A Irmandade na Sociedade Islâmica... Sua Importância e Seu Valor

A Irmandade na Sociedade Islâmica... Sua Importância e Seu Valor

 

A Irmandade na Sociedade Islâmica... Sua Importância e Seu Valor

Dr. Ragueb El Serjani

Tradução: Sh. Ahmad Mazloum

 

A sociedade islâmica é a grande família que é ligada pelos laços de amor, solidariedade, cooperação e misericórdia. É uma sociedade divina, humana, moral e equilibrada, onde os seus membros convivem com as nobres condutas, e se relacionam com justiça e conduta. Onde o adulto tem misericórdia do menor, o rico tem compaixão com o mais pobre, o forte pega pela mão do mais fraco. Esta sociedade é igual um só corpo: quando um órgão sente uma dor todo o corpo a sente, e igual à construção que se fortifica mutuamente.

A irmandade no Islam

        Lee Atwater[1], uma das referências destacadas da administração do presidente Reagan[2], escreveu na revista Life (mês de Fevereiro 1991): “... A minha doença me ajudou a perceber que o que estava perdido na sociedade estava perdido dentro de mim também: um pouco de amor e carinho, e um pouco de irmandade...”[3].

          A irmanização ou a irmandade é um dos mais esplêndidos valores humanos que o Islam estabeleceu para a proteção do sistema social. Ela é que faz da sociedade uma união coesa, é um valor que não existe em qualquer sociedade, nem antigamente nem atualmente. Ela significa que as pessoas vivam na sociedade amando uns aos outros, auxiliando uns aos outros, inter relacionados, reunidos pelo sentimento de uma só família, cuja parte dela ama a outra parte e a fortalece, cada um sente que a força de seu irmão é uma força para si, e que a fraqueza dele é uma fraqueza para si, e que ele é pouco sozinho, mas é forte junto de seus irmãos”[4].

O valor da irmandade na sociedade muçulmana

          Muitos são os textos que indicam o requinte deste valor e demonstra a sua importância e influência na construção da sociedade islâmica. Os textos também incentivaram tudo que fortifica a irmandade e proibiram tudo que a enfraquece. Allah, o Altíssimo, determinando a relação da irmandade com a crença, disse: “Os crentes são tão somente irmãos” (Al Hujurat: 10). Esta determinação ocorre sem consideração de raça, cor ou descendência. Desta maneira, uniram-se e se irmanizaram Salman, o persa; Bilal, o abissínio; e Suhaib, o romano aos seus irmãos árabes.

          O Alcorão Sagrado também caracterizou esta irmandade como uma graça de Allah: “E lembrai-vos da graça de Allah para convosco, quando éreis inimigos e Ele vos pôs harmonia entre os corações, e vos tornastes irmãos, por Sua graça” (Ali Imran: 103).

          E eis o mensageiro (a paz esteja com ele), depois de sua emigração a Madinah – quando se deu início a sociedade muçulmana – iniciou, imediatamente após a construção da mesquita, com a irmandade entre os muhajirin (imigrantes) e os anssar (socorredores). O Alcorão Sagrado registrou essa irmandade que deu o magnífico exemplo de amor e harmonia. Disse Allah, o Altíssimo: “E os que habitaram a morada e abraçaram a fé, antes deles, amam os que emigraram para eles, e não encontraram em seus peitos cobiça do que lhes foi concedido. E preferem-nos a sim mesmos, mesmo estando em necessidade” (Al Hachr: 9).

          E demonstrando uma imagem destes esplendidos exemplos de amor e desprendimento por causa desta irmandade, um irmão dos anssar oferece ao seu irmão a metade de sua riqueza e uma de suas duas esposas, para ele desquitar-se dela! Anas ibn Malik narra que Abdurrahman ibn Áuf chegou a Madinah, então o profeta (a paz esteja com ele) “irmanizou” entre ele e Saad ibn Arrabií Al Anssari. Este ofereceu a ele dividir sua família e sua riqueza com ele pela metade. Então, Abdurrahman disse: “Que Allah abençoe a tua família e a tua riqueza. Me guie ao mercado...”[5].

Por causa da grande missão da irmandade na construção da sociedade, a advertência de Allah sobre toda ação que possa comprometer a irmandade muçulmana é clara e evidente. Por isso, disse Allah, o Altíssimo, proibindo a arrogância e a zombaria: “Ó vós que credes, que um grupo não escarneça de outro grupo – quiçá, este seja melhor que aquele -, nem mulheres de mulheres – quiçá estas sejam melhores que aquelas ...” (Al Hujurat: 11). Também proibiu a exposição dos defeitos e a ostentação com a descendência, dizendo: “E não vos difameis mutuamente, e não vos injurieis com apelidos depreciativos. Que execrável a designação de perversidade, depois da fé! E os que não se arrependem, esses são os injustos” (Al Hujurat: 11). Também proibiu a maledicência, a fofoca e a desconfiança, que são dos piores fatores de destruição das sociedades. Disse Allah, o Altíssimo: “Ó vós que credes, evitai muitas das conjecturas. Por certo, uma parte das conjecturas é pecado. E não vos espieis. E não faleis mal, uns dos outros, pelas costas. Algum de vós gostaria de comer a carne de seu irmão morto? Pois, odiá-la-íeis! E temei a Allah. Por certo, Allah é Remissório, Misericordiador” (Al Hujurat: 12).

          E se ocorrer um desentendimento ou distanciamento, o Islam buscou incentivar tudo que une entre os corações e fortifique a união através do convite à conciliação entre os oponentes. O profeta (a paz esteja com ele) disse: “Quereis que vos informe um nível melhor que o nível do jejum, oração e doação?!” Disseram: “Sim, ó mensageiro de Allah”. Disse: “A conciliação! E a discórdia aniquila”[6].

          Ainda mais, o Islam permitiu a mentira para a conciliação entre dois oponentes porque isso dá força para a sociedade muçulmana e evita que ela se divida. O profeta (a paz esteja com ele) disse: “O mentiroso não é aquele que concilia entre as pessoas, difundindo o bem ou dizendo o bem”[7].

Os direitos e deveres da irmandade

          Além disso, o Islam dispôs sobre a irmandade uma série de direitos e deveres que são cumpridos por todo muçulmano de acordo com esta relação, sendo ele encarregado de cumpri-los considerado-os uma dívida sobre a qual será julgado e uma responsabilidade que deve ser realizada. O profeta (a paz esteja com ele) esclareceu isso ao dizer:

Não invejais uns aos outros, não incentiveis o mal e a discórdia, não odieis uns aos outros, não dei as costas uns aos outros, que ninguém venda sobre a venda de outro (vender anulando a venda de outra pessoa), e sejais, servos de Allah, irmãos. O muçulmano é irmão do muçulmano, não o injustiça, não o desaponta, não o menospreza; a piedade está aqui – e apontou ao seu coração três vezes -, suficiente maldade tem quem menospreza seu irmão muçulmano. Todo muçulmano perante outro muçulmano é sagrado: seu sangue, seus bens e sua honra[8].

          Sobre o dizer do profeta (a paz esteja com ele): “e não o desaponta”, os sábios disseram: “O desapontamento é deixar de auxiliar e apoiar, e significa: se ele pedir o seu auxílio para a defesa de uma injustiça e tarefa similar, é seu dever auxiliá-lo se ele puder, e não tiver um argumento legal”[9].

          É narrado por Anas que o mensageiro Allah (a paz esteja com ele):

 

Socorra o seu irmão, seja ele injusto, seja injustiçado. Um homem disse: “Ó mensageiro de Allah, o socorrerei se estiver sendo injustiçado. Mas se estiver sendo injusto, como irei socorrê-lo?”. O profeta (a paz esteja com ele) respondeu: “O proíbe de ser injusto. Este é o seu socorro”[10].

          Então, conseguimos encontrar uma sociedade humana que é forte o bastante para obrigar cada indivíduo a andar por causa da necessidade de seu irmão? A apoiá-lo se for injustiçado? A impedi-lo de cometer a injustiça se for injusto?!

          Isto só ocorre na sociedade muçulmana, onde existe este alto nível de irmandade e unidade de sentimento, onde cada indivíduo trabalha para aliviar a angústia de seu irmão e solucionar os seus problemas, tem com ele atitude de apoio e auxílio, nunca atitude de inveja e ódio e sempre está munido de positivismo. Assim, a irmandade é a base e o título da construção e da coesão da sociedade muçulmana.

 

 


[1] Lee Atwater (1951 – 1991): Conselheiro político e estratégico do partido republicano americano, foi conselheiro político do presidente Reagan e do presidente Bush pai.

[2] Ronald Reagan (1911 – 1989): 40º presidente americano no período (1981 – 1989). Era um ator coadjuvante fracassado antes de iniciar sua vida política. Foi um presidente querido e popular. Foi reeleito com maioria absoluta em 1984.

[3] Transferido de Abdul Hayi Zallum: O Novo Império do Mal, p. 397.

[4] Yussuf Al Qardhaui: Malamih Al Mujtama’Al Muslim Allazhi Nanshuduhu (As marcas da sociedade muçulmana que almejamos) p 138.

[5] Al Bukhari: Kitab fadhaíl Al Sahabah (Livro das Virtudes dos Sahabah) (3722), Al Tirmizhi (1933), Annassaí (3388) e Ahmad (129990.

[6] Abu Daud: Kitab Al Adab (4919), Al Tirmizhi (2509), Ahmad (27548). Autenticado por Al Albani, veja: Sahih Al Jami’(2595).

[7] Al Bukhari da narração de Um Kalthum Bin Úqbah: Kitab Al Sulh (Livro da Conciliação) (2546), e Muslim: Kitab Al-Birr Was-Silah- wal-Adab (O livro das virtudes, boas maneiras e união dos laços de parentesco) (2605).

[8] Muslim, da narração de Abu Hurairah: Kitab Al-Bir Was-Silah- wal-Adab (O livro das virtudes, boas maneiras e união dos laços de parentesco) (2564), Ahmad (7713) e Al Baihaqi em sua obra Al Sunan Al Kubra (11830).

[9] Al Minhaj Fi Sharh Sahih Muslim Ibn Al Hajjaj (O Sistema na Interpretação da Coletânea de Muslim Ibn Al Hajjaj) 16/120.

[10] Al Bukhari: Kitab Al Ikrah (Livro da Coesão) (6552), Al Tirmizhi (2255), Ahmad (11967) e Al Darimi (2753).