa e mudou um monte de livros para ela e a tornou “uaqf” (erário) para o uso dos jurisprudentes. Chamou-a Casa do Conhecimento. E creio (Ibn Kathir) que esta é a primeira escola concedida aos estudiosos. Esta escola foi aberta muito tempo antes de “annizhamyiah” (escola regular)"[2].
Como extensão à propagação das escolas, foi construída a primeira escola em Damasco em 391 d.H. por Shuja’-Al-Dawlah Sadir ibn Abdullah[3] e foi chamada Escola Al-Sadiriyah[4]. Depois disso, o leitor do Alcorão de Damasco, Rash’ ibn Nazif[5], fundou a Escola Rasha’iyah em cerca de 400 d.H. Portanto, os alunos deixaram as sessões de aprendizagem, que eram realizadas nas mesquitas para estas escolas, onde puderam estudar uma ciência específica e onde eles e seus professores recebiam dinheiro e lhes eram garantidos todos os meios de educação.[6]
No início, geralmente, estas escolas eram civis, em seguida, a instituição da governança e califado se responsabilizou por sua criação e administração. Isso começou na época do famoso ministro Nizam-Al-Mulk Al Tusi[7], quando as escolas se tornaram governamentais, a fundação do governo as financiava e contratava os professores para lecionar nelas.
Este ministro concedeu à civilização islâmica o que imortalizou o seu nome e superou toda a sua obra no mundo da governança e da política. Ele fundou várias escolas em todos os cantos do país. Estas escolas foram atribuídas a ele e foram nomeadas al madaris annizamyiah (em árabe: escolas regulares). Essas escolas são consideradas o primeiro tipo de instituições científicas e escolas regulares na história do Islam. As escolas regulares foram concebidas para o estudo da jurisprudência islâmica e hadith. Era fornecido aos alunos dessas escolas meios de subsistência e de ensino. Os estudantes tinham direito a alimento e muitos deles tinham salários mensais nessas escolas.
Como resultado do enstusiasmo de Nizam Al-Mulk e de seu interesse na criação de escolas em diferentes regiões, as regiões do Iraque e de Khorasan foram preenchidas com dezenas de escolas. Foi dito que havia uma escola em cada cidade no Iraque e em Khorasan. Ele construía escolas mesmo em lugares remotos. E toda vez que ele encontrava um estudioso que se destacava e tinha extremo conhecimento ele construía uma escola para ele e a tornava um erário e estabelecia uma biblioteca, onde os alunos estudavam gratuitamente. Além disso, os alunos pobres recebiam um salário definido proveniente das receitas atribuídas a essas escolas.[8]
Uma das principais escolas estabelecidas por Nizam-al-Mulk foi a Escola Nizami em Bagdá, cuja construção começou em 457 dH e foi concluída em 459 dH[9]. O interesse do califa abássida nessa escola o levou a nomear o corpo docente pessoalmente. Nela se lecionava jurisprudência, hadith e outras ciências afins. Figuras proeminentes do pensamento e da cultura lecionaram nesta escola, tais como Hujjat Al-Islam Abu Hamid al-Ghazali, autor do livro Ihya Ulum Al-Din (revivendo as ciências da religião)[10], enquanto o imam Abu al- Máali Al-Juwayni[11], era professor na Escola Nizami em Nissabur.[12]
Estas escolas, que se espalharam em Bagdá, Isfahan, Nissabur e Marw, contribuíram para consolidar as bases do Islam sunita e defendê-lo das várias heresias e seitas desviadas que se espalhavam naquela época. Nizam-al-Mulk costumava gastar trezentos mil dinares por ano nas escolas, jurisprudentes e estudiosos. Quando o sultão Seljúcida Mulk Shah discutiu esse assunto com ele, Nizam-al-Mulk, o ministro sábio, disse: "Allah te deu e me deu através de ti o que Ele não me deu a nenhuma de suas criaturas. Então, não devemos compensá-Lo por isto gastando trezentos mil dinares para os estudiosos de Sua religião e para os memorizadores de Seu Livro?".[13]
A propagação das escolas na civilização islâmica desde o século quarto islâmico (correspondente ao décimo século cristão) demonstra a primazia da civilização islâmica na difusão do conhecimento entre as diferentes classes da sociedade, algo que as civilizações do Oriente e do Ocidente não conheciam antes. Naquela época, a Europa tinha muito pouco conhecimento. A Igreja ainda monopolizava as razões do conhecimento e, como resultado disso, os europeus viviam na escuridão, ignorância, atraso e conflitos de moagem entre várias tribos, principalmente as tribos germânicas, que ora lutavam contra o Estado Romano e, ora lutavam contra as outras tribos. O sistema de castas também era santificado na Europa, o que resultou na decadência e na negligência do sistema educacional europeu.[14]
Incrivelmente, o movimento educacional não foi afetado até mesmo em períodos de fraqueza política e militar do Estado islâmico, mas, ao contrário, a Escola de Al-Mustansiriyah foi construída em 631 dH /1233 d.C, enquanto os tártaros naquela época estavam varrendo o mundo oriental islâmico, suscitando uma ameaça direta ao califado abássida, que atingiu o grau mais baixo de fraqueza. No entanto, esta escola imortal foi criada nesta situação. Comentando sobre esta escola, Ibn Kathir (que Allah tenha misericórdia dele) disse: "Nenhuma escola similar foi construída antes desta escola. As quatro escolas doutrinárias do Islam eram ensinados lá, cada denominação tinha sessenta e dois jurisprudentes, quatro palestrantes, um professor para cada escola, um estudioso de hadith, dois leitores Alcorão, dez ouvintes, um médico-chefe, dez muçulmanos que se ocupavam com a ciência da medicina, e um escritório para os órfãos. Era fornecido a todos pão, carne, doces e salário. Na quinta-feira, no quinto dia do mês de Rajab, eu assisti as aulas lá e o califa Al-Mustansir compareceu pessoalmente junto com os estadistas, os príncipes, ministros, juízes, acadêmicos, sufis e poetas. Nenhum deles perdeu a ocasião. Um grande banquete foi realizado e todas as pessoas comeram e também fora levada comida para todas as casas de leigos e da elite em Bagdá. Foi concedido dinheiro a todos os professores, participantes, a todo o Estado, acadêmicos e palestrantes. Foi um dia memorável. Poetas elogioram o califa com belos poemas. Ibn Al-Sa'i[15] mencionou esse acontecimento em seu registro de história detalhadamente. A escola Shafi'i foi ensinada pelo Imam Muhyi-al-Din Abu Abdullah ibn Fadlan[16]; a escola Hanafi foi ensinada pelo Imam Rashid-al -Din Abu Hafs Umar ibn Muhammad al-Farghani[17]; a escola Hanbali foi ensinada pelo Imam Muhyi-al-Din Yusuf ibn Al-Shaykh Abu al-Faraj ibn Al-Jawzi[18], que foi substituído por seu filho Abdul- Rahman[19] para ensinar no lugar dele quando se ausentava para a transmição de mensagens aos dos reis da época; a doutrina Maliki era ensinada naquele dia por Sheikh Abu-al-Hasan Al-Maghribi Al-Maliki, que também lecionava por substituição até a nomeação de outro Sheikh. A escola foi dotada de estoques de livros, cuja quantidade e qualidade (de escrita e de volumes) jamais alguém ouvir falar antes".[20]
As escolas também se espalharam notadamente durante a dinastia aiúbida. A criação dessas escolas teve como objetivo erradicar a doutrina xiita, que estava enraizada no Egito desde a dinastia Ubaydi que precedeu a dinastia aiúbida. Assim, a fundação do Governo se interessou na construção de escolas de diversas especialidades em todo o Egito. Outro fato incrível é que Saladino estabeleceu essas escolas com o objetivo de divulgar a virtude, a justiça e a segurança entre as pessoas. Contando os acontecimentos do ano 566 dH, Ibn Al-Athir[21] disse: "Havia uma delegacia de polícia chamada Al-Ma'una no Egito, em que os acusados eram presos. Saladino a destruiu, construiu uma escola para a doutrina Shafi'i em seu lugar, e removeu todos os sinais de opressão que existiam ali"[22]. Saladino foi o primeiro a se preocupar na construção de escolas na história islâmica do Egito. Ele construiu as escolas Al-Salahiyah, Al-Nasiriyah e Al-Qamhiyah.[23]
Os príncipes, os ricos e os comerciantes também competiam na construção e doação de escolas para garantir a continuação das escolas e a participação dos estudantes nelas. Muitíssimas pessoas transformaram suas casas em escolas, fizeram de seus livros e edifícios doação e erário público para os alunos. Assim, as escolas aumentaram de maneira surpreendente no oriente.O viajante andaluz Ibn Jubayr se surpreedeu com as inúmeras escolas que viu no oriente e os rendimentos abundantes de seus erários. Então, ele chamou o povo os ocidentais para viajarem ao oriente para estudar. Ele disse: "Se multiplicaram as fundações destinadas aos estudantes nos países do oriente, especialmente Damasco. Assim, quem, dentre os filhos do ocidente, procura o sucesso, deve viajar para esses países, lá ele irá encontrar muitas coisas que o apoiam e o incentivam na busca do conhecimento, a primeira dessas coisas é a desocupação da mente do assunto do sustento"[24]
Um dos fatos que comprovam a competição dos sultões e príncipes na construção e manutenção das escolas: O Sultan Ibrahim ibn Muhammad ibn Mas'ud, o sultão de Ghazni e dos arredores da Índia, nunca construía uma casa para si mesmo antes de construir uma escola e cuidar dela![25]
As mulheres na civilização Islâmica também tinham o direito de construir escolas para beneficiar os filhos e filhas dessa civilização. Rabi'ah bint Khatun Ayyub - irmã de Saladino - construíu a escola Al-Sahibiyah para o ensino da doutrina Hanbali no sopé do Monte Qasioun em Damasco.[26]
Descrevendo as escolas em Bagdá, Ibn Jubair diz: "O número de escolas em Bagdá é de cerca de trinta, todas elas estão localizadas na zona oriental. Todas elas parecem palácios magníficos. A maior e mais famosa entre elas é a Escola Nizamiah, que foi construída por Nizam-Al-Mulk e foi reformada em 504 d.H. Estas escolas têm grandes erários e imóveis, cujos ganhos são encaminhados para os jurisprudentes acadêmicos, e também é concedido aos alunos o que os sustenta".[27]
Quanto ao Egito, Ibn Battuta descreve o número de suas escolas, dizendo: "Ninguém é capaz de contar as escolas no Egito por causa de seu altíssimo número".[28] Al-Maqrizi relatou que havia mais de setenta escolas no Egito.[29]
Descrevendo a situação das escolas no mundo muçulmano naquela época, Butrus Al-Bustani[30] narra que (Hulam) disse: "Os árabes tinham escolas de ciências avançadas, distribuídas desde Bagdá até Córdoba. Eles tinham dezessete faculdades, a mais famosa era a Escola de Córdoba, que tinha uma biblioteca contendo 600 mil volumes. Eles estudavam gramática, poesia, história, geografia, astronomia, química, matemática e medicina ... Eles também tinham uma escola primária ao lado de cada mesquita onde ensinavam a ler e escrever ".[31]
Nota-se aqui também que o estudo nessas escolas não se limitou à ciência religiosa, mas as ciências naturais também foram ensinadas, como medicina, engenharia e matemática. Além disso, havia escolas especiais, onde essas ciências eram ensinadas. A este respeito, Hulam diz: "Havia escolas especiais para as ciências naturais, e a medicina era ensinada nos hospitais."[32]
As escolas primárias eram muitas na Andaluzia, mas eram cobradas taxas pelo ensino e, por isso, o califa omíada al-Hakam II (falecido em 366 dH) adicionou vinte e sete escolas para educar os filhos dos pobres gratuitamente. Assim como os meninos, as meninas costumavam ir para a escola. Professores independentes lecionavam no ensino superior dentro destas escolas. Os programas que foram a espinha dorsal da Universidade de Córdoba foram desenvolvidos durante o reinado do califado omíada na Andaluzia e também foram estabelecidas outras faculdades em Granada, Toledo, Sevilha, Murcia, Almería, Valencia e Cádiz[33].
E os príncipes e sultões do Marrocos deram grande atenção à construção de escolas. Vale ressaltar que as escolas construídas pelos murabitun nas cidades e nas áreas rurais, especialmente na região de Sus, formaram um grupo de cientistas brilhantes em diversas especialidades, que os elevou para as fileiras dos intelectuais no mundo islâmico. Havia cerca de quatrocentas escolas na região de Sus, em seu livro Sus al-Álimah (A sábia Sus), Mohamed Al-Mokhtar Al Susy[34] falou de cerca de cinqüenta destas escolas[35]. Ele também mencionou outras cem escolas em seu livro Madaris Sus al-Átiqah (As antigas escolas de Sus)[36].
As tribos sustentavam estas escolas destinando um décimo de algumas de suas culturas agrícolas e os lucros de algumas de suas propriedades para pagar a manutenção e o provisionamento destas escolas e os custos de educação. As tribos de Sus competiam na construção de escolas nas montanhas e nas planícies, e cada tribo tinha uma escola ou até mesmo duas ou três escolas. Entre as mais proeminentes escolas que foram construídas na época dos murabitun, além do que já foi mencionado, temos: as escolas de Ceuta. Havia ainda várias outras escolas em Tânger, Aghmat, Sijilmasa, Tlemcen e Marrakech. Estas escolas combinavam o conhecimento de Kairouan e a renomada cultura da Andaluzia, fazendo surgir grandes estudiosos, como Al-Qadi `Iyadh[37] e Abu Al-Walid Ibn Rushd[38], o autor de Al-Muqaddimat Al-Awail lil-Mudawwanah, Al-Bayan wa Al-Tahsil, e outros livros valiosos[39].
Deve-se ressaltar que os alunos destas escolas, no Oriente e no Ocidente, não arcavam com os custos de alimentação e alojamento. Assim, o sistema de cidades universitárias era conhecido na civilização islâmica centenas de anos antes do Ocidente. Em 721 d.H, o sultão da dinastia mariniah no Marrocos “Sultan Abu Said Uthman ibn Ya´qub” (falecido em 731 d.H) ordenou a construção da “escola nova em Fez”. Ela foi construída com melhor e mais bem conceituada maneira de construir, e os estudantes foram orgnaizados para a recitação do Alcorão, os acadêmicos foram dispostos para o ensino, e foram destinados salários e materiais mensais, e muitas propriedades tornaram-se erários para cobrir as despesas desta escola, almejando recompensa de Allah e a Sua satisfação.[40]
Abu Said foi um dos sultões da dinastia mariniah que mais se empenharam na construção de escolas. Em 723 dH, no início do mês de Sha´ban, o Sultan Abu Said ordenou a construção da “Grande Escola” ao lado Mesquita de Qarawiyin em Fez. A escola é hoje conhecida como Escola al-Attarin. Esta escola foi construída pelo Shaykh Abu Abdullah Muhammad ibn Qasim Al-Mizwar. Sultan Abu Said compareceu junto com um grupo de estudiosos e filantropos para supervisionar pessoalmente o início da construção desta escola. Ela foi considerada uma das grandes maravilhas de todos os países da época, nenhum rei construiu uma escola igual antes desta. Foi um projeto maravilhoso, onde foram canalizadas algumas fontes da região, proporcionando água corrente para a escola. Ele a encheu de alunos, nomeou um imam regular, muezhinin (os que fazem os chamados para as orações), e funcionários a cargo da escola. Ele também designou jurisprudentes para o ensino. Todos ganhavam salário e disposição acima do suficiente. Comprou também algumas propriedades e os doou para a escola, buscando a recompensa de Allah[41].
A era dos mamelucos também ficou muito conhecida pelo grande número de escolas que foram construídas na época. Os sultões e príncipes mamelucos competiam na construção de escolas religiosas e científicas. Foram verdadeiros artistas em sua construção e arquitetura e, além disso, nomeavam os melhores estudiosos e líderes nestas escolas. "O sheikh Izz Al-Din Abdul-Aziz ibn Abdul-Salam[42] ensinou na Escola Al-Salihiyyah, em Bayna Al-Qasrain"[43] em 650 d.H, e também Taqiy Al-Din ibn Bint Al-Aazz[44] ensinou na mesma escola em 680 d.H. Siraj al-Din al-Bulqiny[45] lecionou na Escola Al-Nasiriyyah, em 779 d.H, o grande estudioso e historiador Abdul-Rahman Ibn Khaldun na escola al-Qamhiyyah em 786 d.H, e outros grandes estudiosos durante toda a história dos mamelucos.[46]
Os estudiosos, juristas e sultões, e o povo em geral, costumavam inaugurar as escolas com grandes festas. Em 661 dH Sultan al-Zahir Baybars inaugurou a Escola de al-Zahiriyyah, em Bayna al-Qasrain, após esta ter sido concluída. "Compareceram os recitadores do Alcorão e os principais estudiosos de cada mazhab (escola) em seus departamentos. O ensino da jurisprudência Hanafy foi atribuído à al-Sadr Majd al-Din Abdul-Rahman ibn al-Sahib Kamal al-Din ibn al-Adim, a jurisprudência Shafi`i foi atribuído à Taqiy al-Din Muhammad ibn al-Hasan ibn Ruzain. O jurista Kamal al-Din al-Mahaly foi designado para o ensino da recitação do Alcorão, e Sheikh Sharaf al-Din Abdul-Mu'min ibn Khalaf al-Dumyaty foi designado para a ciência do Hadith. As aulas foram anunciados, toalhas de mesa foram esticadas, e Jamal al-Din Abu al-Hasan al-Jazzar[47], recitou um poema, juntamente com alguns outros poetas, incluindo al-Siraj al-Warraq e Sheikh Jamal al-Din Yusuf ibn al-Khashab, e todos eles foram premiados. Foi um dia memorável. O sultão deu à escola uma estante de livros valiosos. Foi construído uma biblioteca para os viajantes ao seu lado e estabeleceu para os órfãos muçulmanos deste departamento pão todos os dias e roupas no verão e no inverno"[48].
Alguns príncipes mamelucos construíam escolas ao lado de suas casas, apenas porque amava as escolas e desejava difundir o conhecimento entre seus familiares e vizinhos. Em 730 d.H o príncipe Ala Al-Din Al-Maghlatay Jammaly[49] construiu uma escola ao lado de sua casa, perto de Darb Milukhia no Cairo. Ele também deu grandes doações para o sustento da escola[50].
Além do ensino, algumas escolas mamelucas serviam como tribunais de justiça para analisar crimes graves. Isso aconteceu com um criminoso cruel chamado Ibn Sab` quando os juristas shafi`i os condenaram à prisão, contrariando os juristas maliki que os condenoram à morte. Esse julgamento ocorreu na Escola Al-Salihiyyah, em Bayna Al-Qasrain em 791 d.H[51].
Havia escolas especializadas nas ciências experimentais e aplicadas, incluindo a medicina e suas ciências, como a Escola Al- Zahiriyyah Al-Barraniyyah, em Damasco, que atraía os maiores cientistas especializados nesta ciência. Em 724 dH, o médico de renome na época Najm al-Din Abdul-Rahim ibn al- Shahham al-Musaly[52] foi levado para ensinar na escola depois que ele havia aprendido a medicina e suas artes na terra do Usbequistão durante uma viagem científica que durou vários anos[53].
A Escola Al-Dakhwariyyah, que fica ao sul da Mesquita dos Omíadas em Damasco, é uma das mais célebres escolas e faculdades de medicina na Síria, foi fundada em 621 dH pelo famoso médico damasceno al-Muhadhab al-Dakhwar Abdul-Rahim ibn Ali Hamid[54], chefe de medicina que criou um erário para doações nesta escola. O renomado médico Ibn Abu Usaibi`ah[55] disse: "Ele era médico e estudioso singular em sua época. Ele tornou-se merecidamente o chefe de medicina em sua época, se empenhou nas pesquisas até que ele superou os estudiosos de sua época, e conquistou proximidade dos governantes."[56]
Algumas escolas no Egito eram como uma universidade de diferentes especialidades e departamentos. Exemplo disso é a Escola Al-Mansuriyyah, criada pelo Sultão do Egito Al-Mansur Qalawun Al-Alfy em Bayna Al-Qasrain, no Cairo. Era dividida para o ensino a todas as escolas de jurisprudência (Mazhahib fiqhyiah), cada mazhab teve seu próprio estudioso e seu lugar definido. Também foi designado um departamento para o ensino das ciências médicas, um departamento para o ensino do hadith, tafsir (exegese do Alcorão). "Somente os principais e considerados estudiosos eram nomeados para ensinar essas disciplinas."[57]
Alguns livros históricos se empenharam em fazer o inventário das escolas mencionadas em cada país separadamente. Abdul-Qader ibn Muhammad Al-Nu`Aimi al-Dimashqi (de Damasco) (falecido em 927 dH) escreveu seu famoso livro “al- Daris fi Tarikh al-Madaris” (História das Escolas), que inclui os seguintes capítulos: Escolas de Alcorão, Escolas de hadith, Escolas do Alcorão e Hadith juntos, Faculdades de Medicina, Khanqahs (albergues para Sufis), Rabats (hotéis para mulheres mais velhas, viúvas, divorciadas, etc), Zawyas (pequenas mesquitas), Turbahs (cemitérios), Mesquitas e Jauam´i (Mesquitas Maiores). Quanto ao seu estilo, ele menciona o nome e a localização da escola, a biografia de seu fundador, seus erários (doações), e os nomes e as biografias dos professores ensinaram na escola até a época do autor. Este livro mencionou apenas as escolas de Damasco.
Al-Maqrizy fez o mesmo em seu livro enciclopédico Al-Mawa`izh wal I`Itibar fi zhikr Al-Khutat wal Athar, que oferece um excelente serviço aos pesquisadores, pois ele menciona as escolas do Cairo na eras Ayyubi e mameluca[58].
O empenho dos muçulmanos na criação de escolas em todas as regiões da sociedade muçulmano demonstra que essa civilização considerou o fato de que a ciência é a base para qualquer progresso. Mais ainda, esta civilização ofereceu ao mundo um exemplo único na difusão do conhecimento entre os ricos e os pobres, os velhos e os jovens, homens e mulheres, até que chegasse ao topo do progresso científico ao longo de vários séculos.
[1] Sabur ibn Ardashir: Ele é Abu Nasr Sabur ibn Ardashir (morreu em 416 dH), era ministro de Baha al-Dawlah Abu Nasr ibn Adud-al-Dawlah. Ele era um ministro sênior, generoso, respeitoso e amável. Ele tinha uma casa de educação em Bagdá. Veja: Al-Zahabi: Siyar Al-A'lam 17/387, e Ibn Khillikan: Wafiyat Al-A'yan 2 / 354.
[2] Ibn Kathir: Al-Bidayah wa Al-Nihayah 11/312.
[3] Sadir ibn Abdullah: Fundador da Escola Al-Sadiriyah, que está localizada no portão oeste da Mesquita dos Omíadas. Ele fundou a escola em Damasco em 491 dH. Veja: Ibn Asakir: Tarikh Dimashq 52/46.
[4] Abd-al-Qadir al-Nu'aymi: Al- Daris fi Tarikh Al-Madaris (pesquisador da história das escolas) 1 /413.
[5] Rash ibn Nazif: Ele é Abu al-Hasan Rash ibn Nazif ibn Masha'allah Al-Dimashqi (370-444 dH /980-1052dC), leitor do Alcorão, erudito, original de de Al-Maárra "Arraiolos”, estudou no Egito, Síria e Iraque e viveu em Damasco. Veja: Al-Zirikli: Al- A'lam 21/03.
[6] Arif Abd-al-Ghani: Nizam Al-Ta'lim ind Al-Muslimin (sistema de educação dos muçulmanos), P89.
[7] Nizam-al-Mulk Al Tusi: Ele é Abu Ali Al-Hasan ibn Ali al-Tusi, também conhecido como Nizam-al-Mulk (408-485 d.H/1018-1092 d.C), original de Tus, trabalhou na política, teve contatos com Sultan Alb-Arslan, que o nomeou ministro. Ele estabeleceu a grande escola em Bagdá e em outras cidades. Veja: Al-Zahabi: 19/94 A'lam Siyar Al-Nubala e Al-Zirikli: Al- A'lam 2 / 202.
[8] Ver: Mustafa Al-Siba'i: Min. Rawa'i Hadaratuna (das maravilhas da nossa civilização), P103, 104.
[9] Ibn Kathir: Al-Bidayah wa Al-Nihayah 12/92.
[10] Idem, 12/169.
[11] Abu-al-Ma'ali AL-Juwayni: Ele é Abd-al-Malik ibn Abdullah ibn Yusuf Al-Juwayni (419-478 dH/1028-1085 dC), Abu-al-Ma'ali ibn Rukn-al-Islam, Abu Muhammad Al-Juwayni, o imam das duas mesquitas sagradas, o orgulho do Islam, e o líder absoluto de todos os imams. Veja: Taqi-al-Din Al-Sayrafini: Al-Muntakhab (seleção) 1 / 361.
[12] Ibn Al-Jawzi: Al-Muntazim 9 / 167.
[13] Abd-al-Hadi Muhammad Rida: Nizam-al-Mulk, p651.
[14] Ver: Yuhan Huyzinga: Idmihlal Al-usur Al-Wusta (a decadência da Idade Média), P175.
[15] Ibn Al-Sa'i: Ele é Abu Talib Ali ibn Anjab ibn Abdullah (593-674 dH /1197-1275 dC), um grande historiador, nasceu e morreu em Bagdá. Ele era o guardião dos livros da escola Al-Mustansiriyah. Al-Al-Jami fi Mukhtasar Unwan Al-wa Tarikh Uyun Al-Siyar uma de suas obras. Veja: Al-Zirikli: A'lam Al-4 / 265.
[16] Ibn Fadlan: Ele é Muyi-al-Din Abu Abdullah ibn Fadlan Al-Baghdadi al-Shafi, professor na escola Al-Mustansiriyah, juiz-chefe, estudioso Shafi'i destacado, viajou para Khorasan e teve debates com seus estudiosos. Ele morreu em Shawwal (631 dH/1233 dD). Veja: Al-Safadi: Al-Wafi bi Al-Wafiyat 5 / 132.
[17] Al-Farghani: Ele é Umar ibn Muhammad ibn al-Husayn ibn Abu Umar ibn Muhammad ibn Abu Nasr Al-Andakani. Ele morreu em 632 dH. Veja: Ibn Abu Al-Wafa Al-Qurashi: Al-Jawahir Al- Madiyah fi Tabaqat Al-Hanafiyah (figuras proeminentes da escola Hanafi) 2 / 662, 663.
[18] Yusuf ibn Al-Jawzi: Ele é Muhyi-al-Din Yusuf Ibn Jawzi al-Qurashi Al-Al-Baghdadi (580-656 dH/1185-1258 dC), filho do acadêmico sênior Abu Al-Faraj ibn al- Jawzi, estudou com seu pai e outros, assumiu a magistratura em Bagdá, e as supervisão dos erários. Ele foi morto juntamente com seus três filhos nas mãos dos tártaros. Veja: Al-Zirikli: A'lam Al-8 / 236.
[19] Abdul-Rahman ibn Yusuf ibn Abdul-Rahman ibn Ali ibn Al-Jawzi: Ele morreu mártir junto com seu pai. Ele foi morto em Bagdá, quando Hulagu entrou em Bagdá em 656 dH /1258 dC quando tinha ultrapassado cinqüenta anos. Ele compôs uma coleção de poesias. Veja: Kahalah: Mu'jam Mu'allifin Al-5 / 200.
[20] Ibn Kathir, Al- Bidayah wa Nihayah Al-13/139, 140.
[21] Ibn Al-Athir: Ele é Abu Al-Hasan Ali ibn Muhammad ibn Abd-al-Karim Al-Jazari (555-630 dH/1160-1233 dC), historiador conhecedor, nascido em Jazirat ibn Umar e morreu em Mossul . Um de seus livros é Al-Kamil fi al-Tarikh (o completo na história). Veja: Al-Zahabi: Siyar Al-A'lam 22/354-356.
[22] Ibn al-Athir: Al-Kamil Fi al-Tarikh, 10/31, 32.
[23] Al-Maqrizi: Al-Mawa'iz wa Al-I'tibar 5 / 173.
[24] Ibn Jubayr: Viagens de Ibn Jubayr, p.258.
[25] Ibn Kathir: Al-Bidayah wa Al-Nihayah 12/157.
[26] Idem, 12/317.
[27] Ibn Jubayr: Viagens de Ibn Jubayr, p205.
[28] Ibn Battuta: Viagens de Ibn Battuta, p20.
[29] Veja: Al-Khutat Al-Maqriziyah 2/362/400.
[30] Butrus Al-Bustani: Ele é Butrus ibn Bulus ibn Abdullah ibn Karam Al-Bustani (1819-1883 dC), um cientista que participou de várias ciências, nascido em Al-Dibiyah no Líbano. Veja: Kahalah: Mu'jam Mu'alllifin Al-3 / 48.
[31] Da'irat Al-Ma'arif (a enciclopédia) 6 / 161, 162, citado por Abdullah Al-Mashuki: Mawqif Al-Islam wa Al-Kanisah min Al-Ilm, P. 59.
[32] Idem.
[33] Will Durant: História da Civilização, 13/306.
[34] Mukhtar al-Susy: Muhammad al-Mukhtar ibn Ali ibn Ahmad al-al-Alighy Susy (1318-1383 d.H/1900-1963 d.C), historiador, pesquisador, escritor e poeta. Ele era conhecido como o Ministro da Coroa. Seus livros incluem al-Ma `sul fi Tarikh Sus. Veja: al-Zirikli, al- A’lam, 7 / 93.
[35] Muhammad al-Mukhtar Susy: Sus al-`Alimah, p. 154-167.
[36] Muhammad al-Mukhtar Susy: Sus Madaris al-`Atiqah (As antigas escolas de Sus), p. 93-134.
[37] Al-Qadi `Iyadh: Abu al-Fadl `Iyad ibn Musa ibn` Iyad al-Yahsuby al-Sabty (476-544 d.H/1083-1149 d.C). Ele foi o principal estudioso do seu tempo no hadith, lingüística, gramática, história e linhagens dos árabes. Foi nomeado juiz de Ceuta (onde nasceu) e, em seguida, Granada. Ele morreu em Marrakech. Veja: Ibn Khallikan, Wafayat al-yan A », 3 / 483, 485.
[38] Ibn Rushd (Averroes), Abu al-Walid Muhammad ibn Ahmad ibn Rushd al-Qurtubi (de Córdoba) (520-595 dH/1126-1198 dC), um renomado filósofo, conhecido como Ibn Rushd neto. Ele nasceu em Córdoba e morreu em Marrakech. Veja: Al-Dhahabi, Siyar `Alam al-Nubala, 21/307-309, e Ibn al-`Imad, Shadharat Dhahab-al, 4 / 367.
[39] Al-Hassan al-Sa'ih: al-Hadarah al-Maghribiyah (A Civilização marroquina), 2 / 64.
[40] Abu al-Abbas al-Nasiry: al-Istiqsa fi Akhbar Duwal al-Maghrib al-Aqsa (história das dinastias marroquinas), 3 / 111, 112.
[41] Idem.
[42] Al-Izz ibn Abdul-Salam: Abdul-Aziz ibn Abdul-Salam al-Dimashqy (577-660 dH/1181-1262 dC), apelidado de Izz al-Din, conhecido como o Sultão dos Sábios. Ele era um jurista Shafi`y, que chegou ao posto de Ijtihad (empenho individual). Ele nasceu e cresceu em Damasco e assumiu o poder judiciário, no Egito. Entre as suas obras: al-Tafsir al-Kabir. Veja Zirikli-Al: al-lam A », 21/04.
[43] Al-Maqrizi: al- Suluk, 5 / 485.
[44] Taqiy Al-Din ibn Bint al-Aazz: Muhammad ibn Ahmad ibn Abdul-Wahab ibn Khalaf al-Ala'y (falecido em 695 dH/1296 dC), Al-Qady Shihab al-Din ibn Al-Qady Alaa al-Din ibn Al-Qady al- Qudat Taj al-Din, conhecido como Ibn Bint al- A azz, Asshafi´y Al-Masri. Veja: al-Fasy: Dhail al-Taqiyid fi Ruwat al-Sunan wa al-Asanid, 1 / 52.
[45] Siraj al-Din al-Bulqiny: Abu Hafs Umar ibn Ruslan ibn Salih al-Kanany (724-805 dH/1324-1403 dC), um estudioso do Hadith. Ele nasceu em Bulqinah, oeste do Egito, e aprendeu no Cairo. Ele assumiu o poder judiciário de al-Sham (Síria) em 769 dH e morreu no Cairo. Veja: Al-Zirikli: al- A’lam 5 / 46.
[46] Al-Maqrizy, al-Suluk, 4 / 347, 5 / 163.
[47] Al-Jazzar: Yahya ibn Abdul-Azim ibn Yahya ibn Muhammad (601-679 dH/1204-1280 dC), um poeta egípcio. Veja: Al-Zirikli: al- A’lam, 8 / 153.
[48] Al Maqrizy, al-Suluk, 03/02.
[49] Maghlatay: Abu Abdullah Ala al-Din Maghlatay ibn Qulaij ibn Abdullah al-Misry al-Hanafy (1290-1361 dH/689-762 dC). Ele foi um crítico dos estudiosos do Hadith e linguístas. Escreveu mais de cem livros, incluindo um comentário sobre Sahih al-Bukhari. Veja: Al-Zirikli: al- A’lam , 7 / 275.
[50] Al-Maqrizy, al-Suluk, 3 / 133.
[51] Al-Maqrizy, al-Suluk, 5 / 241.
[52] Abdul-Rahim ibn al-Shahham al-Musly: Najm al-Din ibn al-Shahham al-Shafi `y (653-730 dH). Ele aprendeu a jurisprudência e, em seguida, viajou para Damasco e foi o Shaykh líder de Khanqah al-Qasrain. Era estudioso da escola Shafi`y e da medicina. Veja al-Hafiz al-Asqalany: al-Durar al-Kaminah fi A ` yan al-Mi'at al-Thaminah (As jóias ocultas nas biografias do século 8), 3 / 150.
[53] Al Nu `Aimy: al- Daris fi Tarikh al-Madaris (História da Educação), 1 / 261.
[54] Muhadhab al-Din al-Dakhwar: Abdul-Rahim ibn Ali ibn Hamid al-Dakhwar (565-628 dH/1170-1230 dC). Ele nasceu e cresceu em Damasco e contactou o Rei al-A´adil Al Ayubi. De seus livros al-Junainah (O Jardim), em medicina, e Mukhtasar al-Aghany lil Asfahany (Súmula de Al-Aghany de autoria de al-Asfahany). Veja: Al-Zirikli: al-lam A », 3 / 0347.
[55] Ibn Abu Usaibi `ah: Abu al-Abbas Ahmad ibn al-Qasim ibn califa (596-668 dH/1200-1270 dC), um médico e historiador, autor de Uyun al-Anba` fi Tabaqat al-Attiba (Notícias das biografias das camadas dos Médicos). Ele morreu em Sarkhad, na Síria. Veja: Muhammad al-Khalily: "Udaba' al-Attiba (Os Escritores Médicos), 1 / 52.
[56] Ibn Abu Usaibi`ah: Uyun al-Anba' fi Tabaqat al-Attiba, 4 / 318.
[57] Al Maqrizy: Al Mawa´izh wa Al-I`tibar, 3 / 480.
[58] Ver: Fathia Al Nabarawy: Tarikh al-Nuzhum wa al-Hadarah al-Islamiyah (História dos Sistemas e da civilização islâmica), p. 224.