Dr. Ragheb Elsergany
Traducão: Sh. Ahmad Mazloum
Dentre as características que destacam a civilização do Islam temos o fato dela ter se constituído sobre o alicerce da unicidade absoluta a Deus, o Senhor da terra e do céu, ou seja, Allah, exaltado e altíssimo seja, é o Deus adorado com razão, é o Único, Aquele que não tem sócio em Seu decreto, não tem similar a Ele em Seu reino nem em Sua autoridade. Ele é Quem fortifica e Quem humilha, concede e dá, decreta para a Sua criação o que tem benefício e virtude em suas vidas. Todos os seres humanos são servos d´Ele, iguais no pertencer e no recorrer a Ele, sem intermédio humano ou sacerdotal. Todos eles devem obedecê-Lo e seguir Suas ordens, glorificado seja, e cumprir a Sua Lei revelada.
O impacto do monoteísmo
E o conteúdo desta alteza no entendimento da unicidade faz o ser humano sentir a sua nobreza pessoal, e que ele não se humilha a ninguém das criaturas de Allah e, a partir daí, o ambiente do trabalho e do pensamento lhe é propiciado com toda liberdade.
Assaiyd Sulaiman Annadawi[1] diz: “A crença do monoteísmo trazida por Muhammad, o mensageiro de Allah (a paz esteja com ele) é a crença que foi capaz de libertar o ser humano dos temores que dominavam o seu sentimento, tornou-se, com o mérito desta crença, não temer ninguém além de Allah. Após Allah lhe ter submetido a ele o que ele adorava antes… como: o sol, a terra, o rio, o mar… pois se desvaneceu perante ele o respeito de reinado e a majestade de governo dentro dos seres humanos, pois os deuses da Babilônia, Egito, Índia e Irã não parecem senão serviçais do ser humano, patrocinadores de seus interesses e guardiões de suas posses. Os deuses não empossavam estes reis, mas o ser humano que os elevava e os rebaixava. A sociedade humana que se submetia ao jugo dos deuses era uma sociedade corrupta, rasgada e dividida em castas governadas pelas tradições injustas, fez do ser humano quem é honrado e quem é baixo, este pertence à classe alta e este à classe baixa, este foi criado por “Barmishur” – o maior dos deuses indianos – de sua cabeça, então se tornou honrado e servido, e aquele foi crido de seu pé, então se tornou simples e servo, e outro foi criado da mão do grande deus, então deve representar a classe média. E naturalmente, como resultado desta crença, a sociedade humana naquele momento se dividiu em partidos e níveis de acordo com as descendências e as linhagens, desconhecendo o mais simples significado de igualdade humana, de alteza do ser humano e de alcance de direitos por igual. O mundo naquela época era tão somente uma arena de conflitos, de ostentação de partidos e classes”[2].
Em seguida, lembra a grandeza do Islam ao dizer: “Quando o Islam chegou dissipou as trevas, as pessoas conheceram pela primeira vez a crença do monoteísmo e o significado da irmandade humana que reformou as trincas existentes e eliminou as medidas artificiais. Com esta crença, o ser humano entendeu o que lhe foi tirado de seu direito de igualdade, e a história é a melhor testemunha sobre o que esta crença tem de resultados positivos e eficazes, e a medida de sua influência na mentalidade das nações e povos que reconheceram – seja por agrado ou por desagrado – a virtude desta crença. Mesmo assim, muitos povos que não crêem no princípio do monoteísmo desconhecem todos os seus significados e sua influência real na mudança dos pesos e medidas e ainda não possuem até a nossa época o princípio sincero da igualdade humana. Isto não significa que não verás mais as aparências do princípio sincero da igualdade humana somente em suas sociedades e reuniões, mas tu perderás também o princípio da igualdade em seus templos, onde os frequentadores se deparam com as bases de classificação das pessoas conforme os seus níveis (protocolo). Sem dúvida, os muçulmanos estão bem, pois conheceram este princípio a treze séculos atrás graças à crença deles na unicidade de vosso Senhor, o Altíssimo, o Poderoso. Eles se libertaram das medidas artificiais e dos níveis inventados, as pessoas frente ao Islam são iguais como os dentes de um pente, a cor ou a raça não os distingue, a nacionalidade não diferencia entre eles, todos pararam frente ao Senhor deles prostrados, humilhados e submissos, e nas relações em suas vidas são honrados e iguais, não há disparidade entre eles exceto na fé, e não há virtude para ninguém exceto na boa ação [Em verdade, o mais digno perante Allah dentre vós é o mais temente] (Al Hujurat: 13)[3].
Princípios do monoteísmo
Portanto, esta unicidade – que exclusivamente os muçulmanos têm frente ao Criador do Universo – tem uma influência clara que se reflete claramente em sua civilização e em suas contribuições na história da humanidade. Isso se esclareceu através dos seguintes princípios:
- A não divinização do governante: Esta teoria prevaleceu nas épocas e nas civilizações anteriores. Predominava a crença em que os governantes foram criados de elemento superior ao elemento do ser humano. Da negação dessa teoria nasceu – entre os muçulmanos – a possibilidade de cobrança do governante quando este erra ou é negligente, e nasceu a negação do respeito de reinado do ser humano e o temor somente de Allah, o Deus, o Governante Absoluto que estabelece para os humanos as Leis e, suas criaturas devem apenas as Suas ordens e aplicar as Suas Leis reveladas. Assim, o ser humano se sente honrado pessoalmente, pois não se humilha a ninguém das criaturas de Allah, trabalha e pensa com liberdade e se dirige em seu trabalho e em seu pensamento para o agrado de seu Senhor, com a obra do bem e o evitar do mal. E não há um só versículo do Alcorão que não convida para o monoteísmo. Diz Allah, o Altíssimo: [Ó humanos, lembrei da graça de Allah sobre vós. Há outro criador além de Allah que vos sustenta do céu e da terra? Não há divindade além d´Ele. Pois, para onde se desviam?] (Fater: 3).
- A igualdade entre os humanos: Não existe nobre nem simples, quem pertence a um nível alto nem outro a um nível baixo, não há intermediário humano ou sacerdotal. Todos foram criados por um só Deus, e adoram a um só Senhor, todos são iguais como os dentes de um pente. A cor, a nação ou outro não os distinguem exceto com a fé e o temor a Allah. Assim existe a elevação do nível do ser humano e a libertação do domínio de seu irmão ser humano. O profeta (a paz esteja com ele) publicou este nobre princípio no sermão de despedida: “Ó humanos, vosso Senhor é um. E vosso pai (Adão) é um. Não há virtude de árabe sobre um não árabe, nem de não árabe sobre um árabe, nem de vermelho sobre um negro, nem de negro sobre um vermelho, exceto no temor a Allah…”[4].
- A inexistência das imagens: A libertação de todas as aparências politeístas, seja em seu aspecto antigo, representado pelas imagens e estátuas, seja em seu aspecto moderno, na forma de divinização do estado governante e adoração das pessoas. Assim, o ser humano desta civilização não é humilhado por ninguém da criação de Allah, porém, unifica a Allah, exaltado e altíssimo, na obediência e na adoração.
- A visão correta sobre o Criador, o Universo e o julgamento: Assim ocorre a sobrevivência na vida mundana e a construção deste universo com o olho na Vida Eterna, a morada do julgamento e da recompensa.
Assim, a unicidade é uma das particularidades da civilização islâmica, fato que contribuiu para o aumento do nível do ser humano e para a sua libertação da tirania e para o direcionamento das visões à Allah, o Único, o Criador do Universo e seu Mantenedor.
[1] Sulaiman Annadwi: (falecido em 1953 dC) Um dos sábios muçulmanos do continente indiano, foi juiz em Bhubal e teve outros cargos científicos. Ele editou a revista “Al Ma’arif”e tem vários livros escritos em língua urdu e alguns foram traduzidos para a língua turca. A sua obra mais famosa é “a biografia do profeta”, em dez volumes.
[2] Sulaiman Annadawi: Al Sirah Al Nabauyiah (A Biografia do Profeta) 4/523,524. Transferido de Abu Al Hassan Annadawi: Al Islam ua Atharuhu fil Hadharah ua Fadhluhu ála Al Inssaniah (O Islam, seu impacto sobre a civilização e sua virtude sobre a humanidade), p. 24-27.
[3] Idem.
[4] Relatado por Ahmad (23536) e Al Tabarani (14444). Veja: Majma’Al Zauaid 3/266 e Al Silsilah Al Sahihah (2700).