Os Direitos da Mulher na Civilização Islâmica

Dr. Ragueb El Serjani

Tradução: Sh. Ahmad Mazloum

 

        O Islam envolveu a mulher com grande cuidado e atenção, a  elevou e a valorizou, concedeu-lhe nobreza e bom relacionamento sendo filha, esposa, irmã e mãe. O Islam estabeleceu, inicialmente, que a mulher e o homem foram criados de uma só fonte, por isso as mulheres e os homens no aspecto humano são iguais. Disse Allah, o Altíssimo: “Ó humanos, temei a vosso Senhor, Que vos criou de uma só pessoa e desta criou sua mulher, e de ambos espalhou pela terra numerosos homens e mulheres” (Annissá: 1). E existem vários outros versículos que esclarecem a eliminação do Islam o princípio da distinção entre o homem e a mulher nos valores humanos comuns.

 

O valor da mulher no Islam

          Partindo destes princípios e negando os costumes da jahiliyah (época pré-islâmica) e das nações anteriores no assunto da mulher, o Islam chegou para defender a mulher e para colocá-la em um nível jamais alcançado em nenhuma nação ou religião anterior nem em nação posterior, estabelecendo para ela – como mãe, irmã, esposa e filha desde catorze séculos atrás – direitos reivindicados ainda hoje pela mulher ocidental.

          O Islam estabeleceu inicialmente que as mulheres se igualam aos homens no valor e na posição, o fato de serem mulheres não as diminui. O mensageiro (a paz esteja com ele) disse sobre isso, decretando um princípio importante: “Em verdade, as mulheres são irmãs dos homens”[1]. Também é narrado sobre ele que recomendava o respeito às mulheres permanentemente, dizia aos seus companheiros: “Tratem bem as mulheres...”[2]. Esta recomendação se repetiu no sermão de despedida, quando ele falava a milhares de pessoas da sua nação.

 

O valor da mulher na época pré islâmica

          Se pretendemos esclarecer o que o Islam estabeleceu de bases para a elevação e enobrecimento da mulher, devemos primeiro perceber inicialmente a situação da mulher nas “ignorâncias” antigas e modernas[3], para vermos a real escuridão que ela viveu e que ela ainda vive. A partir daí, esclarece-se para nós a real situação e posição da mulher sob a sombra dos ensinamentos do Islam e da civilização islâmica.

          Se os árabes – como antecedemos no primeiro capítulo – enterravam suas filhas as privando do direito à vida, temos o Alcorão Sagrado sendo revelado criminalizando e proibindo tal ato: “E quando a filha, enterrada viva, for interrogada, por que delito fora morta” (Attakwir: 8-9). O profeta (a paz esteja com ele) também fez deste crime um dos maiores pecados. Ibn Mass’úd disse:

 

Perguntei ao mensageiro de Allah (a paz esteja com ele): Qual pecado é maior? Ele disse: “Que tu associes com Allah um parceiro sendo que Ele te criou”. Eu disse: E em seguida? Ele disse: “Que mates o teu filho temendo que ele divida o teu sustento contigo”. Eu disse: e em seguida? Ele disse: “Que cometas adultério com a mulher de teu vizinho”[4].

 

Os direitos da mulher no Islam

          Este assunto no Islam não se limita a dar à mulher somente o direito à vida, mais ainda, o Islam incentivou a benfeitoria a ela quando pequena. Disse o mensageiro (a paz esteja com ele): “Quem for responsável por estas meninas e for benfeitor para com elas, elas lhes serão uma barreira do fogo”[5].

          Em seguida, o mensageiro (a paz esteja com ele) ordenou ensiná-las dizendo: “Todo homem que tiver uma menina e a ensinar com perfeição, e a educar com perfeição... terá duas recompensas”[6]. E o profeta (a paz esteja com ele) dedicava um dia para a exortação das mulheres e as ordenava a obediência a Allah, altíssimo seja[7].

          Quando a menina atravessa a idade da puberdade e torna-se adolescente, o Islam já lhe dá o direito de aceitar ou recusar um possível pretendente para o casamento, não permite que ela se case com um homem a quem não deseja. Sobre isso, o mensageiro (a paz esteja com ele) disse: “A mulher que já foi casada tem mais direito sobre si que o seu tutor, e a virgem deve ser perguntada e sua permissão é o seu silêncio”[8]. E disse: “A mulher que já foi casada não pode ser casada até ser consultada, e a mulher virgem não pode ser casada até lhe ser pedida a permissão”. Disseram: Ó mensageiro de Allah, e como é a sua permissão? Disse: “Que faça silêncio”[9].

          E quando torna-se esposa, a lei islâmica incentiva o bom trato e boa convivência, levando em consideração que a boa convivência com a mulher é uma prova da nobreza do homem e da generosidade de sua natureza. Incentivando isso, o mensageiro (a paz esteja com ele) disse: “Se o homem dá água para sua mulher beber é recompensado”[10]. E alertando, diz: “Eu constranjo a quem faz perder o direito dos dois fracos: o órfão e a mulher”[11].

          O mensageiro (a paz esteja com ele) era um exemplo prático neste assunto, era de extrema ternura e bondade com sua família. Al Assuad Annakhaí narra que perguntou a Áíshah sobre o que o profeta (a paz esteja com ele) fazia junto de sua família. Ela disse: “A ajudava no trabalho doméstico, então, se chegasse a hora da oração, partia para a oração”[12].

          E se a mulher detestar o seu marido e não suportar viver com ele, o Islam lhe concedeu o direito à separação. Ibn Ábbass disse:

 

A mulher de Thabit ibn Qaiss veio até o profeta (a paz esteja com ele) e disse: Ó mensageiro de Allah, não reclamo sobre Thabit em religião nem conduta, porém receio a incredulidade. O mensageiro de Allah então disse: “Então, queres anular a tua residência com ele?”. Ela respondeu: “Sim”. Então, o profeta (a paz esteja com ele) o ordenou que se separasse dela[13].

         

Podemos adicionar ao que antecedeu o fato de o Islam ter estabelecido poder financeiro individual para a mulher exatamente igual o homem: ela pode vender, comprar, alugar, outorgar, dar e não tem limitação sobre ela enquanto ela goza de suas faculdades mentais, baseando-se no dizer de Allah, o Altíssimo: “Então, se percebeis neles maturidade, entregai-lhes suas riquezas...” (Annissá: 6).

          Quando Ummu Haní bint Abi Talib deu proteção a um homem politeísta e seu irmão Ali ibn Abi Talib queria matá-lo, o profeta (a paz esteja com ele) sentenciou a favor de Ummu Haní e deu a ela o direito de oferecer proteção na guerra ou na situação de paz aos não- muçulmanos e disse: “Protegemos a quem tu proteges ó Ummu Haní”[14].

          Assim vive a mulher muçulmana, cara, nobre, protegida sob a sombra dos ensinamentos do Islam e sob a nobre civilização islâmica.

 

 


[1] Relatado por Al-Tirmizi: Capítulo de Al-taharah (purificação) (113), Abu Daud (236), Ahmad (26.238), Abu Ya'la (4694). Veja: Sahih Al-Jami ' de Al-Albani (1983).

[2] Narrado por Al-Bukhari sob a autoridade de Abu Hurayrah: Capítulo de Al-Nikah (casamento), o capítulo de conselhos sobre cuidar de mulheres (4890), e Muslim: Capítulo da lactação (1468).

[3] Mencionamos este assunto quando falamos sobre as civilizações anteriores.

[4] Narrado por Al-Bukhari, capítulo de Al-Adab (comportamento) (5655), Al-Tirmizi (3182) e Ahmad (4131).

[5] Narrado por Al-Bukhari sobre a autoridade do 'Aisha (que Allah esteja satisfeito com ela): Capítulo de Al-Adab (comportamento) (5649), e muçulmanos, o capítulo da Virtude, boas maneiras e participar dos laços de parentesco (2629).

[6] Narrado por Al-Bukhari sobre a autoridade de Abu Musa Al-Ash'ari: Capítulo de Al-Nikah (casamento) (4795).

[7] Abu Said Al-Khudri disse: Algumas mulheres solicitaram ao Profeta para fixar um dia para elas, enquanto os homens estavam tomando todo o seu tempo. Então, ele prometeu-lhes um dia de aulas para exortá-las e ordená-las. Narrado por Al-Bukhari, capítulo de Al-Ilm (conhecimento) (101), e Muslim, o capítulo da Virtude, boas maneiras e participar dos laços de parentesco (2633).

[8] Narrado por Muslim sobre a autoridade de Abdullah ibn Abbas: Capítulo de Al-Nikah (casamento) (1421).

[9] Narrado por Al-Bukhari sobre a autoridade de Abu-Hurairah: Capítulo de Al-Nikah (casamento) (4843).

[10] Narrado por Ahmad na autoridade de Ibn Al-Írbadh ibn Sariyah (17195). Veja: Sahih Al-Targhib wa Al-Tarhib (Livro do incentivo e intimidação) (1963)

[11] Narrado por Ibn Majah sobre a autoridade de Abu-Hurairah (3678) e Ahmad (9664). Shu'abi Al-Arna'ut disse que sua transmissão é forte, Al-Hakim (211), e disse que o hadith é correto, conforme as condições exigidas por Muslim. Al-Zahabi disse em Al-Talkhis: De acordo com as condições de Muslim. Al-Baihaqi (20.239). Al-Albani disse: correto. Veja Al Silsilah Sahihah (1015).

[12] Narrado por Al-Bukhari capítulo, de wa Al-Jama'ah Al-Imamato (644), Ahmad (24.272), e Al-Tirmizi (2489).

[13] Narrado por Al-Bukhari, capítulo de Al-Talaq (divórcio) (4973) e Ahmad (16.139).

[14] Narrado por Al-Bukhari sobre a autoridade de Um Hani bint Abu Talib: Capítulo de Al-Jiziah (3000), e Muslim: Capítulo de Salat Al-Musafirin (orações dos viajantes) (336) .