As Razões e os Objetivos da Guerra no Islam
Dr. Ragueb El Serjani
Tradução: Sh. Ahmad Mazloum
A paz é a base no Islam. O profeta (a paz esteja com ele) ensinava os seus companheiros e os educava dizendo: “Não desejais o encontro do inimigo, e peçam a Allah o bem estar...”[1].
Portanto, o muçulmano, conforme a natureza de sua educação moral através do Alcorão Sagrado e da Sunnah do profeta (a paz esteja com ele), detesta o assassinato e a destruição, assim sendo, ele não inicia uma guerra contra ninguém, porém se empenha em evitar o combate e o https://wamybr.org/uploads/2021/03/IYGF524302.jpg derramamento de sangue através de todos os meios possíveis. Lemos nos versículos do Alcorão Sagrado o que confirma bem este significado. A permissão do combate só ocorreu após os muçulmanos serem atacados, foi declarada a guerra contra eles, e neste caso, é necessário a autodefesa e a defesa da religião, do contrário, isto é uma covardia na ética e uma falha na determinação. Allah, exaltado seja, diz: “É permitido (o combate) aos que são combatidos, porque sofreram injustiça. – E, por certo, Allah, sobre seu socorro, é Onipotente. Esses são os que, sem razão, foram expulsos de seus lares, apenas porque disseram: “Nosso Senhor é Allah”” (Al Hajj: 39-40). O motivo da guerra é claro neste versículo, os muçulmanos foram injustiçados e expulsos de seus lares sem razão.
E Allah, exaltado seja, diz também: “É combatei pela causa de Allah os que vos combatem, e não cometais agressão. Por certo, Allah não ama os agressores” (Al Baqarah: 190). Al Qurtubi disse:
Este é o primeiro versículo que foi revelado sobre a ordem do combate. E não há dúvida que o combate era proibido antes da hijrah com o dizer de Allah: “Revida o mal com o que é melhor” (Fussilat: 34) e com o dizer de Allah: “Então, indulta-os e tolera-os” (Al Maidah: 13) e outros versículo similares que foram revelados em Makkah, então, quando o profeta (a paz esteja com ele) imigrou para Al Madinah foi ordenado a combater[2].
Também observamos que a ordem de combate aqui é tão somente para a luta contra quem iniciou o combate, e não é contra o pacífico. Lemos a confirmação veemente deste significado no próprio versículo: “e não cometais agressão”, e em seguida, a advertência aos crentes: “porque Allah não ama aos transgressores”. Portanto, Allah não gosta da agressão, mesmo que seja contra os não-muçulmanos, nisso há uma grande diminuição do dimensionamento da guerra, e contém grande parcela de misericórdia para com toda a humanidade.
E Allah, exaltado seja, também diz: “E combatei os idólatras, a todos eles, assim como combatem a todos vós” (Attaubah: 36). O combate aqui é restrito; de acordo com o combate e reunião deles contra nós torna-se obrigatória a nossa reunião contra eles[3]. E o motivo de combate contra todos os idólatras é o fato de todos eles nos combaterem, a partir daí, não é permitido ao muçulmano combater quem não o combate, exceto por uma clara razão, como por exemplo: roubo, saque ou violação dos direitos dos muçulmanos, ou por causa de uma injustiça cometida contra alguém e os muçulmanos querem eliminar esta injustiça, ou porque proíbem os muçulmanos de difundirem a sua religião ou de fazê-lo chegar aos outros.
Em um versículo similar ao anterior, Allah, o Altíssimo, diz: “Será que vós não combatereis um povo que violou seus juramentos e intentou fazer sair (de Makkah) o mensageiro, e eles vos iniciaram (com a guerra) pela primeira vez. Receai-los? Então, Allah é mais Digno de que O receeis, se sois crentes” (Attaubah: 13). Quer dizer com os “que descumpriram os seus juramentos”: os habitantes de Makkah, eles foram a razão da saída do profeta de Makkah, por isso a saída foi atribuída a eles. E é dito também: tiraram o mensageiro de Al Madinah para combater os habitantes de Makkah por causa do descumprimento que ocorreu da parte deles.
Al Hassan disse: “e eles vos iniciaram” com a guerra “a primeira vez”, ou seja, descumpriram o pacto e apoiaram Bani Bakr contra Khuzaáh. E também é dito que significa: iniciaram com o combate no dia de Badr, porque o mensageiro (a paz esteja com ele) saiu para encontrar a caravana e, quando eles conquistaram a caravana podiam se retirar, mas eles se recusaram e chegaram a Badr prometendo se embriagar ao festejar a vitória no combate contra os muçulmanos....Entre os significados: Eles terem feito o mensageiro (a paz esteja com ele) sair significa: proibi-lo de realizar o hajj, a úmrah e o tauaf (circundar a Kaabah), este é o início deles[4]. E independente de quando realmente ocorreu a iniciação (do combate), a causa do combate para os muçulmanos é clara, é o fato de os seus inimigos terem iniciado o combate contra eles.
Essas são as causas e as motivações que levam os muçulmanos para a guerra. E a realidade dos muçulmanos na época dos califas probos, depois da morte do mensageiro (a paz esteja com ele) confirma isso, pois os muçulmanos em suas conquistas não guerrearam ou mataram todos os idólatras que os afrontaram nestas conquistas, pelo contrário, só combateram aqueles que os combateram dentre os exércitos dos territórios conquistados, e deixavam o restante dos idólatras livres em suas religiões.
Essas são – como observamos - causas e motivações que não podem ser negadas por uma pessoa justa, nem podem ser reclamadas por uma pessoa neutra. Essas causas abrangem a defesa contra a agressão, a autodefesa, a defesa da família, da nação e da religião. Também abrangem a asseguração da religião e da crença para os crentes a quem os incrédulos tentam desviar de sua religião, a proteção da missão religiosa para que esta seja transmitida para todas as pessoas e, por fim, a disciplina dos que descumprem o pacto[5]. Quem no mundo nega causas e motivações iguais a essas para a guerra?!
[1] Relatado por Al-Bukhari da narração de Abdullah ibn Abu Aufa:Kitab Al Jihad wal Siar (2804), e Muslim: (1742).
[2] Veja: Al Qurtubi: Al Jami’Li Ahkam Al Qur’an 1/718.
[3] Veja: Al Qurtubi: Al Jami’Li Ahkam Al Qur’an 4/474.
[4] Veja: Al Qurtubi, Al Jami’Li Ahkam Al Qur’an 4/434.
[5] Veja: Anuar Al Jundi: Bimazha Intassaral Musslimun (Com o que os muçulmanos venceram?) p 57-62.