Os Direitos dos Animais na Civilização Islâmica

Os Direitos dos Animais na Civilização Islâmica

Dr. Ragueb El Serjani

Tradução: Sh Ahmad Mazloum

 

          O Islam tem uma visão real sobre os animais em geral, uma visão baseada em sua importância na vida, seu benefício para o ser humano e sua cooperação com ele na construção do Universo e continuação da vida. Prova disso é que várias suratas do Alcorão Sagrado foram denominadas com nomes de animais, como por exemplo: Surata da vaca, dos gados, da abelha, etc.

          O Alcorão Sagrado textualizou a nobreza do animal, o esclarecimento de sua importância e a definição de sua posição ao lado do ser humano. Disse Allah, o Altíssimo:

 

E os rebanhos, Ele os criou. Neles, tendes calor e proveitos, e deles comeis. E tendes neles beleza, quando ao anoitecer, os fazeis voltar aos apriscos, e quando, ao amanhecer, os levais para pascer. E eles carregam vossas cargas para um território, a que não chegaríeis senão com a dificuldade das almas. Por certo, vosso Senhor é Compassivo, Misericordiador (Annahl 5-8).

 

Alguns dos direitos dos animais

          Não molestar os animais é um de seus mais importantes direitos que foram estabelecidos pela lei islâmica. Jabir narra que o profeta (a paz esteja com ele) passou por um asno que tinha sido marcado em sua face e disse: “Que Allah amaldiçoe quem o marcou”[1]. E Abdullah ibn Omar disse: “Allah amaldiçoa quem esquarteja um animal”[2]. Isto significa que molestar o animal, castigá-lo, não ter amabilidade com ele, tudo isso é considerado um crime na visão da lei islâmica.

          No decreto dos direitos dos animais a lei do Islam também proibiu aprisionar o animal e fazê-lo passar fome. O mensageiro (a paz esteja com ele) disse: “Uma mulher foi castigada por causa de um gato, não o alimentou, e nem a deixou comer dos insetos da terra”[3]. E Sahl ibn Al Hanzhaliah disse: “O mensageiro de Allah passou por um camelo cujas costas já tocavam em sua barriga, então ele disse: ‘Temam a Allah sobre estes animais... utilizem-nos como montaria enquanto íntegros e se alimentem deles enquanto íntegros’”[4].

          O profeta (a paz esteja com ele) também ordenou que o animal seja utilizado na missão para a qual foi criado e definiu o objetivo principal do uso dos animais dizendo: “Cuidado para não tomarem das costas de vossos animais púlpitos, pois Allah os submeteu a vós para vos carregar para um território a que não chegaríeis senão com a dificuldade das almas”[5].

          Também foi estabelecido pela lei islâmica como um dos direitos dos animais a proibição de se tomar o animal como alvo para distração. Ibn Omar passou por alguns garotos de Quraish que ergueram um pássaro e todos o apedrejavam. Então, disse a eles: “Allah amaldiçoa quem faz isso, o mensageiro de Allah (a paz esteja com ele) amaldiçoou quem toma algo que tem alma como alvo”[6].

          E dentre os mais importantes direitos estabelecidos para o animal temos a obrigação de ter compaixão e carinho por ele. Este direito está inserido no dizer do mensageiro (a paz esteja com ele):

 

Quando um homem estava num caminho e sentiu forte sede encontrou um poço, desceu nele e bebeu. Em seguida, saiu e encontrou um cão a arquejar e lamber a terra de sede. O homem disse: Este cão chegou a sentir sede igual à que eu senti. Desceu ao poço novamente e encheu sua meia de água, a segurou em sua boca e subiu para dar água ao cão. Allah agradeceu-lhe perdoando-lhe os seus erros”. Os companheiros do profeta (a paz esteja com ele) disseram: “Ó mensageiro de Allah, nós temos recompensa sobre (o bom trato para com) os animais?” Ele respondeu: “Em todo ser vivo vós tendes recompensa”[7].

 

          E Abdullah ibn Omar disse:

 

Nós estávamos com o mensageiro de Allah em uma viagem e ele saiu para uma de suas necessidades, quando então observamos um pássaro com dois filhotes. Nós pegamos seus filhotes. O pássaro ficou a sobrevoar-nos e, quando o profeta (a paz esteja com ele) chegou, disse: “Quem amedrontou ela com seus filhotes? Devolvam-nos a ela”[8].

 

          A lei islâmica também ordenou que seja escolhido para os animais os pastos férteis. Se não houver devem ser transferidos para outro lugar. Sobre este direito, o profeta (a paz esteja com ele) diz:

 

Allah, bendito e exaltado seja, é Terno e ama a ternura, se agrada por ela, e auxilia nela como não auxilia na hostilidade. Portanto, ao montar estes animais, os façam descer em seus devidos locais, assim se a terra for seca montem-nos enquanto estiverem saudáveis...”[9]

          A lei islâmica ainda fez obrigatório outro nível mais alto e mais caro que a misericórdia no trato dos animais: o bom trato e o respeito de seus sentimentos. A mais nobre implementação desta conduta esta representada na proibição do mensageiro (a paz esteja com ele) de se castigá-los durante o abate para se alimentar de sua carne, seja o castigo físico - arrastando-os de má forma para o abate ou utilizando ferramenta de má qualidade - seja o castigo psicológico - fazendo-o avistar a faca, reunindo assim, mais de uma morte para o animal!

          Shaddad ibn Auss disse:

 

Memorizei duas coisas do mensageiro de Allah (a paz esteja com ele): Allah decretou a benfeitoria sobre todas as coisas, assim, se matardes mateis com benevolência, e se abaterdes abateis com benevolência. Afineis vossas lâminas e fazeis descansar o animal abatido”[10].

 

          E Abdullah ibn Ábbass narra que um homem deitou uma ovelha que ele desejava abater e ficou a afiar a sua lâmina. Então, o profeta (a paz esteja com ele) disse: “Tu queres matá-la duas vezes. Por que não afinastes sua lâmina antes de deitá-la”[11].

          Assim é o direito do animal no Islam, ele merece desfrutar de segurança, conforto e tranqüilidade enquanto estiver num ambiente no qual tremula a civilização islâmica.

 


[1] Relatado por Muslim: Capítulo sobre veste e adorno (2117). Al Bukhari (5196), Annassaí (4442) e Al Darimi (1973).

[2] Al Bukhari (5196), Annassaí (4442) e Al Darimi (1973).

[3] Al Bukhari (2236) e Muslim (2242).

[4] Abu Daud (2548), Ahmad (17626), Ibn Hibban (546) e outros.

[5] Abu Daud (2567) Al Baihaqi (10115). Al Albani disse: Correto. Veja: Al Silsilah Al Sahihah (22).

[6] Al Bukhari (5196) e Muslim (1958).

[7] Al Bukhari (5663) e Muslim (2244).

[8] Abu Daud (5268) e Al Hakim (7599) Al Albani disse ser autêntico. Veja: Al Silsilah Al Sahehah (25)

[9] Al Mowattá (1767) Al Albani disse: correto. Ver: Al Selsela Al Saheha (682).

[10] Relatado por Muslim (1955), Abu Daud (2815) e Al Tirmizhi (1409).

[11] Al Hakem (7563) e Al Albani disse: correto. Ver: Al Silsilah Al Sahihah (24).